Pronunciamento do MRTA acerca do massacre na residência do embaixador japonês.

O Movimento Revolucionário Tupac Amaro se pronuncia a 10 anos do massacre na residência do embaixador japonês.

MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPAC AMARU 
 

A DEZ ANOS DO MASSACRE NA RESIDÊNCIA DO EMBAIXADOR JAPONES EM LIMA…

O MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPAC AMARU PRONUNCIA-SE 
 

À opinião pública Internacional

Às organizações sociais, populares, progressistas e revolucionárias do mundo.

Ao povo peruano. 

Estando por cumprir-se 10 anos de retomada da residência do embaixador do Japão em Lima em 22 de abril, data na que foram massacrados os 14 membros do comando “Edgar Sánchez”, o Movimento Revolucionário Túpac Amaru manifesta o seguinte: 

1:  O MRTA é uma organização revolucionária que surge da história das lutas do povo peruano. O MRTA não surge do vento. Os homens e mulheres que o conformam, seus heróis e mártires, seus presos e militantes provimos de uma imensa diversidade de organizações sociais de base; vimos das entranhas de nosso próprio povo. 

2:  Na década dos 90 instaurou-se no Peru, através de uma feroz ditadura, um regime de caráter neoliberal. Esta ditadura aprofundou a privatização do Estado, suprimiu direitos que os trabalhadores peruanos conquistaram com históricas lutas e instaurou um governo que era a resposta da burguesia peruana, em seu afã de lutar contra o movimento popular e insurgente. Uma ditadura narco-terrorista de caráter contra-insurgente, que implantou um sistema de extremismo neoliberal. 

3:  Para conseguir tal objetivo, não duvidou em matar, desaparecer, torturar. Também criou um sistema judicial e penitenciário de vingança que procurou avariar a moral e a saúde dos revolucionários tupacamaristas, levando-os a reclusões de 23 horas e meia durante muitos anos. 

4:  Frente a esta situação, o MRTA não podia permanecer indiferente. Não podia ver passivamente como centenas de companheiros e companheiras eram vítimas das masmorras da ditadura fujimorista. Também não podia ser testemunha muda da fome e miséria que golpeavam nosso povo. Não podíamos ser espectadores da soberbia e corrupção de uma ditadura que tinha como única política o arrasamento. Não podíamos ser espectadores e nunca o seremos. 

5:  Em 22 de abril de 1997, apareceram dois rostos do Peru. Apareceu o rosto vil dos herdeiros da colônia. Dos herdeiros daqueles que mandaram esquartejar Túpac Amaru. Apareceu naquele dia o rosto da infâmia, da traição.

Mas não foi o único rosto do Peru que apareceu para a história naquela data. Apareceu o rosto da dignidade do povo. Apareceu o rosto de um povo que combate desde sempre pela vida, ainda que isso lhe custe a própria vida. A vida e a morte se enfrentam. A libertação e a opressão se enfrentam. Catorze guerrilheiros, homens e mulheres; jovens, gente do povo, enfrentando uma força militar indigna, que obedecia às ordens de um ditador. 

6:  Nesta data, o MRTA recorda seus companheiros caídos na luta pela justiça social, a independência, a democracia plena e o socialismo. Mas os recordamos na ação. Acreditamos que a política é uma atividade criadora tal qual o propunha nosso amauta José Carlos Mariátegui, e que esta deve estar enfocada, nas atuais circunstâncias, em desenvolver espaços de encontro dos setores populares, progressistas e revolucionários. No desenvolvimento de espaços de poder popular em todos os terrenos. Cremos no autogoverno do povo. O poder é para o povo, é do povo, e não para um partido. Essa é nossa aposta. 

7:  É por isso que chamamos à unidade. Fazemos um chamado à esquerda peruana, aos movimentos sociais, aos sectores progressistas e aos que hoje levantam bandeiras nacionalistas a unir esforços e dar uma mostra de maturidade que nosso povo saberá reconhecer. Unidade para estabelecer uma plataforma política que vá além das conjunturas eleitorais e que seja expressão de uma construção real e radicalmente democrática. O MRTA sempre apoiou, apóia e apoiará essas iniciativas.  

Para isso propomos a seguinte PLATAFORMA POLITICA que inclua os seguintes pontos: 

a.- Refundação da república. Concretizemos a segunda independência superando a república oligárquica (criolla), colonial, excludente, centralista, que dominou por séculos, apostando em um estado ético, respeitoso e promotor dos direitos humanos. Para tanto, propomos a Convocação a uma nova Assembléia Constituinte que ponha fim à Constituição imposta pela ditadura neoliberal e onde seja o próprio povo quem exerça o PODER CONSTITUINTE, que recolha e promova os valores históricos de nosso povo bem como o respeito das formas comunitárias de convivência e organização da vida social. 

b.- Defesa da soberania nacional, traduzida numa política latino-americanista, onde os povos decidam autonomamente sobre seu futuro. Para isso, um primeiro passo é exigir a retirada das bases militares norte-americanas de nosso país e da América Latina, de tal forma que os povos exerçam sua soberania sem ameaças de nenhuma índole, desenhando assim uma política de justiça social. Neste sentido, defendemos:

     1. A estatização dos hidrocarburetos.

      2. Defesa de nossos recursos naturais, especificamente defesa da água, de nossos bosques e biodiversidade, inclusive nossa folha de coca.

