Manifesto da nova geração pela memória, verdade e justiça: DOI-CODI NUNCA MAIS!

Manifesto da nova geração pela memória, verdade e justiça: DOI-CODI NUNCA MAIS!

Filhos, parentes, amigos de lutadores sociais que foram desaparecidos, assassinados, torturados, presos e exilados. Jovens que apesar de não haver sofrido a repressão direta, entendem que todos somos herdeiros de uma mesma história, herdeiros de uma geração que lutou para construir um país mais justo e que foi brutalmente reprimida.
Foram 30 mil vítimas da prisão política e da tortura durante os anos de chumbo.

Leia a convocatória para ato nas portas do DOI-CODI

Através da repressão seletiva, a ditadura pretendeu exterminar todos aqueles que se insurgiam contra um estado de exceção, o golpe militar de 1964. Os mortos e desaparecidos neste local, o DOI-CODI estão vivos em nossa luta. As feridas e traumas de nossas companheiras e companheiros torturados não serão esquecidas pelos lutadores sociais das novas gerações. Exigimos justiça e punição para os açougueiros da repressão política da ditadura.
O terrorismo de estado foi comum a todos os países latino-americanos, e, enquanto a justiça vem punindo diversos genocidas em várias partes do globo, no Brasil, existem apenas três processos contra as brutalidades realizadas durante o período militar. Por não julgar torturadores e assassinos da ditadura militar, o país pode ser recriminado pela ONU por proteger genocidas, através do silêncio e do obscurantismo. A falta de vontade política do executivo e do judiciário em abrir os arquivos da ditadura representa sua direta cumplicidade em acobertar estas feridas abertas da nossa história, e a tentativa de impedir o debate sobre a reinterpretação da lei de anistia é um claro ataque à democracia.
Nos unimos neste ato contra o silêncio e em defesa da memória, acreditando que lutar para que esta barbárie não seja esquecida, significa lutar para que ela não continue. Enquanto torturadores e assassinos de 30 anos atrás estão soltos, assistimos a uma sistematização do assassinato, da tortura, do abuso e da arbitrariedade contra os pobres por todas as periferias do país, nos morros cariocas, nas favelas de Salvador e São Paulo.
A sociedade e o poder público silenciam que os Doi-Codi's continuam existindo diariamente em todas as delegacias do Brasil e a tortura e execução sumária continuam sendo uma prática cotidiana da polícia brasileira. Entendemos que a impunidade de ontem é a correia de transmissão para a impunidade com os agentes do Estado hoje. Se não há punição para o Coronel Brilhante Ustra, para Audir Maciel, para Carlos Metralha e tantos outros sádicos torturadores, não haverá justiça para os mortos no Carandiru, para o massacre da Candelária, nem para as centenas de vítimas assassinadas em maio de 2006 pela sede de vingança da polícia paulista contra o PCC.
Somos todos aqueles que acreditam que não será possível atingir nunca uma verdadeira democracia que seja efetivamente para todas e todos sem o fim da tortura e da impunidade com as brutalidades dos agentes de estado ontem e hoje!
A consolidação da nova democracia também nunca será integralmente realizada enquanto o Estado for um instrumento de criminalização dos movimentos sociais. Os arautos do neoliberalismo, não contentes em dilapidar todo o aparelho estatal para a especulação do capital, nos negando os mínimos direitos, ainda reprimem as lutadoras e lutadores sociais, permitindo grupos paramilitares e semeando a intolerância contra qualquer organização dos trabalhadores. Entendemos que a repressão e a intolerância policial hoje contra a livre organização, manifestação e expressão dos movimentos sociais, dos trabalhadores é uma continuidade sinistra da repressão da ditadura, e não haverá democracia sem que esses mínimos direitos sejam garantidos. Enquanto não houver justiça para os crimes da ditadura continuará a impunidade contra os crimes cometidos contra os trabalhadores rurais em Eldorado dos Carajás, ou no Paraná a mando de paramilitares contratados por empresas transnacionais.
Sabemos que este ato é apenas um embrião de algo muito maior que representa a necessidade histórica da unidade de vários setores da sociedade para pôr fim à impunidade contra a tortura e a repressão contra as comunidades pobres e os lutadores sociais e para fazer justiça ao passado, punindo aqueles que foram responsáveis pelas brutalidades da ditadura. Acreditamos que onde não houver justiça, haverá vozes como as nossas se erguendo para resistir, porque temos certeza que onde pensavam enterrar nossos camaradas, semearam a rebeldia e o sonho por transformação social! DOI-CODI nunca mais!

Exigimos:
- O direito à verdade – Abertura integral de todos os arquivos da ditadura.
- O direito à memória - A recuperação de lugares que foram centro de torturas para que se tornem símbolos da memória e da resistência. – Políticas públicas para a recuperação da memória individual e histórica que relembrem as atrocidades das ditaduras.
- O direito à justiça – O reconhecimento por parte do estado, o julgamento e a punição com prisão comum a todos os torturadores diretamente ou indiretamente responsáveis pelos crimes da repressão.

30.000 torturados e 500 mortos e desaparecidos presentes!
Não esqueceremos e não perdoamos!
Justiça, memória e punição para todos os torturadores!
Por um Brasil democrático para todos e todas!
Pelo fim da criminalização da pobreza e da luta social!