Eleições no Peru

No dia 10 de abril deste ano, o povo peruano foi às urnas eleger seu próximo presidente, assim como membros ao Congresso e ao Parlamento Andino. O resultado desse embate democrático-burguês deixa um segundo turno onde os e as peruanas devem escolher entre uma proposta nacionalista conciliadora de classes ou um retorno à política fujimorista versão 2010: agora com “respeito aos direitos humanos”.

 

No dia 10 de abril deste ano, um povo peruano cansado do entreguismo neoliberal de Alan García foi às urnas eleger seu próximo presidente, assim como membros ao Congresso e ao Parlamento Andino. O resultado desse embate democrático-burguês deixa um segundo turno onde os e as peruanas devem escolher entre uma proposta nacionalista conciliadora de classes ou um retorno à política fujimorista versão 2010: agora com “respeito aos direitos humanos”.

O resultado oficial publicado pelo Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE em espanhol) indica que 83.7% dos 30 milhões de peruanos e peruanas exerceram seu direito ao sufrágio, dos quais 12.3% votaram em branco ou anularam seu voto. Os dois candidatos que passaram ao segundo turno foram Ollanta Humala (Gana Peru, de centro-esquerda) e Keiko Fujimori (Fuerza 2001, direitista), com respectivamente 31.7% e 23.5% dos votos válidos.

Segundo diversas fontes noticiosas, um dos principais desafios do próximo chefe de estado peruano será a distribuição de riqueza, já que o crescimento econômico do país de 7% não significou melhoras para o povo, do qual se estima que um terço viva abaixo da linha da pobreza. Outras das principais preocupações são a violência, o narcotráfico e a corrupção. Estes temas aparecem refletidos nos planos de governo de ambos os candidatos.

A aliança partidária Gana Peru, teve também a maior votação nas eleições para membros do Congresso com 3.116.485 de votos, seguida por Fuerza 2011 com 2.802.287. Isso não representa uma maioria nas 130 cadeiras do Congresso, o que implica que independentemente de quem resulte vitorioso, governar o país exigirá concessões e alianças com outros setores.

A corrida por alianças começou logo depois do anúncio dos resultados, e vários setores políticos já manifestaram suas preferências para o segundo turno, ainda que o terceiro (ex-Pimeiro Ministro de 2005-2006 Pedro Pablo Kuczynski  – 18.5%) e o quarto colocado (ex-presidente 2001-2006 Alejandro Toledo – 15.6%) não tenham declarado apoio oficial até hoje, dia 24 de abril de 2011. Este último declarou não apoiar Keiko já que sua carreira política foi construída em oposição ao seu progenitor.

Também não houve perda de tempo no que toca a campanha de desprestígio característica dos processos eleitorais. Os meios pró-Fujimori tentam vincular Humala ao “ditador” Chávez, ao grupo “terrorista” Sendero Luminoso, tentando apelar para o medo ignorante construído midiaticamente pela imprensa mundial. Segundo o jornal La Primera, existe um complô contra Humala orquestrado por “alguns grupos econômicos que poderiam ser “afetados” pelas medidas propostas por ele, onde estariam envolvidas “grandes empresas mineiras, as entidades bancárias, setores das Forças Armadas, da Igreja e do Governo”.

Outro golpe de proporções internacionais ao candidato nacionalista foi a denúncia de que o documento “Compromisso com o Povo Peruano”, apresentado antes do primeiro turno, seria uma cópia da “Carta ao Povo Brasileiro”, que permitiu a vitória de Lula em 2002. Segundo o porta-voz na imprensa nazi-facista espanhola, o jornal El País, e sua contraparte brasileira Veja, os petistas Luis Favre e Valdemir Garreta teriam aplicado a receita de amenização para que “a resistência ao projeto nacionalista” fosse reduzida, no que viria a ser a primeira intervenção subimperialista direta do governo brasileiro. Segundo esse meio, a Gana Peru até teria a sua contraparte de Palocci no Peru para chefe de seu gabinete, a ex-chefe de gabinete de Toledo e recém retirada Defensora do Povo, Beatriz Merino. Ainda que Humala tenha indicado à revista Isto É que ambos os publicitários atuam somente no desenho de sua campanha, tudo indica que seu governo terá uma linha política muito similar a do ex-mandatário brasileiro.

Na verdade, Humala representa a opção “menos pior” para o eleitorado peruano, já que Keiko Fujimori defende abertamente uma volta ao que foi o governo de seu pai, hoje cumprindo 25 anos de prisão por violação de direitos humanos, corrupção e outros delitos. Durante a reestruturação da administração pública do autodenominado “Chinochet” (referência à sua origem oriental e ao seu par chileno Augusto Pinochet), ao redor de um milhão de funcionários públicos perderam seu cargo, segundo o jornal La Primera. Um aparelho estatal mais leve, baseado no mérito, com alta concorrência para aspirantes é parte do plano de governo de Keiko. Outra bandeira da candidata é maior segurança, incluindo um sistema de controle de informação com tecnologia de ponta, centralizado e rigoroso. Durante o governo de seu pai, como medida de segurança, foi aprovada a criação do Grupo paramilitar “Colina”, que executou os dois massacres pelos quais foi condenado, e que deixou 25 mortos, entre eles uma criança de oito anos. Além disso, também sob seu governo, forças policiais executaram 52 presos políticos dentro da Penitenciária Miguel Castro. Os presos políticos durante seu governo viviam em condições subumanas: não podiam ler nada que não fosse a bíblia, só tinham direito a meia hora de luz solar diária e, quando permitida, visita familiar uma vez ao mês. Sua nefasta Lei Antiterrorista chegou a proibir o direito à defesa. Todos esses “excessos justificáveis”, segundo o fujimorismo, sustentavam aquela velha lenda, contada também em nosso país, de “progresso econômico”, cujos frutos não foram colhidos: Fujimori deixou o país com um nível de pobreza em 54.8%, as escandalosas privatizações contribuíram à bancarrota de quase quatro mil empresas, o crescimento econômico nominal foi equivalente ao da década de 60 e o crescimento per capita um mero 1.9%.

A escolha não parece muito difícil, mas as forças da extrema-direita usarão suas principais ferramentas, principalmente os meios de comunicação, para reverter o cenário atual de apoio a Humala. Para um povo cuja história está repleta de roubo, miséria e repressão, Humala é uma mudança moderada que pode representar um alívio nacional-desenvolvimentista às políticas entreguistas e repressoras das oligarquias e burguesia peruanas, contra as quais os revolucionários peruanos, desde Tupac Amaru, passando por José Carlos Mariátegui até os camaradas do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, levam séculos lutando.

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