Ato em Solidariedade ao povo argentino em Greve Geral contra abusos do Governo Milei em São Paulo
No dia 24 de janeiro, foi realizado em São Paulo um ato em apoio à classe trabalhadora argentina em luta contra as medidas neoliberais do atual presidente Javier Milei, aos 45 dias da sua posse. Convocada pela Confederação Geral do Trabalho e outros grupos sindicais, foi realizada uma paralisação de 24h que contou com a adesão massiva de mais de 1,5 milhão de trabalhadores e trabalhadoras em toda a Argentina.
A mobilização rechaçou duas medidas propostas pelo governo Milei - o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) de 336 artigos e o megaprojeto “Lei Omnibus” de 664 artigos, considerados ataques às conquistas do povo argentino e abuso de poder. Demonstrando disposição de luta, os trabalhadores se adiantaram aos comuns 100 dias de trégua, que geralmente os governos têm em seus países antes que se iniciem as mobilizações de oposição, e mostraram capacidade de organização. Junto com a complexa situação econômica do país, a demonstração de força operária teria motivado uma conversa divulgada de Milei com a vice Victoria Villarruel, aconselhando que estivesse preparada para assumir. Esta seria uma saída complexa para a classe trabalhadora e povo pobre da Argentina uma vez que a vice está à direita de Milei, havendo também outras tendências se apresentando para a realidade argentina (Fonte: Prensa Latina).
A justa mobilização frente a esta realidade do irmão latino-americano motivou a solidariedade de partidos, movimentos sociais e outras organizações da esquerda em algumas cidades do nosso país, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. Nesta última, o Jornal Inverta esteve presente e falou com o escritor argentino Javier Villanueva, colaborador da redação.
“Tive a enorme alegria de poder falar hoje na manifestação das Centrais Sindicais e dos Partidos de Esquerda em frente ao Consulado da Argentina de São Paulo, em apoio à Greve Geral do dia de hoje, 24 de janeiro, contra o governo de Milei, o “Louco da Motoserra”, como é chamado pelo povo irmão. Fiquei grato, como argentino radicado em São Paulo há quase 45 anos, pela solidariedade com os trabalhadores argentinos. E lembrei que este plano econômico antipopular é uma cópia daqueles das ditaduras de 1930, 1955, 1966 e 1976, bem como dos governos antipopulares de Menem, De la Rúa e Macri.
E acima de tudo, lembrei na minha fala que todos e cada um desses planos antioperários e de empobrecimento da classe média foram sempre derrotados nas ruas, precisamente por esse mesmo povo prejudicado pelos interesses das classes poderosas no poder.
Agradeci às centrais sindicais e a todos os partidos da esquerda ali presentes, e falei com as palavras mais enérgicas possíveis, de modo a deixar bem claro a atual situação argentina e a insistência perversa da direita em repetir um modelo cujo único propósito é enriquecer ainda mais uma minoria de privilegiados inúteis e empobrecer os trabalhadores”.
Cabe registrar que no mesmo dia, faleceu Sara Rus, integrante da associação Mães da Praça de Maio-Linha Fundadora, grupo de resistência à ditadura civil-militar argentina de 1976-1983 e com grande contribuição nos processos de Memória e Justiça conquistados por esse povo. Esta militante participava desde 1978 das marchas frente ao desaparecimento do seu filho Daniel e demais filhos e filhas assassinados. Ela era polonesa e sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz, tendo chegado ao país sul-americano em 1948. A sua militância junto e de grupos como as Mães da Praça de Maio, devem ser ainda mais valorizadas nesse momento da história em que o atual governo retoma medidas antipovo desse período, inclusive, com medidas que ameaçam o direito de manifestação, que não foram capazes de intimidar a greve dos trabalhadores e trabalhadoras argentinas. Foi a referência à luta contra as ditaduras naquele país e o significado profundo da luta das organizações que ela atacou que fechou a fala do escritor argentino.
“Lembrei aos companheiros presentes que os nossos 30 mil mortos e desaparecidos não morreram em vão, porque a luta continua, e não é apenas contra o neoliberalismo criminoso, mas tem no horizonte uma sociedade mais justa, sem exploração nem miseráveis, uma sociedade socialista”.
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