Carta do Estado Maior das FARC-EP por ocasião do 47° aniversário da insurgência colombiana

Viva Manuel!

Colombianas e colombianos, irmãs e irmãos da América Latina:

Neste mês de maio completamos 47 anos da barbárie imposta a nossa pátria, 47 anos da morte, perseguição implacável, prisões injustas, negação dos direitos fundamentais dos colombianos, de roubo das terras e moradias dos camponeses, de deslocamentos violentos, de enriquecimentos ilícitos e de empobrecimento tão violento como a pobreza mesma, causados pelos diversos governos que têm exercido o poder apenas para uma opulenta minoria.

47 anos de violência continuada desde o dia em que o bipartidismo liberal-conservador personificado no excludente, corrupto e infame pacto de alternância presidencial da Frente Nacional, no governo de Guillermo León Valencia, tomou a decisão de enveredar o curso histórico da pátria pelos tenebrosos caminhos da barbárie, lançando a mais grande ofensiva militar que até aquele momento se tinha conhecimento na América Latina, com mais de 16.000 tropas da força armada governamental e orientada pela Casa Branca, em sua estratégia de controle geopolítico do Continente para conter os ventos de dignidade e independência que sopravam desde a revolução cubana, articulado no Plano LASO (Latin American Security Operation) para aniquilar os camponeses de Marquetalia.

A violência e o permanecer de joelhos perante o amo ianque, tem sido por excelência a conduta política da oligarquia governante na Colombia Há verdades que incomodam as classes que detêm o poder e seus porta-vozes, como aquela de que "a violência é a característica principal de sua conduta política". E por isso, utilizando seus grandes meios de comunicação desde sempre fizeram de suas armadilhas e mentiras "verdades oficiais", tais como aquela da justificativa para agredir militarmente os camponeses da região agrária de Marquetalia, consistente em que aí existia "uma república independente".

 

Nessa ocasião, a quadrilha da desrazão no Congresso da República, encabeçada pelo senador ultra-conservador, Álvaro Gómez Hurtado, argumentou que o terror tomaria conta do país se não fosse eliminado com sangue e fogo o foco rebelde formado pelos camponeses marquetalianos.

 

Foi inútil o clamor nacional e até internacional pela solução pacífica através do diálogo. Por isso, essa agressão militar da oligarquia é a responsável pelo surgimento da luta guerrilheira encarnada nas FARC-EP, e que cresce mais e mais, acompanhada pelo amor, esperanças, iniciativas e, também, críticas. dos colombianos.

 

Desde Marquetalia até hoje, nas FARC-EP jamais renunciamos a solução política do conflito social e armado, conflito que a oligarquia colombiana incrementa a cada período governamental, porque a busca da Paz com Justiça Social é parte da nossa gênese e razão da nossa luta, ademais, temos a certeza de que é com a participação do povo com suas ações e iniciativas que a construiremos.

 

É com ele na luta pela Reforma Agrária, por efetivas políticas de saúde nas quais estejam primeiro o homem e a mulher, e não as contas bancárias dos empórios econômicos da corrupção, uma luta por estratégias sociais que priorizem moradias dignas no campo e nas cidades, por educação para todos, democracia plena para a convivência nacional e o exercício pleno da política de defesa.

 

Só a mobilização de todos os setores da sociedade colombiana conquistará a solução política do conflito, que pode ser iniciado com o Acordo Humanitário que libere todos os presos políticos que estão nas cárceres do regime e os prisioneiros de guerra em poder da Insurgência.

 

Antes do governo ordenar o ataque contra Marquetalia, os camponeses fizeram ouvir sua voz por saídas de paz e de bem-estar, mas, a ambição bipartidista da Frente Nacional desatou a guerra que desde então ensangüenta o país.

 

Todas as forças foram lançadas contra a resistência dirigida pelos legendários Comandantes Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Isaías Pardo, Hernando González Acosta, Joselo Lozada, Ciro Trujillo, Miguel Pascuas, Fernando Bustos, Jaime Guaracas, Miriam Narváez e os 46 combatentes da fecunda gesta Marquetaliana e da insurgência que hoje representamos as FARC-EP.

