O avanço da extrema direita no centro-sul do país
Desde as eleições federais de 2010, houve um crescimento dos grupos de extrema direita no sudeste e no sul do Brasil. Ainda que estes movimentos não tenham de fato a superdimensionada voz política conferida pela grande imprensa neoliberal e fascista, não podemos menosprezar as manifestações cada vez mais frequentes (e impunes) de homofobia, racismo e apologia à repressão.
O candidato José Serra do PSDB, representante do capital financeiro, das multinacionais e do latifúndio, em sua campanha eleitoral contra a candidata vencedora Dilma Rousseff do PT, concertou alianças com os setores mais reacionários do cenário político brasileiro. Os militares de extrema-direita, por meio da grande imprensa e de campanhas virtuais, reabilitariam o discurso da ditadura cívico-militar e os setores mais conservadores da Igreja Católica, como TFP e Opus Dei, foram convocados para uma estéril campanha contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Não se pode desconsiderar que as eleições representaram apenas a oportunidade para dar expressão política a setores que já existiam, mas que, no marco representativo da democracia burguesa, permanecem sob controle. De acordo com o informe A unidade operária contra o fascismo do secretário-geral da Internacional Comunista Giorgi Dimitrov, organizador das frentes antifascistas nos anos 1930, “o fascismo é o poder do próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terrorista com a classe operária e a parte revolucionária dos camponeses e intelectuais”. E ainda “os círculos imperialistas tentam descarregar todo o peso das crises sobre os ombros dos trabalhadores. Para isto, necessitam do fascismo”.
No Brasil, a crise econômica levou a uma rearticulação tanto do capital financeiro, quanto das empresas multinacionais, unindo a burguesia imperialista em torno do partido que a representa diretamente. Com a derrota política de seu candidato, a caixa de Pandora foi aberta: além de diversas manifestações racistas e xenofóbicas em redes sociais na internet e casos reais de agressão (ataques a nordestinos e homossexuais na Avenida Paulista em São Paulo), o discurso policialesco ficou mais forte e movimentos de extrema direita começaram a aparecer politicamente.
Neste contexto, as oligarquias do centro-sul viram-se obrigadas a reestruturar sua política de alianças. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, depois da vitória do grupo oponente de ACM Neto nas eleições internas do DEM, resolveu sair do partido e fundar o PSD com outros representantes do latifúndio e do grande capital internacional. A grande imprensa, por sua vez, tem projetado o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves do PSDB, pensando já no processo eleitoral de 2014, e reivindicado um partido que defenda abertamente o livre mercado.
Cabe destacar também a mega-operação militar coordenada pela secretaria de segurança pública carioca de invasão às comunidades de Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão no final do ano passado. Entusiasmadas pelo resgate cinematográfico de seu mais novo herói, o Capitão Nascimento, a burguesia e a pequeno-burguesia do centro-sul do Brasil aplaudiram a ação da polícia e repetiram a ladainha midiática da batalha entre o bem (a “força pública”) e o mal (o tráfico).
Ultimamente, o parlamentar de extrema-direita do Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro, tem ocupado um espaço significativo nos grandes meios de comunicação. Além de fazer impunemente menções elogiosas à ditadura cívico-militar no país, vem mostrando seus pensamentos abertamente homofóbicos e racistas, pintados não como criminosos, mas meramente como “polêmicos” pela grande imprensa. A despeito de ser ou não cassado por suas declarações, o problema está na construção deste “personagem-Tiririca” em si. Trata-se de um quadro político relativamente novo e a visibilidade cada vez maior de seu discurso (e figura) vai ao encontro dos interesses da burguesia. De acordo com Dimitrov, “o fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça, e, às vezes, até com suas tradições revolucionárias”. Por isso, o estímulo constante ao preconceito e o resgate do golpe como “revolução de 1964”.
Recentemente, em São Paulo, grupos neonazistas chamaram um ato de apoio a Bolsonaro, empunhando bandeiras integralistas e ostentando tatuagens de apologia ao “poder branco”.
O fascismo tem que ser denunciado, não atacando o indivíduo Bolsonaro, pois isso representaria dar-lhe mais projeção, mas expondo seu discurso e seu partido – o PP, um dos herdeiros históricos da Arena.
Não se pode desconsiderar que, no cenário internacional, fecha-se o círculo de fogo na América Latina: o golpe de Honduras, a tentativa fracassada de golpe no Equador em 2010, a intensificação da ocupação militar no Haiti, etc., mostram que os Estados Unidos têm uma intenção real de restabelecer as oligarquias neoliberais no continente e estão dispostos a qualquer coisa para isso.
Como analisava Dimitrov, “o fascismo pode chegar ao poder, antes de tudo, porque a classe operária, graças à política de colaboração de classe com a burguesia praticada pelos chefes da social-democracia, achava-se dividida, política e organicamente desarmada, frente à burguesia que desenvolve sua ofensiva, e os Partidos Comunistas não eram suficientemente fortes para levantar as massas e conduzi-las à luta decisiva contra o fascismo, sem a social-democracia e contra ela”.
O alerta de Dimitrov de nunca subestimar o avanço do fascismo, feito em 1935, mostra-se mais necessário do que nunca atualmente.
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