      3.  Defesa da Amazônia.

     4.  Respeito, defesa e promoção da diversidade cultural e étnica.  
 

c.- Pelo aprofundamento, expansão e radicalização da democracia: democracia direta, democracia de bases, que desbarate a pantonímia da democracia representativa burguesa. 

d.- Por um Estado Nacional que promova o emprego digno, de respeito dos direitos dos trabalhadores e que impulsione um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, em tal sentido sustentamos: Não ao TLC! 

e.- Solidariedade ativa com as comunidades em luta afetadas pelos abusos, poluição e depredação ecológica causadas pelas multinacionais mineiras. Do mesmo modo, nossa solidariedade com o valoroso movimento cocalero.   

f.- Inclusão dos setores dignos, patrióticos e honestos das Forças armadas e policiais em uma plataforma popular pela libertação nacional. Aos militares herdeiros do exército popular de Cáceres e da resistência à invasão chilena junto aos operários, camponeses, indígenas, desempregados, mulheres, a uma grande frente articuladora das lutas antineoliberais no Peru. 
 

8:   Dez anos após a tomada da residência do embaixador japonês por parte dos combatentes tupacamaristas e há mais de duas décadas do início de nosso trabalho político e militar, o Peru segue sendo uma sociedade marcada pela exclusão; com uma pobreza galopante, com níveis de corrupção intoleráveis e onde a impunidade governa. Muitas coisas podem ter mudado no Peru e, no entanto, não mudou o fundamental, que é a relação de exploração, de domínio e opressão contra nosso povo.  

Há 10 anos do massacre de nossos companheiros devemos dizer que o MRTA segue vivo. Que o exemplo de nosso comandante Néstor Cerpa nos guia e fortalece. O MRTA resistiu e pôde dar o golpe mais forte (junto com a marcha dos 4 Suyos) que recebeu a ditadura narco-terrorista e de caráter contra insurgente de Alberto Fujimori. O MRTA vive e continua lutando. Consideramos que tanto o governo de Alejandro Toledo quanto o atual, de Alan García, não são mais que a continuidade do projeto neoliberal extremista implantado pela ditadura fujimorista, que condena à fome e que marginaliza as maiorias de nosso povo. Diante dessa situação, nós, os tupacamaristas, reiteramos que “enquanto haja fome, miséria e opressão… aqui ninguém se rende!”.   

A entrega e a coragem dos colegas caídos na residência do embaixador Japonês em Lima é um elemento que nos impulsiona e alenta na construção de um amanhã melhor para todos os peruanos e nos assinala o dever de jamais esquecer-nos de nossos companheiros presos. Jamais os esquecemos. Sabemos que mais cedo que tarde sairão dos muros por trás dos quais se pretende que sejam confinados ao esquecimento. 

Cremos na justiça… na justiça dos povos. E sabemos que estes saberão dar a sanção aos que lhes negaram o direito à vida que nosso povo merece. 

Chamamos à mobilização popular, à organização para a construção de alternativas criadoras frente ao neoliberalismo, como expressão atual do capitalismo. 

Hoje, como ontem, seguimos considerando que a liberdade se conquista lutando, e a luta não a inventa o MRTA; o MRTA é expressão dessa luta: são nossos povos os que nos ensinam que a luta é o caminho. 

Recordamos este 22 de abril como o dia em que o Peru generoso, o Peru modesto, o Peru histórico e solidário soube derrotar o Peru dos ricos, o Peru da traição. A morte heróica de nossos companheiros é um grito desse Peru que não acaba de nascer. É o grito de dor e de esperança de um povo que jamais se pôs de joelhos e que seguirá sua luta combatente até atingir sua libertação. 

Há espaço para a esperança. 

VIVA O COMANDO EDGAR SANCHEZ! 

COMANDANTE NESTOR CERPA CARTOLINI… VIVE, VOLTA, VENCERÁ! 

SEM LUTAS… NÃO HÁ VITÓRIAS! 

COM AS MASSAS E AS ARMAS … PÁTRIA OU MORTE… VENCEREMOS! 

VIVA O POVO PERUANO! 
 
 

MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPAC AMARU 

DIREÇÃO ESTRATÉGICA 

ABRIL 2007 - PERU