 

E prometeram que em poucas semanas se daria seu aniquilamento físico e com ele o fim da resistência. Desde então, as ameaças e o "tombado em combate", "fugiu gravemente ferido", ou "lhe estamos respirando no seu pescoço", "em cinco meses os derrotaremos", ou "necessito outros quatro anos para derrotá-los", ou "este é o fim do fim" tem sido o argumento para justificar o exponencial gasto militar, que levou a força pública armada a mais de 500 mil efetivos e que consumirá a quinta parte do orçamento nacional no próximo ano.

 

E que, ademais, recebeu quase todos os dez bilhões de dólares da ajuda norteamericana do fracassado Plano Colombia, ratificando a falácia da tese governamental do "pós-conflito" e aprofundando as desigualdades que hoje deixam mais de 30 milhões de pobres. No quase meio século de confrontação armada, temos colocado todas nossas energias na busca da solução política do conflito, mas os setores do poder, que enriquecem mais e mais, ao amparo dos privilégios da guerra, têm disparado seus arsenais para que essa solução seja possível.

 

Os Acordos de La Uribe, assinados há 27 anos e que foram esperança de paz e de prosperidade para a nação, foram afogados em sangue com o assassinato de mais de cinco mil integrantes da UP (Movimento político União Patriótica), o maior genocídio contra um partido de oposição na América Latina. Em Caracas e Tlaxcala foi colocado todo o nosso entusiasmo pela retomada dos caminhos da solução política, mas o guerrerismo da classe dirigente, ostentado na guerra integral do governo neoliberal de César Gaviria, apostou pela derrota militar da guerrilha, e, no econômico, à chamada abertura, que levou à falência centenas de médias e pequenas empresas, elevando assim os níveis de pobreza.

 

Aos Diálogos do Caguán chegamos carregando nas mochilas as esperanças de reconciliação do povo, mas a estratégia da classe dirigente, orientada a partir de Washington, não era de paz, mas para ganhar tempo e assim rever as estruturas de sua força armada, golpeada duramente pelo acionar das FARC-EP e, desenvolver os planos de guerra através do Plano Colombia e pôr o território a disposição das forças de ocupação ianques e, cabeça de praia para a agressão contra os povos irmãos de América Latina que constroem soberania e democracia.

 

A violência nunca tem sido nossa razão de ser, a violência nos foi imposta pela oligarquia e é a característica principal de um regime decadente que se beneficia dela, assassina opositores para monopolizar o poder político e aumentar as contas bancárias dos corruptos ou para alcançar reconhecimento dentro da estratificação da morte que estabeleceu o ministério da defesa para recompensar os crimes de Estado e que para ocultar sua responsabilidade denominou esses crimes como "falsos positivos".

 

Essa violência oficial enxotou mais de 5 milhões de compatriotas de suas terras e desapareceu mais de 19 mil colombianos, somente nos 8 anos do governo de Uribe Vélez, com o fim de enriquecer mais ainda, industriais, agroindustriais, grandes pecuaristas, narco-latifundiários e militares.

 

Nossa razão de ser é a paz da moradia digna, do desenvolvimento humano equilibrado, da educação gratuita para todos, da saúde preventiva para toda a população, da Reforma Agrária Integral que beneficie as comunidades camponesas, indígenas e afro-descendentes; da paz do salário justo e do emprego garantido, da proteção integral do meio ambiente, das garantias políticas para o debate e a participação nos órgãos do poder político, da garantia do exercício pleno dos direitos humanos integrais; a paz do respeito e garantias às comunidades LGBT, do reconhecimento pleno dos direitos de gênero, do reconhecimento do aborto como parte substancial de uma sociedade que deve crescer em direitos e a paz do direito ao protesta e a mobilização social. E a busca dessa paz dedicamos todos nossos esforços, até a vida mesma, como tem sido ofertada com generosidade por centenas de combatentes guerrilheiros, entre os que destacamos, com compromisso indeclinável, os inesquecíveis Comandantes Guerrilheiros Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Gusmán, Raúl Reyes, Iván Ríos, Jorge Briceño, Mariana Páez e todos nossos heróis farianos.

