A grande vitória dos trabalhadores terceirizados do cobre

A greve dos trabalhadores terceirizados do cobre é a maior mobilização de massas dos últimos tempos. Chile: Junto à potente mobilização dos estudantes secundaristas em 2006 e à dura, mas bem-sucedida, batalha dos trabalhadores florestais, a greve reflete a crescente resistência das massas ao sistema neoliberal imposto pela ditadura e mantido pela Concertação em todos seus aspectos essenciais.


A grande vitória dos trabalhadores terceirizados do cobre


A greve dos trabalhadores terceirizados do cobre é a maior mobilização de massas dos últimos tempos. Junto à potente mobilização dos estudantes secundaristas em 2006 e à dura, mas bem-sucedida, batalha dos trabalhadores florestais, a greve reflete a crescente resistência das massas ao sistema neoliberal imposto pela ditadura e mantido pela Concertação em todos seus aspectos essenciais.

A envergadura deste movimento se confirma pela frenética reação do grande capital nacional e transnacional. As organizações dos grandes empresários, dirigidas pela Confederação da Produção e do Comércio (CPC), empregaram uma desesperada ofensiva para difamar o movimento e buscar derrotá-lo. Toda a sua imprensa se concentrou em insultar os trabalhadores. A isso, se somaram representantes do capital estrangeiro, incitando embaixadores de países onde se localizam as matrizes de empresas que operam no Chile a que apresentassem sua "preocupação" ao governo. O Banco Mundial e o FMI elevaram em vários pontos o "risco-país", indicador que afeta os juros dos empréstimos que o Chile contrai no exterior. Em suma, os trabalhadores terceirizados realmente enfrentaram o capital global, que empregou contra eles todos os seus recursos.

O Governo mostrou cruamente sua incapacidade de responder às exigências legítimas dos trabalhadores. Fortes confrontos dentro do Executivo e nos partidos da coalizão impediram-no de definir uma linha de ação coerente. Os representantes da fração de classe que expressa, no governo, o estreito casamento entre o grande capital nacional e o internacional, encabeçados por Andrés Velasco e José Pablo Arellano, tiveram um papel vil na prolongação do conflito. Chantagearam, ameaçando com a renúncia e com provocar uma crise de gabinete. Bloquearam as negociações, propostas com firmeza e maturidade pelos trabajadores desde antes do início da paralização, e quando se viram enfim forçados a sentar-se na mesa de negociações fizeram de tudo para que esta fracassasse e concentraram efetivamente seus esforços na destrução da Confederação de Trabalhadores do Cobre (CTC), que conduzia o movimento. Exigiram insistentemente que se empregasse a repressão para acabar com a greve.

A manobra da direção da Corporação Nacional do Cobre (CODELCO), ao assinar acordo com uma parcela ridiculamente minoritária dos trabajadores (que não fez exigências e não estava em greve), se dirigiu a erosionar a CTC e prolongou o conflito por mais de 15 dias, acentuando os prejuízos da empresa por conduzir à paralização total de El Teniente [hoje considerada a maior mina subterrânea de cobre do mundo – nota da redação]. Para tal manobra, contaram com o apoio do Presidente da Federação de Trabalhadores do Cobre (FTC), que agrupa os trabalhadores em plantas industriais, e do Presidente do Sindicato Nacional de Montagem Industrial (SINAMI), que endossou essa negociação divisionista. É um fato grave que dirigentes dos trabalhadores tenham desempenhado papéis tão desprezíveis, somando-se a ataques à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que apoiou resolutamente os grevistas e expressou com determinação uma posição classista. Em todas as divisões, no entanto, dirigentes honestos dos trabalhadores das plantas industriais prestaram solidariedade ativa aos grevistas.

A coragem e a inteligência demonstradas pelos trabalhadores terminou derrotando los neoliberais.

Apesar da feroz resistência, conseguiu-se impor a negociação coletiva com a empresa matriz e não com as 700 subsidiárias da CODELCO. Isso representa uma imensa contribuição para o movimento sindical chileno em seu conjunto, posto que a terceirização se converteu em uma forma privilegiada de superextração de mais-valia no marco do capitalismo selvagem.

Foi conquistado o reconhecimento da CTC como organização representativa dos trabalhadores terceirizados e como interlocutora reconhecida pela CODELCO, que teve de assinar com a CTC o acordo final. Com esta batalha, criou-se uma situação mais favorável à discussão das indispensáveis reformas na legislação trabalhista. A investida dos representantes do grande capital nacional e transnacional, descrita acima, tinha como objetivo central precisamente o bloqueio dessa forma de negociação, que permite aos trabalhadores fazer valer seus direitos.

Junto a isso, os trabalhadores conquistaram reivindicações que significarão um considerável aumento de sua renda. Isso inclui o bônus anual que reconhece a fundamental contribuição realizada pelos trabalhadores terceirizados ao processo produtivo. A CODELCO assumiu o compromisso de respeitar a incorporação à planta industrial de todos os trabalhadores indicados pela Direção do Trabalho. Se estabeleceram bônus de saúde, educação e habitação. Em 90 dias se chegará a um acordo sobre uma indexação nacional para os trabalhadores terceirizados, sobre a base das cifras que a CODELCO diz destinarem-se a salários, uma média de 450 mil pesos. Se estabeleceu uma escala móvel que obriga o reajuste dos salários a cada seis meses. Dessa maneira, melhorará o pagamento de horas-extra, a indenização por tempo servido para todo tipo de contratos e o pagamento por trabalhos pesados.

A batalha não terminou. Na realidade, a CODELCO e suas subsidiárias trataram de vingar sua derrota com burdas provocações. Atrasaram os pagamentos com que se comprometeram, tentaram realizar demissões proibidas pelo acordo, quiseram negar direitos de bônus a centenas de trabalhadores, etc.. Mas os trabalhadores se farão respeitar.

A amargura dos neoliberais é compreensível. Durante os anos de seu domínio, trataram de convencer o mundo de que o papel dos trabalhadores na vida social era um assunto do passado, que seu papel como força transformadora deixou de existir. O choque com a verdade lhes é insuportável. Pior ainda quando 71% da população respalda os trabalhadores que se organizam e lutam.


Por Jorge Insunza B.

Cedido pelo Partido Comunista do Chile (PCCH)