Haiti: a autoridade da ONU

Matéria da Prensa Latina sobre o papel dos EUA no Haiti e o conflito com a ONU

Nações Unidas, 19 jan (Prensa Latina) Nações Unidas trata hoje de reforçar sua autoridade dentro da crise desatada pelo terremoto em Haiti, no meio de crescentes críticas às pretensões dos Estados Unidos de se apropriar do controle desse país devastado. O chefe de ajuda humanitária da ONU, John Holmes, assegurou nesta segunda-feira à imprensa que a coordenação com as autoridades norte-americanas melhora, sobretudo nas operações do aeroporto de Porto Príncipe, a cargo de pessoal estadunidense.

A referência aponta às numerosas denúncias lançadas contra a prioridade outorgada pelos controladores do terminal aéreo ao movimento de tropas e aviões dos Estados Unidos, em detrimento da ajuda estrangeira que flui para a assolada nação caribenha.

Holmes reconheceu que muitas aeronaves foram desviadas para a vizinha República Dominicana, entre elas algumas do Programa Mundial de Alimentos, um dos canais chaves da assistência mundial às vítimas do terremoto.

Disse que para resolver a situação essa agência da ONU e as autoridades norte-americanas estabeleceram um sistema de prioridades para os voos que devem aterrissar.

A atuação dos operadores estadunidenses foi criticada até pelos governos da França e Brasil e a Comunidade de Estados do Caribe (CARICOM), ainda que Holmes considerou que "não tem sido por falta de boa vontade, mas por problemas de organização".

Por sua vez, a União Europeia deixou entrever seu mal-estar frente às pretensões de protagonismo de Washington no Haiti ao exigir que seja a ONU que determine o papel que corresponde à cada parte.

A raiz do terremoto da passada terça-feira, Estados Unidos enviou quase seis mil soldados em uma alegada missão humanitária e já se anunciou que essa quantidade crescerá até 10 mil.

Ao mesmo tempo, o presidente, Barack Obama, autorizou o chamado a reservistas das Forças Armadas para incorporarem-se às tropas no Haiti.

Também se conheceu nas Nações Unidas que soldados norte-americanos iniciaram a inspeção do terminal portuário de Porto Príncipe com o objetivo da pôr em funcionamento como um novo canal primeiramente para a assistência internacional.

O secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, realizou no domingo uma visita ao Haiti e ontem pediu ao Conselho de Segurança que autorize o envio de três mil 500 novos soldados para reforçar a força militar e policial de Nações Unidas no Haiti.

Em declarações à imprensa, o dirigente ressaltou que a magnitude dos danos materiais e humanos e a situação existente requer um incremento das forças da Missão de Estabilização da ONU no Haiti (MINUSTAH).

Trata-se de dois mil novos militares e de mil 500 policiais para ortalecer a segurança e avançar na distribuição de alimentos e socorro humanitário, apontou.

O responsável para as operações de paz da ONU, Alain Le Roy, argumentou esse reforço com a necessidade de garantir a segurança da distribuição da ajuda e de corredores que unirão a Porto Príncipe com República Dominicana e um porto no norte de Haiti.

A MINUSTAH está no Haiti desde 2004 integrada por nove mil militares, policiais e civis de uns 50 países.

Seus três principais dirigentes morreram no terremoto da terça-feira passada: o tunisiano Hedi Annabi, seu segundo, o brasileiro Luiz Carlos da Costa, e o comissário de polícia da ONU no Haiti, o canadense Doug Coates.

Segundo Le Roy, a missão dos militares norte-americanos, que respondem a um comando próprio, é apoiar os trabalhos de assistência humanitária, enquanto a MINUSTAH é responsável pela segurança geral no assolado país caribenho.

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