Colômbia: a difícil luta pela paz

Movimento social se reuniu na APEOESP em São Paulo para conhecer propostas do II Fórum pela Paz na Colômbia

No dia 12 de março, foi apresentada na APEOESP a proposta do II Fórum pela Paz na Colômbia, a ser realizado entre os dias 05 e 07 de junho em Montevidéu, além da palestra "Processo de paz: diálogos, lutas e contradições" desenvolvida por Sergio Quintero Londoño, integrante da Marcha Patriótica - Capítulo Brasil. Este fórum busca discutir a construção da paz no país a partir de quatro eixos temáticos: Imperialismo e militarismo na América Latina; Direitos Humanos; Terra e território; e Paz com justiça social.


De acordo com Londoño, os diálogos pela paz não se limitam às negociações em Havana, uma vez que toda a população está envolvida neste processo. Depois de ter traçado um profundo histórico, abarcando todo o século XX na Colômbia, o palestrante deixou claro que a violência no país é um elemento estrutural, presente, por exemplo, no Massacre das Bananeiras de 1928 ou no Bogotazo vinte anos mais tarde. A relação entre as oligarquias agrárias e o paramilitarismo de extrema direita tampouco é recente: no final da década de 1940, seria formado o grupo ilegal dos "pájaros", o qual, ao lado do Exército, exterminou milhares de camponeses liberais. Estes passariam a estruturar núcleos de autodefesa, precursores das guerrilhas.


As tentativas de construção da paz são também anteriores às reuniões de 2012 em Oslo: em 1984, nos Acordos de La Uribe, em Meta, as FARC-EP sentaram-se com o então presidente Belisario Betancur. Ao lado de outros movimentos sociais, a guerrilha organizaria o partido Unión Patriótica, que representou um profundo questionamento à democracia bipartidária (liberais x conservadores) vigente. Por este motivo, entre quatro e cinco mil pessoas seriam assassinadas pelos paramilitares e pelo Exército, o que representou um evidente fim desta primeira tentativa de construção da paz. Mais de uma década depois, tiveram início os diálogos de El Caguán, depois de a guerrilha ter experimentado um crescimento vertiginoso no decorrer dos anos 1990. Novamente, o acordo seria quebrado por parte dos setores do Estado, principalmente com a assinatura do Plano Colômbia, projeto de controle militar estadunidense da região. Depois do governo Pastrana, a ascensão de Álvaro Uribe à presidência representou o fortalecimento da presença estadunidense e dos vínculos do Estado com o paramilitarismo fascista, além de crimes de guerra como o escândalo dos "falsos positivos" e violações da soberania de outros países, como a participação na tentativa de golpe contra a Venezuela em 2002.


Londoño avaliou que os interesses do Estado nos diálogos atuais são puramente econômicos: devido ao avanço acelerado do neoliberalismo, a Colômbia acabou por se desindustrializar e depender de bens primários. O problema é que as regiões mais ricas em minérios estão controladas pela resistência. As FARC-EP, por outro lado, mantêm as reivindicações feitas nos processos de paz anteriores: reforma agrária, substituição dos cultivos ilícitos, fim da guerra e participação política real. Neste sentido, enquanto a guerrilha declarou vários cessa-fogos de maneira unilateral, o governo Juan Manuel Santos desrespeita reiteradamente o diálogo, como se revelou com o recente assassinato do comandante Gilberto Becerro.


O evento aliás deu a conhecer as conclusões da comissão técnica organizada em Havana sobre o conflito, segundo a qual as FARC-EP não são narcotraficantes, tampouco terroristas e 80% das violações aos direitos humanos foram cometidas pelo Estado ou por paramilitares.


Por fim, destacou a divergência profunda existente sobre a referendação dos diálogos. Enquanto o Estado pretende restringir a participação social a um referendo, a guerrilha exige uma assembleia nacional constituinte. Os movimentos sociais acreditam que a única forma de avançar no sentido de uma participação mais efetiva, como propõe a guerrilha, é por mobilizações nas ruas e uma grande manifestação está sendo organizada para o dia 09 de abril.


Em conclusão, os esforços pela paz na Colômbia estão inseridos num contexto de acirramento das profundas contradições latino-americanas e a própria grande imprensa do país reconhece que o fluxo das forças reacionárias leva a que os diálogos em Havana fiquem mais lentos. Para o avanço efetivo da paz com justiça social, Nossa América deve constituir um bloco coeso e denunciar todas as tentativas imperialistas de dividir e, assim, enfraquecer nossos povos.

SUCURSAL SÃO PAULO