És de Palmares ou és capitão do mato?
Manifestantes de entidades do movimento negro ocuparam, hoje (29/11), em Brasília, a sede da Fundação Cultural Palmares em protesto à posse de Sérgio Nascimento Camargo, no dia 28 de novembro, que publicamente negou o racismo no Brasil, além de proferir ofensas em suas redes sociais ao povo brasileiro afrodescendente e às mulheres.
O INVERTA repudia esta posse, uma afronta uma semana depois do Dia da Consciência Negra, 20 de Novembro, em que se celebra a resistência à escravidão no Brasil. A escolha para o cargo contraria os objetivos de uma organização que leva, em seu nome, o legado do Quilombo dos Palmares, em Pernambuco.
A Fundação Palmares, hoje, tem como uma de suas tarefas urgentes defender os mais de 5 mil quilombos contabilizados no país, que necessitam de regularização, por exemplo, além de tantas outras funções, que não podem ser levadas a cabo por quem agride os que pretende defender.
A Fundação deve respeitar o nome de Palmares; este marco na história de um país construído, significativamente, em cima da vida de homens e mulheres africanos escravizados e sequestrados para o Brasil e que, mesmo chicoteados, seviciados e utilizados das formas mais perversas sob um suplício inimaginável, resistiram e em Palmares chegaram a congregar mais de 20 mil pessoas, tendo como líder máximo Zumbi.
As declarações hostis da atual presidência da Fundação Palmares é mais uma chicotada de capitão do mato sobre o povo brasileiro e deve ser repudiada por todos os brasileiros e brasileiras, que lutam contra a escravidão de ontem e de hoje.
Devemos perguntar:
Quem és tu, que desonra Palmares, Zumbi, Aqualtune, Dandara e todos os negros e negras que lutam até hoje no Brasil contra a escravidão?
Tu és de Palmares mesmo ou és bandeirante enviado e pago para emboscar e matar nossa história de resistência, como Domingos Jorge Velho fez com Zumbi que, entretanto, está vivo em cada um de nós que luta por liberdade?
No momento, um governo de extrema-direita no Brasil ocupa o Executivo, parte do parlamento e do judiciário neste país que deve tornar-se um grande Palmares de norte a sul, através de um Congresso Nacional de Lutas contra o Neoliberalismo, abarcando o povo indígena, os trabalhadores do campo e da cidade, a juventude, enfim, todo o povo em sua diversidade única e potente em busca da definitiva libertação do Brasil do jugo do capitalismo, rumo à sociedade socialista.
Gilka Sabino