 

Compatriotas, a paz é um direito que temos que tornar realidade na nossa pátria. A barbárie não pode seguir fazendo parte de nosso destino por mais 47 anos e, ainda menos agora que com a mobilização podemos construir um futuro certo e civilizado, agora que o terror e o medo perdem terreno diante da luta contra o modelo de Estado mafioso que implantou Uribe Vélez, modelo patrocinador da corrupção ocultada pela "segurança democrática", a parapolítica, a Yidis-política, os "falsos positivos" os encarceramentos massivos, a covas comuns, o roubo dos recursos destinados para os camponeses, mediante o programa "Agro-ingresso seguro" para enriquecimento dos aliados do regime, as zonas francas para benefício da família do ex-presidente, os seguimentos ilegais do DAS, a extradição de seus aliados narco-paramilitares para garantir sua impunidade, as mansões dentro das Bases Militares para oficiais condenados por crimes de guerra e de Estado.

 

Tudo isso, já não atemoriza nosso povo que a cada dia se mobiliza mais e mais ao calor do clamor por Justiça Social que reclama a nação contra o continuidade do Uribismo que representa a "Unidade Nacional" do presidente Santos, seu neoliberalismo que ofereça garantias às multinacionais mineiro-energéticas, que aumentará a crise humanitária e do meio ambiente em cada mudança de estação, de cortes e repressão das liberdades públicas, de aumento do conflito social e armado justificado em uma concepção de segurança nacional imposta por Washington e que fundamenta todas as modalidades de crimes de Estado que se aplicam na Colombia, de impunidade da corrupção presente em todo o Estado.

 

Será a mobilização e a unidade de todos, de todas as organizações e expressões da luta como será possível alcançar a reconciliação e a reconstrução da nação. Os esforços de todas e todos os combatentes farianos estará a disposição dessa ação patriótica. Derrotaremos a barbárie oligárquica com a solução civilizada do conflito, com o poder da mobilização popular. Convidamos a todas as colombianas e colombianos e suas organizações para que reunamos todas nossas esperanças de paz com justiça social que palpitam no coração da Pátria, realizando atividades culturais, exposições de arte, música, dança e poesia, com encontros esportivos, marchas ecológicas, encontros literários, grupos de estudo, foros, encontros, oficinas, para que a tocha da paz se ascenda desde já e ilumine a esperança de paz do povo colombiano.

 

Também saudamos nossas irmãs e irmãos da América Latina que têm acompanhado o povo colombiano nessa empreitada. Convocamos todo o povo à ação e à mobilização para colocar a nação no caminho da solução política e dialogada, criando regras fiscais com o propósito de apoiar os mais desprotegidos, mas também, que estabeleçam impostos maiores para os que mais acumulam riquezas. Que a mobilização, também, seja por uma política educacional que redima e eleve os níveis de investigação científica e não as contas dos monopólios privada do ensino; por uma Lei das vítimas, para que a impunidade e os crimes de Estado não continuem sendo a regra; por uma profunda e verdadeira Reforma Agrária e não a pretendida política do presidente Santos de entregar terras improdutivas aos camponeses enquanto entrega as férteis para os empresários agroindustriais e latifundiários. Mobilizarmos pela proteção dos recursos naturais da exploração das multinacionais que acaba com a mineração artesanal e as pequenas empresas mineradoras e destroem o meio ambiente; pela derrota da continuidade da chamada "segurança democrática", hoje camada de "unidade nacional" e, que persiste na militarização da nação e na criminalização da protesta social, suas organizações e dirigentes.

 

Lutemos por uma reforma profundo do infame regime de pensões e das lesivas normas trabalhistas que exploram o trabalhador e favorecendo o patrão. Em nosso 47° aniversário de batalhas pela paz da Colombia desde a resistência armada, nos ratificamos no empenho pela reconstrução e reconciliação da Colombia bolivariana, a Pátria Grande e o Socialismo, iluminados pelo pensamento unitário do Libertador Simón Bolívar.

Porque a unidade e a paz são possíveis. Compatriotas.

 

Estado Maior Central das FARC-EP.

27 de Maio de 2011