Nota do PCML: Hugo Chávez morreu, Viva Hugo Chávez e a Revolução Bolivariana!

A morte de Hugo Chávez Frías, líder incontestável da Revolução Bolivariana na Venezuela e expressão singular da plêiade de lideranças, que a partir dos anos 90, fulgurara no cenário político da América Latina, em resistência à estratégia neoliberal do imperialismo estadunidense abre uma nova fase no processo revolucionário na Venezuela com profundas repercussões no continente latino-americano e luta dos povos oprimidos no mundo.

Na Venezuela a questão fundamental que se apresentará é até que ponto a Revolução Bolivariana consolidou raízes e lideranças junto ao povo venezuelano capazes de ir além em sua marcha rumo ao Socialismo do Século XXI. O que remete à questão teórica da simbiose entre as ideias libertárias de Simón Bolívar e próceres da luta pela independência da América Latina com as ideias revolucionárias do marxismo-leninismo ao estilo do caminho que se seguiu em Cuba, de Martí a Fidel. Em termos da América Latina a questão que se apresenta é até que ponto o processo interno na Venezuela reduzirá suas relações econômicas e políticas solidárias com o processo revolucionário na América Latina e Oriente Médio, revertendo o impulso dado por Chávez à soberania econômica e política frente aos Estados Unidos.

Quanto às análises que buscam interpretar as tendências históricas do processo revolucionário bolivariano a partir deste trágico, porém já esperado, desdobramento da luta de Chávez contra o câncer, focadas nas teses do carisma e populismo weberianos esquecem que o fundamental não está nem no carisma, nem na ilusão política do personagem que liderava a Revolução Bolivariana, pois não foi pelo carisma que um jovem tenente-capitão em 1992 se levantou em armas, acompanhado de trezentos homens em assalto ao poder, emblemando a raiz histórica e razão de ser de Nossa América independente. Neste caso, se explica mais pelos ideais revolucionários e a coragem política de ir às últimas consequências destes ideais, ao contrário da trajetória focada no discurso carismático, próprio dos clérigos e pastores protestantes; por outro lado, os que o enquadram sob o rótulo populista, expressão vinculada ao discurso enganoso que promete o céu na terra, também erram, pois desde seu martírio no cárcere até sua anistia e eleição, todas as suas promessas programáticas se destinaram à promover a soberania e integração do Povo Venezuelano e a América Latina, portanto, o ideal bolivariano e paralelamente a este processo desenvolver as instituições e distribuição da riqueza de forma socializada; a estatização do petróleo, reforma agrária, comunas de produção agrícolas, obras de infraestrutura, alfabetização, saúde, enfim, medidas indeléveis de igualdade e dignidade para o Povo pobre da Venezuela, sem o recurso da perseguição política discricionária e fora dos marcos da legalidade constitucional.

Naturalmente, guardadas as devidas proporções, o processo revolucionário que se seguiu na Venezuela encontra seu paralelo em Cuba e, por mais distante que pareça, na Rússia de Lênin, pois trata-se de um processo político que, impulsionado pelas contradições econômicas é alavancado pela luta de classes projetando o fator subjetivo à frente do objetivo, constituindo o que se chamou de revolução de cima para baixo. Nestes termos, em que o processo histórico é dirigido pelo fator subjetivo a objetividade econômica e estrutural da sociedade reduz a elasticidade da subjetividade das estratégias, programas e projetos revolucionários frustrando sua completa realização, porém, instigando a necessária complementação, ratificação e retificação e autocrítica da ação revolucionária. Ao senso comum é simples comparar, como fazem os arautos da mídia nazifascista, a ideia do populismo político do “prometeu mas não cumpriu” ou o conceito vulgar do caudilhismo quando as forças revolucionárias são premidas a irem além de seu esforço regular, esgarçando -se em seus pontos mais frágeis, que servem de prato cheio para a oposição reacionária; porém, é impossível para uma sociedade onde o desenvolvimento das forças produtivas foram atrofiadas desde sua formação como Estado nacional pela divisão internacional do trabalho superar estas atrofias. Não é fácil para um país que por quase um século viu sua estrutura econômica moldar-se a produtor de petróleo para alimentar o imperialismo estadunidense, atrofiando sua agricultura, seu desenvolvimento comercial e o seu povo, alterar radicalmente esta condição, tornando-se autossuficiente, soberano e igualitário em menos de uma década e meia, período de triunfo da Revolução Bolivariana. A redução weberiana na análise histórica da Revolução Bolivariana ou a velha e surrada crítica do reacionário Tocqueville à Revolução Francesa, que mescla o discurso neoliberal em sua crítica à centralização e ao planejamento do esforço revolucionário para atingir suas metas com os inevitáveis desvios, descontroles e outros problemas que acarretam a realização das mesmas não são novidades, nem representam nada de novo para a humanidade. O problema fundamental de Capriles e dos grupos imperialistas e reacionários na Venezuela que o apoiam está, precisamente, neste discurso carismático e populista, que a exemplo mais nu pode ser encontrado em Carmona e seu caudilhos, no sentido vulgar da expressão, cuja pequena mostra exigiu o martírio do povo venezuelano contra o golpe a Chávez e à Revolução Bolivariana.

