Tiãozinho Presente!

Sebastião Rodrigues militante do Partido Comunista Marxista-Leninista - PCML(Br), representante do Jornal INVERTA, sucursal MG, ex-diretor do Sindicato dos Bancários de BH e Região. Tiãozinho Presente!

Entrevista publicada no Jornal Inverta edição 28 de 01 a 15 de abril de 1994

Quem faz o Movimento?

 

Sebastião Rodrigues da Costa, 34, é membro da Coordenação Estadual da OPPL de Minas Gerais. Atua no Movimento Sindical (bancários), onde possui destacada participação, e na Associação José Marti de BH.

 

I - De qual movimento você participa atualmente?

 

S - Eu participo do Movimento Sindical. Sou Diretor do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte. Participo também da Associação José Marti.

 

I - Como foi sua infância?

 

S - Nasci numa cidade do interior de Minas Gerais, divisa com Espírito Santo. Fui criado na zona rural, cresci em Caparaó. Meu pai e minha mãe trabalhavam na lavoura, meu pai trabalhou também em mineradora tirando mica e outras pedras. Éramos um total de quatro filhos, dois do sexo masculino e dois do sexo feminino. Até os meus 10 anos moramos em vários lugares, depois fui correr mundo, como estou até hoje.

 

I - Como iniciou a sua militância política?

 

S - Depois que eu me tornei bancário é que entrei mesmo para a militância, participando de greves. Antes disso, durante o processo da Guerrilha de Capar, eu era bem novo, lembro do meu pai falando numa noite com um bando de policiais que chegava a nossa casa para pedir informações sobre os guerrilheiros. Meu pai antes já tinha dito para nos não falarmos nada.

Depois quando passei a estudar, saí de Caparão e fui pra vida, comecei a ver algumas coisas dessa história. Sempre lembrava do meu pai falando com a gente.

Em 82, já existia um forte movimento de oposição bancária. Sempre as pessoas me chamavam para participar das reuniões e conversas. Tudo começou por aí, em 82/ 83.

 

I - Como está o movimento popular e sindical em Minas Gerais?

 

S - O movimento está passando um momento de crise geral. Depois da subida do Collor ao poder e o processo de impeachment, parece que as lideranças ficaram meio perdidas. Até mesmo no movimento que participo, não há aquela mesma energia de 84,86,87. Antes se tinha perspectiva, se falava em política, se discutia mais. Perdeu-se a característica do que era. Ninguém sabe para onde ir, que caminho seguir. Várias forças políticas que falavam no socialismo, defendiam o socialismo, com perspectiva de um novo mundo, abandonaram essa bandeira. Acho que temos que encontrar o caminho de novo.

 

I - Qual o objetivo da Associação José Marti?

 

S - Em Belo Horizonte se trabalha muito com a questão cultural, com a integração dos povos latino-americanos. Todos os eventos que se tem feito é no sentido da integração.

 

I - Para você o Socialismo morreu?

 

S - Para mim o socialismo não morreu, foi uma tentativa da classe dominante, da burguesia internacional, de mostrar o desmonte da URSS para induzir as pessoas a pensarem que o socialismo tinha acabado. Quem já tinha toda uma formação política não se abalou. No entanto, para aqueles que estavam começando, em formação, o massacre foi tão grande que se abalaram. Porém, nem todos estão abalados e tenho certeza absoluta que a bandeira do socialismo não morreu e não vai morrer.

 

I - O que prova isso?

 

S - O que prova isso é o México hoje. Outra é a miséria nos países capitalistas, a própria imprensa burguesa coloca que nos Estados Unidos, dentro do imperialismo americano, tem miséria. Outra coisa que prova isso é que o capitalismo não conseguiu resolver as contradições de classes. E Cuba também é prova disso: com um bloqueio de mais de 30 anos, estão resistindo. Na própria ex-URSS, os povos estão lutando.

 

I - Fale sobre um momento político que marcou sua vida?

 

S - Para mim foi a greve dos bancários em 87. Fizemos 14 dias de greve, não saímos com ganhos econômicos, mas saiu todo mundo pra cima. Na Bahia e em Belo-Horizonte foi mais demorado. As 4 horas da manhã tínhamos que ir para piquete, enfrentando polícia. Outro momento que me marcou muito foi a última eleição dos bancários de Belo Horizonte, porque nunca tinha presenciado uma eleição. Para garantir a eleição, teve que ter a intervenção da polícia militar, porque a disputa foi muito violenta entre o setor cutista (que era a chapa 1 e a chapa que, eu estava) e os setores da CGT e FS. Durante o processo da eleição, finalizando, muita gente foi ameaçada. Foi a primeira vez que eu vi um processo assim, eu nunca vou esquecer.

