Os fatos em foco na Colômbia.

Madrugada de sábado, 1° de Março. Aviões “Tucanos” pertencentes às Forças Aéreas Colombianas sobrevoam a fronteira entre Equador e Colômbia. O cenário é a selva amazônica, cobiçada pelo imperialismo americano e essencial à vida na Terra. Além de possível fonte de petróleo, é uma das maiores fontes de matérias primas e oxigênio do planeta. A selva atravessa o território de seis países (Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e parte da Bolívia).
Os fatos em foco na Colômbia.


Madrugada de sábado, 1° de Março. Aviões “Tucanos” pertencentes às Forças Aéreas Colombianas sobrevoam a fronteira entre Equador e Colômbia. O cenário é a selva amazônica, cobiçada pelo imperialismo americano e essencial à vida na Terra. Além de possível fonte de petróleo, é uma das maiores fontes de matérias primas e oxigênio do planeta. A selva atravessa o território de seis países (Brasil, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e parte da Bolívia).


No seu coração, as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo) travam uma guerra desigual a mais de 40 anos. Neste 1° de Março perderam um dos seus principais combatentes. O Secretariado das FARC (instância máxima da organização) que é tido como “incapturável” tornou-se quase um mito pelas façanhas alcançadas em meio à guerra e agindo na clandestinidade. A campanha midiática que tenta estigmatizar a guerrilha tem aumentado em parte sua popularidade.

Com os holofotes voltados no conflito colombiano, diariamente tem-se discutido a conjuntura do país nas páginas dos jornais de todo o mundo.


O ataque, rápido e devastador, foi a forma pela qual o populoso exército colombiano encontrou para invadir o território do país vizinho. Com o pretexto de que uma brigada militar sob o comando de Raul Reyes havia atravessado a fronteira colombiana rumo ao Equador, sob a conivência deste país e da Venezuela, as tropas do exército colombiano foram obrigadas a agir.


O que realmente este grupo fazia naquele território era criar as condições para que uma entrevista fosse feita entre representantes do governo francês e as FARC. O mediador seria o próprio Reyes. O objetivo? A soltura unilateral por parte das FARC da ex-candidata presidencial: Ingrid Bitencourd. Se isso de fato ocorresse, o governo Uribe seria desmoralizado e cairia por terra o argumento e a imagem de que as FARC são um grupo “narcoterrorista”. A batalha pelo reconhecimento por parte da ONU de que a guerrilha é de fato uma força beligerante estaria mais perto da vitória.


As armas.


Na invasão ao Equador foram usados aviões de última tecnologia brasileira e estadunidense. Isso mesmo. Esses aviões apelidados de “Super-Tucanos” foram fabricados pela Embraer, mas tiveram peças importadas das linhas de montagem dos Estados Unidos. As 25 unidades que foram vendidas ao governo colombiano são modelos aperfeiçoados e desenvolvidos do “antigo” avião usado nos treinamentos militares da aeronáutica brasileira: os “tucaninhos”. Estes tinham certa capacidade de ataque, mas basicamente eram usados nos treinamentos. Os “Super-Tucanos” além de atacarem o inimigo com implacável rapidez, dificilmente são alcançados por rastreadores em terra ou por satélites. Comportam um piloto ou no máximo dois, e estão entre os mais cobiçados das forças armadas de todo mundo. Os exemplares vendidos para a Colômbia fazem das Forças Aéreas deste país uma das mais bem equipadas.


A contradição consiste no fato de que meses antes, o governo da Venezuela tentou comprar algumas unidades desta poderosa máquina. O governo americano interveio e paralisou as negociações. Como tinha participado no processo de montagem dos aviões, e não é afeto ao que tem feito o governo de Chávez, solicitou à Embraer e ao governo Lula que a venda não fosse efetuada. Tempos mais tarde, o governo colombiano teve outra sorte.


As condições de uma possível guerra.


A Colômbia conta hoje com um contingente militar de 208.600 efetivos, perdendo apenas para o Brasil em números absolutos (mas permanecendo à frente em proporção, se levado em conta o tamanho do território e da população). O Brasil conta com um efetivo de 287.870 militares. Já a Venezuela conta em suas fileiras com 82.600, enquanto que o Equador conta com 56.500. Isso não impediu que os governos de Rafael Correa e Hugo Chávez mobilizassem parte de suas tropas para a fronteira com a Colômbia, em represália à invasão do território equatoriano, o que gerou uma das maiores crises diplomáticas em nosso continente.


Já previam o que viria. As provocações do governo de Uribe, aliado político de Washington, tendem a aumentar. Encerrando o ciclo de invasões no Oriente Médio, que tinha como linha de frente Israel na fictícia “Guerra Contra o Terror”, o governo estadunidense precisará de outro campo de batalha. Em primeiro lugar, a gestão Bush aprovou novo orçamento onde quase metade do PIB será voltado para a indústria bélica: 1,5 trilhão de dólares. Esse investimento precisa ter retorno, e a forma de ser realizado é a guerra. Só com o Plano Colômbia, iniciado ainda durante o governo do colombiano Andrés Pestrana em 2000, o governo dos Estados Unidos repassa à Colômbia 1,3 bilhões de dólares, além de treinamento militar e tecnologia de guerra. Em segundo lugar, durante os últimos cinco anos, a guerra gerou muito lucro para os cofres estadunidenses através das multinacionais da guerra. O objetivo era o controle e a hegemonia em vastas áreas fontes de petróleo. A resposta a isso foi a resistência travada pelo povo palestino dos diversos países árabes aliada à péssima imagem que os ianques construíram em todo o mundo depois da invasão no Afeganistão.


Nestes cinco anos, na América Latina e Caribe, governos progressistas foram eleitos e outros conseguiram alcançar certa estabilidade. Alguns começam a romper inclusive o cerco político-econômico imposto a Cuba. Para o imperialismo isso seria inadmissível, não fosse pelo fato de ser uma realidade: a América Latina não é hoje o mesmo quintal dos Estados Unidos que fora nas décadas de 60 e 70, quando ditaduras financiadas e apoiadas pela CIA imperavam em nossos países. A Colômbia dá mostras de que tem todas as condições e interesses de se tornar a “Israel da América Latina”. A diferença desta vez, é que o continente mudou no tempo e no espaço: já não é o mesmo de 30 e 40 anos atrás, nem é o Oriente Médio deste início de século.

 

 

Mário Novaes dos Santos