Fidel Castro anuncia que não aspirará nem aceitará a reeleição
Fidel Castro anuncia que não aspirará nem aceitará a reeleição
Cedido por www.prensalatina.com.br
Havana, 19 fev (PL) O presidente Fidel Castro anunciou que não aspirará nem aceitará o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe na sessão do Parlamento cubano, prevista para o próximo 24 de fevereiro.
"Não me despeço de vocês. Desejo somente combater como um soldado das idéias. Seguirei escrevendo sob o título “Reflexões do companheiro Fidel”. Será uma arma a mais do arsenal com a qual se poderá contar. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso", enfatiza o líder da Revolução Cubana numa mensagem divulgada hoje.
A Prensa Latina transmite a seguir o texto na íntegra:
Mensagem do Comandante em Chefe
Queridos compatriotas:
Prometi-lhes sexta-feira na passada, 15 de fevereiro, que na próxima reflexão abordaria um tema de interesse para muitos compatriotas. A mesma adquire desta vez forma de mensagem.
Chegou o momento de postular e eleger ao Conselho de Estado, seu Presidente, Vice-presidentes e Secretário.
Desempenhei o honroso cargo de Presidente ao longo de muitos anos. Em 15 de fevereiro de 1976 aprovou-se a Constituição Socialista por voto livre, direto e secreto de mais de 95% dos cidadãos com direito a votar. A primeira Assembléia Nacional constituiu-se em 2 de dezembro desse ano e elegeu o Conselho de Estado e sua Presidência. Antes tinha exercido o cargo de Premiê durante quase 18 anos. Sempre dispus das prerrogativas necessárias para levar adiante a obra revolucionária com o apoio da imensa maioria do povo.
Conhecendo meu estado crítico de saúde, muitos no exterior pensavam que a renúncia provisória ao cargo de Presidente do Conselho de Estado em 31 de julho de 2006, que deixei nas mãos do Primeiro Vice-presidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. O próprio Raúl, quem adicionalmente ocupa o cargo de Ministro das F.A.R. por méritos pessoais, e os demais parceiros da direção do Partido e o Estado, foram renuentes em considerar-me afastado de meus cargos apesar do meu estado precário de saúde.
Minha posição era incômoda frente a um adversário que fez todo o imaginável para se desfazer de mim e em nada me agradava comprazê-lo.
Mais adiante pude atingir de novo o domínio total de minha mente, a possibilidade de ler e meditar muito, obrigado pelo repouso.Acompanhavam-me as forças físicas suficientes para escrever longas horas, as quais compartilhava com a reabilitação e os programas pertinentes de recuperação. Um elementar sentido comum indicava-me que essa atividade estava a meu alcance. Por outro lado preocupou-me sempre, ao falar da minha saúde, evitar ilusões que, no caso de um desenlace adverso, trariam notícias traumáticas ao nosso povo no meio da batalha. Prepará-lo para minha ausência, psicológica e politicamente, era minha primeira obrigação após tantos anos de luta. Nunca deixei de assinalar que se tratava de uma recuperação “não isenta de riscos”.
Meu desejo foi sempre cumprir o dever até o último fôlego. É o que posso oferecer.
A meus entranháveis compatriotas, que me deram a imensa honra de me eleger recentemente como membro do Parlamento, em cujo seio devem-se adotar acordos importantes para o destino de nossa Revolução, comunico- lhes que não aspirarei nem aceitarei - repito- não aspirarei nem aceitarei, o cargo de Presidente do Conselho de Estado e Comandante em Chefe.
Em breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Diretor do programa Mesa Redonda da Televisão Nacional, que a minha solicitação foram divulgadas, incluíam- se discretamente elementos desta mensagem que hoje escrevo, e nem sequer o destinatário das cartas conhecia meu propósito. Confiava em Randy porque o conheci bem quando era estudante universitário de Jornalismo, e me reunia quase todas as semanas com os principais representantes dos estudantes universitários, do que já era conhecido como o interior do país, na biblioteca da ampla casa de Kohly, onde se albergavam. Hoje todo o país é uma imensa Universidade.
Parágrafos selecionados da carta enviada a Randy em 17 de dezembro de 2007:
“Minha mais profunda convicção é que as respostas aos problemas atuais da sociedade cubana, que possui uma média educacional próxima a 12 séries, quase um milhão de graduados universitários e a possibilidade real de estudo para seus cidadãos sem discriminação alguma, requerem mais variantes de resposta para cada problema concreto que as contidas num tabuleiro de xadrez. Nem um detalhe apenas pode ser ignorado, e não se trata de um caminho fácil, se é que a inteligência do ser humano numa sociedade revolucionária tem de prevalecer sobre seus instintos.”
“Meu dever elementar não é aferrar-me a cargos, nem muito menos obstruir o passo de pessoas mais jovens, senão contribuir experiências e idéias cujo modesto valor prove da época excepcional em que vivi.”
“Penso como Niemeyer que há de ser conseqüente até o final.”
Carta do 8 de janeiro de 2008:
“...Sou partidário decidido do voto unido (um princípio que preserva o mérito ignorado). Foi o que nos permitiu evitar as tendências de copiar o que vinha dos países do antigo campo socialista, entre elas o retrato de um candidato único, tão solitário como ao mesmo tempo tão solidário com Cuba. Respeito muito aquela primeira tentativa de construir o socialismo, graças a qual pudemos continuar o caminho escolhido.”
“Tinha muito presente que toda a glória do mundo cabe num grão de milho”, reiterava naquela carta.
Trairia, portanto, minha consciência ocupar uma responsabilidade que requer mobilidade e entrega total, que não estou em condições físicas de oferecer. Explicarei sem dramatismo.
Felizmente nosso processo ainda conta com quadros da velha guarda, junto a outros que eram muito jovens quando se iniciou a primeira etapa da Revolução. Alguns quase crianças se incorporaram aos combatentes das montanhas e depois, com seu heroísmo e suas missões internacionalistas, encheram ao país de glória. Contam com a autoridade e a experiência para garantir a substituição. Nosso processo dispõe igualmente da geração intermédia, que aprendeu junto a nós os elementos da complexa e quase inacessível arte de organizar e dirigir uma revolução.
O caminho sempre será difícil e requererá do esforço inteligente de todos. Desconfio das vias aparentemente fáceis da apologética, ou da auto-flagelação como antítese. Preparar-se sempre para a pior das variantes. Ser tão prudentes no sucesso como firmes na adversidade é um princípio que não se pode esquecer. O adversário a ser derrotado é sumamente forte, mas o mantivemos na linha durante meio século.
Não me despeço de vocês. Desejo somente combater como um soldado das idéias. Seguirei escrevendo sob o título “Reflexões do companheiro Fidel” . Será uma arma a mais do arsenal com a qual se poderá contar. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso.
Obrigado,
Fidel Castro Ruz
18 de fevereiro de 2008
5 e 30 p.m.
fgg/pgh
PL-14