 

I - Qual a sua concepção do papel do sindicato, já que é diretor do sindicato dos bancários de Minas?

 

S - O Movimento Sindical deveria cumprir o papel que não cumpre, pois ele fica muito preso às questões economicistas, mobiliza só por questões econômicas. Acho que principalmente os sindicatos dos bancários do país inteiro, que tem uma máquina sindical hoje é capaz, se quiser, de fazer um trabalho de formação, não só pros bancários, mas para outros trabalhadores. Todos os sindicatos tem uma infraestrutura muito boa, eles estão meio ruins das pernas embora com algumas exceções. Todos tem condições de ter um fax, ter um telex, de rodar um jornal diário, semanal, ou quinzenal de qualidade e ter bons profissionais Acho a disputa saudável até certo ponto, depois disso ela não é mais saudável, porque as pessoas começam a se desgastar demais. Ficam as pessoas e as forças políticas brigando e esquecem de conduzir melhor, e de se preocupar com o trabalho que vão levar para a categoria e até para sociedade. Os sindicatos dos bancários que eu mais conheço (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília) têm condições de infraestrutura, não para ficar só no corporativismo, mas também para estar presente nos movimentos populares e em qualquer outro movimento, por exemplo, na questão do "Fora Collor", na Campanha das Diretas Já" e em várias campanhas nacionais. O sindicato entra com peso, coloca sua militância na rua, coloca carro de som, material, convoca e consegue mobilizar. No dia a dia não consegue fazer trabalho, há uma falta de vontade política das direções.

 

I - Qual a posição que você defenderia hoje no sindicato com respeito as eleições gerais?

 

S - Sempre nas discussões formais e informais dentro do setor bancário, porque hoje o sindicato dos bancários de B.H. é de maioria petista e tem alguns setores que estão trabalhando com a idéia de que o sindicato tem que definir apoio no primeiro turno ao Lula, tenho colocado sempre que não dá para as direções definirem apoio. Primeiro tem que se passar por um amplo debate na categoria. Com relação ao sistema financeiro, e eu vou me atei a isso, acho que o sindicato tem condições de colocar dentro de um programa de governo qual sistema financeiro que nós trabalhadores queremos. Não só para nós enquanto trabalhadores de banco, mas para todos os trabalhadores. Qual a função desse sistema financeiro? Pra que queremos esse sistema financeiro? Eu, em particular, defendo a estatização do sistema financeiro, que seja capaz de financiar, moradia, agricultura, subsídios sociais etc. Um sistema financeiro que não tenha a exploração como a de hoje, com altas taxas de juros, porque o trabalhador assalariado não tem condição de ter uma conta no banco. Defendo ainda que o movimento dos bancários seja capaz de fazer um programa, discutir com a categoria, com a sociedade e apresentá-lo aos candidatos e que os candidatos assumam isso. Quem assumir o programa, seja de esquerda ou de direita, e ser for eleito, estará comprometido com a categoria e com a sociedade, que dentro desse contexto terá maneiras de cobrar.

 

I - Que papel desempenha a OPPL na luta pelo socialismo no nosso país?

 

S - Eu acho que a OPPL cumpre um papel muito importante, para mim, um papel ímpar, dentro do que eu conheço, na questão da formação, da informação, da preocupação não só com a questão do Brasil, mas com uma análise geral. E essencial que não só o militante político, mas qualquer pessoa tenha uma análise de conjuntura. Isso é colocado sempre pela OPPL, principalmente a questão da análise de conjuntura, porque quando você tem uma análise correta, vê melhor as coisas. Eu acho que a OPPL cumpre esse papel e sem muita pretensão, mas um papel ímpar dentro da formação na perspectiva de se organizar e lutar por um novo amanhã.

 

I - Manda uma mensagem para o nosso povo.

 

S - Ter muita perseverança. Estamos nos identificando enquanto uma nação. Temos que ter unidade na ação, estar bem junto, porque o monstro é o imperialismo. É necessário que estejamos juntos para derrubar esse monstro.

 

Tiãozinho Presente!