Os EUA e sua diplomacia de rapina utilizam-se destas forças reacionárias de todas as formas possíveis, financiam sua propaganda e atentados contra lideranças revolucionárias; talvez hoje a Venezuela seja o maior ponto de concentração da espionagem internacional e de mercenários, visando o “outono revolucionário” neste país. Num paralelo entre a Revolução cubana e a Revolução Bolivariana na Venezuela não é exagero pensar na estranha origem da doença que causou a morte do Presidente Chávez como atentado, a exemplo das centenas de atentados, todos documentados e registrados, contra Fidel Castro, ou ainda o envenenamento de Yasser Arafat, na verdade, parece coincidência muito grande que Cristina Kirchner, Fernando Lugo, Dilma Rousseff e Lula tenham tido quase que simultaneamente – a exemplo de Chávez, câncer; todos lideranças que despontaram nos anos 90 na América Latina em oposição às estratégias e forças neoliberais dos EUA no continente. Este capítulo na história destas lideranças na América Latina aguarda uma versão.

Deste modo, nada se pode esperar da análise proveniente dos opositores e forças reacionárias na Venezuela e demais países da América Latina, em especial, no Brasil, pois a tendência histórica que ora se apresenta na Venezuela será o impulso à Revolução Bolivariana adiante, por um lado porque é impossível a reprodução de uma liderança política igual a Chávez, capaz de sustentar uma correlação de forças dentro da sociedade que permita avançar pontualmente a Revolução, mantendo-se num quadro de integração da América Latina e Oriente Médio e, ao mesmo tempo, manter relações necessárias com os Estados Unidos; por outro lado, porque tanto as forças revolucionárias como as forças reacionárias buscarão preencher o vazio político deixado por Chávez como figura singular e expressão política do processo revolucionário venezuelano. Naturalmente, Nicolás Maduro, ex-sindicalista e expoente de primeira grandeza do governo revolucionário de Chávez, inclusive indicado por este à sua sucessão tende a se tornar o repositório de toda a vontade política popular de avançar a Revolução adiante; entretanto, mesmo rotulado como bom negociador, não será capaz de sustentar a atual correlação de forças, caso sua liderança não esteja em harmonia com as Forças Armadas e o Poder Legislativo, o que implica em um aprofundamento do programa revolucionário, que ultrapasse os limites da representação política e se condense na unidade de objetivos estratégicos e táticas das forças revolucionárias, vencendo as limitações históricas da ceifa de lideranças, que se processou na América Latina no decurso da guerra suja, ancoradas nas ditaduras militares pró-EUA. Este vácuo de lideranças que repousam no silêncio dos cemitérios legais e clandestinos das ditaduras retiraram do movimento revolucionário, que se insurge nos anos 90, as bases para a consolidação de uma força revolucionária capaz de sustentar até as últimas consequências o Programa da Revolução. As tentativas de construção revolucionária, conduziram Chávez do Movimento Quinta República ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), reconfigurando a disposição e correlação de forças intra e extra revolucionárias. Com a ausência de Chávez chegou o momento em que esta força e suas lideranças são chamadas a irem além do esforço regular, trata-se estrategicamente de projetar-se à frente, avançando os limites da Revolução para uma maior margem de manobra quando de uma nova onda contrarrevolucionária . Hugo Chávez compreendia muito bem este vazio revolucionário na América Latina decorrente das ditaduras militares. Daí, a tese do resgate do ideário bolivariano, unificando as forças revolucionárias para além do ideário socialista, conformando uma grande maioria como base fundamental da Revolução. Por outro lado, via em Cuba e no processo histórico da Revolução Russa os ensinamentos teóricos e fundamentos práticos revolucionários, que imprimiam a direção do ideário e as bases materiais da Revolução Bolivariana ao Socialismo. Sua expressão de Socialismo do Século XXI repousa fundamentalmente nesta simbiose. Cabe, assim, esperar das forças revolucionárias da Venezuela a continuação deste caminho projetando-se à frente do processo objetivo para que este último consolide e avance em suas conquistas econômicas e sociais.

O Brasil, a Argentina, a Bolívia, o Equador, a Nicarágua, Cuba, todos cuja ideia estratégica de soberania e independência exige o árduo caminho de ruptura com as condições de submissão ao imperialismo estadunidense, europeu e asiático e construção de um novo paradigma de desenvolvimento econômico e social, capaz de projetar dias melhores para todos devem, político, econômico e praticamente somarem-se ao Povo venezuelano e suas forças revolucionárias no comando da Revolução Bolivariana, apoiando o seu processo de avanço e consolidação no sentido da integração continental bolivariana e na direção da igualdade social e econômica socialista. Chávez está morto, Viva Chávez!

Viva a Revolução Bolivariana na Venezuela e continental!

Ousar Lutar, Ousar Vencer!

P. I. Bvilla
Pelo OC do PCML(Br)