Brasil pode enviar mais 1266 soldados ao Haiti

Texto sobre a intervenção brasileira no Haiti

Hoje, dia 19 de janeiro, o Conselho de Segurança da ONU solicitou - após aprovação por unanimidade - o aumento das tropas internacionais de Exército e Polícia no Haiti em 3.500 efetivos. 


Apesar do argumento ser de manutenção da "ordem e segurança" para a distribuição da "ajuda humanitária" recebida pelo país após o terremoto de 7,3 pontos na escala Richter que devastou a capital, Porto Príncipe, deixando centenas de milhares de mortos e mais de 3 milhões de desabrigados, tropas internacionais ocupam o país oficialmente já há cinco anos, e assiste-se agora a uma escalada na militarização.
Atualmente há cerca de 9.660 homens (7.000 soldados e 2.660 policiais) na missão dita "de paz" da ONU no Haiti - o país mais pobre das Américas - também conhecida como Minustah. Com o aumento das tropas, o contingente total subiria para 12.651. 


Segundo a Agência Informativa Latino-Americana Prensa Latina, desde o terremoto já foram mobilizados para o Haiti, apenas procedentes dos EUA, os soldados da 82a. Divisão Aerotransportada de Infantaria do Exército, uma unidade expedicionária da Infantaria da Marinha, o porta-aviões USS Carl Vinson e um navio hospital da Marinha. Segundo a fonte, a mobilização de efetivos apenas por parte dos EUA poderia chegar a 14 mil soldados. 


No que se refere às tropas da Minustah, dentre os 3500 novos efetivos aprovados, cerca de um terço poderia ser enviado pelo Brasil, que prometeu dobrar suas tropas no país, elevando-as para 2.532 soldados, segundo o comandante do Exército brasileiro Enzo Pery. O envio das novas tropas deve ainda ser aprovado por Lula e pelo Congresso. Ainda nesta semana, mais 130 militares brasileiros deverão desembarcar na ilha. 


Dentre os mortos brasileiros confirmados, além de Zilda Arns e de 17 militares, está o diplomata Luiz Carlos da Costa, que detinha o segundo posto de comando da missão da ONU no Haiti, sendo o representante especial adjunto do secretário-geral da ONU no país, após ter participado de "missões de pacificação" semelhantes, no Kosovo - após a deposição de Slobodan Milosevic - e na Libéria - onde as tropas da ONU foram acusadas de pagar por sexo infantil pela ONG britânica "Save the Children".

Atuação humanitária dos EUA é criticada

 

 

Apesar da escalada militar que tem se visto no país, o que o Haiti necessita não são soldados para garantir a segurança da população faminta, que disputa sem pudores os poucos e insalubres meios de subsistência, sob risco de morte, mas sim de ajuda dos demais povos do mundo sob a forma de comida, medicamentos, roupas e médicos. 


No dia 16 de janeiro, a atuação dos EUA - que, em uma clara demonstração de seu poder de ocupação sobre a ilha, controlam o principal aeroporto de Porto Príncipe - quanto às operações de ajuda humanitária no Haiti foram duramente criticadas pela França, após o veto por parte dos Estados Unidos de um avião francês com ajuda para as vítimas do terremoto, contendo inclusive material para um hospital de campanha. O avião teve de pousar na República Dominicana, que divide o território da ilha caribenha com o Haiti.
Os EUA estariam priorizando, ao invés da ajuda humanitária, a saída de cidadãos estadunidenses da ilha, de modo que o secretário de Estado de Cooperação francês, Alain Joyandet, denunciou a falta de "arbitragem" na gestão do aeroporto.

A atuação das tropas da ONU no país

Ao contrário de ajudarem a promover a paz, sabe-se que as "tropas de paz" da ONU, ou os conhecidos Capacetes Azuis, têm reprimido o povo haitiano desde sua chegada ao país, com o objetivo de legitimar o golpe de Estado dado em 2004 contra o então presidente do país, Jean-Bertrand Aristide.
Ex-padre católico, Aristide já havia sido presidente do Haiti em 1991, quando foi deposto pelo golpe militar de Raoul Cedras, e entre 1994 e 1996, quando realizou um governo de caráter mais conciliatório, porém com espaço para várias conquistas sociais. Após ser eleito novamente em 2001, com a promessa de um governo mais progressista e de embate que o anterior, foi deposto em 2004, afirmando ter sido sequestrado pelas tropas dos EUA para tirá-lo do poder, situação bastante similar à ocorrida em 2009 com o presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya. 


Logo em seguida ao golpe, foram enviadas as denominadas "tropas de paz" da ONU, legitimando-o e garantindo a permanência dos golpistas no poder. Apesar da recente recusa de militares estadunidenses a cumprir ordens dadas por brasileiros, as tropas internacionais são oficialmente chefiadas militarmente pelo exército brasileiro - que justificou sua presença como "resposta ao chamado da ONU" e pelo execrável "treinamento" para o exército brasileiro, que depois seria utilizado nas favelas cariocas. Segundo afirmou em 2007 o capitão Frederico Lucena, enviado em 2006 para o Haiti e um dos responsáveis pelo treinamento recebido pelas novas tropas enviadas nesse ano, na favela carioca Tavares Bastos, a missão no país ajuda no treinamento da tropa: “Os soldados trazem na bagagem experiência real em combate”.
A tática, portanto, era negociar um lugar no Conselho de Segurança, mediante a opressão do povo do Haiti como escola para oprimir o povo brasileiro.

 

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