Equador: até quando o regime resistirá?

ATUALIZAÇÃO: Completando dez dias de paralisações e protestos convocados pela CONAIE, FUT, sindicatos estudantis, artistas e outros setores, a repressão tornou-se uma tónica diária.

Completando dez dias de paralisações e protestos convocados pela CONAIE, FUT, sindicatos estudantis, artistas e outros setores, a repressão tornou-se uma tónica diária. Enquanto a população busca criar espaços de resistência pacífica, o governo recorre a artimanhas discursivas e emprega toda sua força repressiva contra os manifestantes.

No dia 30 de setembro, na cidade de Quito, durante uma manifestação cultural pacífica que incluía recitais de poesia, apresentações musicais e exposições de artes plásticas, um contingente policial irrompeu violentamente contra centenas de pessoas, principalmente jovens estudantes universitários. As imagens desse ataque foram amplamente divulgadas por meios de comunicação comunitários e alternativos nas redes sociais.

Em meio ao caos, um grupo de manifestantes buscou refúgio nas instalações da Universidade Central do Equador (UCE). No entanto, violando os princípios de não agressão a instalações civis, as forças repressivas do Estado cercaram o local e dispararam uma quantidade incontável de bombas de gás lacrimogéneo e de efeito moral.

Ao perceber a presença de jornalistas exercendo seu trabalho informativo, a polícia atacou o grupo de comunicadores sem qualquer justificação. Os profissionais Andrés Burbano (do BN Periodismo) e Helena Rodrigues (da rede internacional TeleSur), entre outros, foram sistematicamente agredidos por membros não identificados da polícia equatoriana.

Conforme relatado por Andrés Burbano em seu programa matutino, os agentes não apenas utilizaram spray de pimenta contra os jornalistas, como também atropelaram uma mulher, impedindo-a de receber atendimento médico emergencial.

O cerco à UCE foi tão intenso que resultou em detenções arbitrárias de transeuntes da área. Graças à rápida reação de advogados e jornalistas presentes, somada à crescente indignação popular, os detidos foram liberados após 30 minutos de incomunicação – período em que presumivelmente sofreram agressões físicas.

Enquanto esses eventos ocorriam em Quito, na pequena cidade de Molleturo, ao sul do país, o exército e a polícia invadiram um protesto pacífico, detendo cinco pessoas – a maioria idosas. Relatos indicam que um idoso foi detido e torturado a caminho da delegacia, necessitando de transferência urgente para um hospital, mesmo diante da resistência das Forças Armadas em permitir seu atendimento.

Em meio ao caos crescente gerado pelas medidas do presidente Daniel Noboa e de seus ministros da Defesa e do Interior, Lofreddo e Reingberg, o governo orquestrou uma narrativa que acusa manifestantes de "terroristas". Um comboio militar fortemente armado percorreu a estrada entre Quito e Ibarra sob o falso slogan de "comboio humanitário", embora não possuísse a divulgação, os protocolos e os equipamentos necessários para tal classificação. Instituições como a Cruz Vermelha e agências da ONU não foram informadas ou envolvidas na iniciativa.

O comboio contava apenas com a presença da embaixadora da União Europeia e da Itália, funcionários questionados por suas práticas antidemocráticas em seus próprios países.

Diante desses eventos – que já completam dez dias –, destaca-se a recusa do governo em reduzir as tensões com a população sobre suas medidas económicas. Enquanto isso, contabilizam-se duas mortes diretamente relacionadas aos protestos, ambas com implicação direta das Forças Armadas (principais operadoras da violência estatal, atuando como polícia de choque).

Com mais de cem detidos – incluindo menores de idade, pessoas com deficiências físicas e neurológicas e idosos –, a dívida ao Estado das empresas da família Noboa e seus aliados vem sendo progressivamente eliminada.

Surge, assim, a questão crucial: até onde o governo será capaz de usar as Forças Armadas para combater o povo, em vez de enfrentar os grupos criminosos organizados? Durante a atual paralisação, a teimosia de Noboa tem ampliado o descontentamento social, fazendo com que os protestos se expandam e ocupem cada vez mais territórios por todo o país.

Embora não haja uma resposta clara no momento, é evidente o crescimento da pressão internacional para que o governo equatoriano abandone suas posições intransigentes e busque uma solução política para a atual crise social.

Redação Internacional

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