Panorama político cearense depois das eleições
Com o resultado final das eleições municipais de 2016 nas duas cidades cearenses que tiveram segundo turno (Fortaleza e Caucaia), conclui-se o panorama regional na correlação de forças no estado, com reflexos em todo o país. O Partido Democrático Trabalhista (PDT) consolidou-se como o maior partido da região, e agora terá 52 prefeituras, o que significa um crescimento de 477% em relação às eleições municipais de 2012. Entre seus principais aliados eleitorais na região, o PSD terá 28 prefeituras, e o PT, 15. A coligação de apoio ao grupo político de Cid/Ciro Ferreira Gomes ganhou em importantes cidades: além da capital cearense, Sobral, Caucaia, Juazeiro do Norte, Santa Quitéria, Tianguá, Ubajara, Acaraú, Camocim e Iguatu. O resultado do PDT no Ceará é, em proporção demográfica, o maior do partido em todo o país em 2016. Estes resultados atestam a hegemonia política no estado dos Ferreira Gomes, que já faz dez anos.
De outra parte, as eleições demonstraram o acirramento entre o grupo capitaneado por Cid/Ciro Gomes, por um lado; e por outro, a coligação envolvendo PMDB/PSDB/PR/SD, reunindo caudilhos como Tasso Jereissati, Roberto Pessoa, Eunício Oliveira e Genecias Noronha. De certa forma, a conjuntura nacional deu fôlego para estes caudilhos, vencendo em cidades importantes como Maracanaú. Mas, no geral, os números dão impulso à pré-candidatura de Ciro Gomes para presidente da República.
Em Sobral, quinta maior cidade do Ceará e reduto político dos Ferreira Gomes, foi eleito o caçula da família, Ivo Gomes (PDT). Outra cidade importante no estado é Juazeiro do Norte, maior cidade da região do Cariri e a segunda do Ceará, com enorme peso político e econômico. Nestas eleições, venceu Arnon Bezerra (PTB), outro aliado dos Ferreira Gomes.
Situada na região metropolitana de Fortaleza, Caucaia está se consolidando como polo industrial com o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), que tem atraído investimentos do grande capital e arrastado milhares de trabalhadores para a região. A disputa na cidade, que é estratégica na correlação de forças, foi decidida no segundo turno com a vitória de Naumi Amorim (PMB).
Fortaleza é prioridade para a pré-candidatura de Ciro Gomes. O pleito bem sucedido na quinta maior cidade do Brasil foi estratégico para esse projeto, e foi reeleito seu candidato, Roberto Cláudio (PDT). A capital do Ceará cresceu muito na última década, destacando-se na economia nacional. É importante ressaltar os últimos resultados eleitorais em Fortaleza para presidente, indicando o rechaço popular ao projeto neoliberal na maior entre as capitais onde o prefeito eleito não é base do governo biônico de Michel Temer.
Toda essa dinâmica é simulacro da conjuntura advinda do golpe de 31 de agosto, e vai ao encontro de outros resultados em capitais do nordeste, com a eleição de partidos em oposição a Michel Temer. Além da vitória de Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza, os triunfos eleitorais de Edvaldo Holanda Junior (PDT) em São Luis, Carlos Eduardo (PDT) em Natal, e Edvaldo Nogueira (PCdoB) em Aracaju, constituem um claro repúdio desses aos candidatos taxativamente comprometidos com o golpismo.
É perceptível o esforço de Ciro Gomes em catalisar o sentimento antigolpe, em meio à perseguição do ex-presidente Lula, e se apresentar como presidenciável.
Ciro já foi prefeito, governador, ministro de FHC e de Lula, e candidato duas vezes à presidência da República. Seu périplo envolve 7 partidos (PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e PDT), em 36 anos de vida pública. Com tanta experiência política, e um fosso de coerência ideológica, será que agora se revelará um sincero candidato das demandas populares?
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