Meio século de um sonho do nosso heroico povo chileno
Há 50 anos, um golpe militar no Chile derrubava o governo da Unidade Popular presidido pelo socialista Salvador Allende; a coalizão que agrupava comunistas, socialistas e organizações da nova esquerda castrista foi destituída violentamente do poder em 11 de setembro de 1973, por meio de um golpe de Estado sangrento executado por militares sublevados.
O país passava por um embargo econômico promovido, como é de costume desde o século XIX, pelos Estados Unidos. O povo sofria com a falta de alimentos e dos produtos mais essenciais, o que facilitou o terreno para que a burguesia nativa, apoiada nos setores mais conservadores e descontentes da sociedade, e os militares, tomassem o poder do modo mais violento que puderam imaginar.
Uma Junta Militar, formada por Augusto Pinochet e outros militares de alta patente exigiram a renúncia imediata de Allende.
Ao conhecer o desfecho da insurreição do Exército, Allende pegou a AK-47, rifle que ganhou do presidente cubano Fidel Castro, e foi para o Palácio de La Moneda, sede do governo, para resistir, mas os militares já haviam tomado o controle do país. Ao chegar a La Moneda, o palácio é bombardeado pelos militares.
Em seu último discurso, Allende falou da traição dos militares:
"Viva o Chile! Viva o povo! Viva os trabalhadores! Estas são minhas últimas palavras e tenho a certeza de que meu sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, será uma lição moral que castigará a perfídia, a covardia e a traição".
No áudio é possível ouvir as bombas lançadas contra o Palácio de la Moneda durante o discurso.
A ditadura militar durou 17 anos. Após a democratização, muitas comissões tentaram encontrar e levantar dados das vítimas do regime. A Comissão Valech contabilizou 40 mil vítimas entre torturados, presos e assassinados. E emigração e o exílio foram também de uma grande magnitude. O êxito da Unidade Popular de Salvador Allende em 1970 havia tornado a Nossa América, a América Latina, como ocorrera em 1959 com a Revolução Cubana, um laboratório político.
O impacto dessa vitória fora das fronteiras chilenas motivou tanto a esquerda como aconteceu mais tarde, com a sua trágica derrocada, três anos depois.
Em 1973, o Chile voltava aos noticiários que mostravam o palácio presidencial em chamas e a informação sobre a morte em combate do presidente.
O golpe de Estado destruía os sonhos de políticos, intelectuais e artistas convulsionados por esse projeto e reacendia as discussões sobre a necessidade da luta armada para enfrentar as barreiras que o sistema opunha aos avanços populares.
Xavier Vilanova, São Paulo, 11 de setembro de 2023