Ganha Ollanta contra o fujimorismo no Peru

É verdade que a vitória de Humala significa o avanço de uma integração mais além do ponto de vista do mercado. Mas o novo presidente do Peru já anunciou um governo de consertação, e se sentará, ainda antes de ser empossado, com autoridades de Washington, com quem pretende manter um “diálogo saudável”.

“Ele foi mais competente que eu”, afirmou o ex-presidente Lula em encontro com o já eleito presidente do Peru, Ollanta Humala da coalizão Gana Peru, em São Paulo, que depois de perder as eleições em 2006 para o atual presidente peruano Alan García, conseguiu se eleger presidente da República do Peru no dia 5 de junho, com pouco mais de 51% dos votos.

A marcada divisão entre a esquerda nacionalista e a extrema direita fujimorista teria atraído setores importantes da sociedade conservadora peruana para o lado mais progressista. Foi uma vitória da democracia, apesar da campanha midiática de medo orquestrada por setores ligados ao fujimorismo e serviços de inteligência.

Paralelo a isso, setores pró-democracia do Peru lançaram uma campanha chamada Fujimoris Nunca Más, que rechaçava o possível retorno ao poder de uma das eras mais corruptas e uma das políticas mais represivas da história recente do país.

Antes mesmo de serem anunciados os resultados oficiais, Humala compareceu à Praça 2 de Maio. em Lima, e se autoproclamou vencedor das eleições. Alguns falaram em cantar vitória, mas de fato o triunfo de Humala estava garantido, apesar da acirrada votação.

Os votos que faltavam por contabilizar, para o então resultado final, provinham da região sul e centro do país, que compreende a Serra, região andina onde há forte presença da mineração, e a região amazônica, majoritariamente camponesa. Ambas as regiões nunca tiveram acesso ao alto crescimento econômico do Peru, que em 2010 foi mais de 8%, e cuja média anual foi de 5% nos últimos dez anos.

Estas regiões pobres do Peru são fundamentais para entender a realidade social deste país, e quais serão os desafios que Ollanta Humala terá pela frente a partir de 28 de julho.

Segundo um informe da Organização Internacional do Trabalho, mais de três milhões de menores trabalham no Peru, sendo que destes, mais de dois milhões realizam trabalhos perigosos, muitos deles nas minas da Serra Peruana. Calcula-se que mais de dez milhões de peruanos vivem atualmente na pobreza, em um país com pouco menos de 30 milhões de habitantes.

Tão importante crescimento econômico parece não ter chegado à grande maioria dos peruanos, o que nos últimos anos gerou uma série de conflitos sociais que paralisaram atividades importantes no país. Poucos dias antes do segundo turno eleitoral, moradores e trabalhadores rurais da região de Puno, fecharam a passagem fronteiriça com a Bolívia, em uma medida de pressão contra uma concessão a uma empresa mineradora. Alguns relatórios afirmam que no Peru existem mais de 230 conflitos ativos ou latentes, majoritariamente nas regiões pobres, que ficaram total e completamente à margem do crescimento econômico peruano.

Ollanta Humala promete inclusão, e para isso será preciso avançar em programas concretos de curto, médio e longo prazo, assim como dar resposta a esses conflitos, o que significa ter que enfrentar diversos interesses da burguesia peruana. Uma das principais propostas de campanha do nacionalista foi aumentar o imposto sobre a mineração, uma das principais fontes de ingresso da economia peruana, e aumentar o orçamento do estado destinado a programas sociais de inclusão.

É verdade que a vitória de Humala significa o avanço de uma integração mais além do ponto de vista do mercado. Mas o novo presidente do Peru já anunciou um governo de consertação, e se sentará, ainda antes de ser empossado, com autoridades de Washington, com quem pretende manter um “diálogo saudável”. Os vacilos de Humala certamente se explicam pela alta votação de mais de 48% para sua rival, o que demonstra o forte apoio da oligarquia peruana ao setor controlado por seu pai, o ex-ditador Alberto Fujimori, hoje condenado por crimes contra a humanidade. Dependerá de uma forte coordenação interna, e do manejo das relações com os setores que continuarão exercendo pressão sobre a política do país. Esta vitória já significa fechar uma porta à ingerência imperialista descarada de García ou Fujimori, mas tudo indica que o futuro mandatário seguirá um caminho parecido ao do PT no Brasil, ficando muito aquém das necessidades do povo peruano.

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