Eleições 2016: Minas Gerais nas mãos da direita e Belo Horizonte sem alternativas no segundo turno

Minas Gerais é o estado brasileiro com maior quantidade de municípios (853) e, nessas eleições, quase todos já decidiram quem ocupará a prefeitura até 2020, exceto quatro: Belo Horizonte, Contagem, Juiz de Fora e Montes Claros, sendo que nesta última talvez não haja segundo turno, pois o segundo colocado e atual prefeito Ruy Muniz estava foragido até o dia 08/10.

Eleições MG

Minas Gerais é o estado brasileiro com maior quantidade de municípios (853) e, nessas eleições, quase todos já decidiram quem ocupará a prefeitura até 2020, exceto quatro: Belo Horizonte, Contagem, Juiz de Fora e Montes Claros, sendo que nesta última talvez não haja segundo turno, pois o segundo colocado e atual prefeito Ruy Muniz estava foragido até o dia 08/10. Minas tem 24 municípios onde os candidatos mais votados estão com “registro sub judice”, ou seja, com algum tipo de irregularidade, e quem decidirá se o candidato eleito assume ou não é o poder judiciário.

Mais de 60% dos 825 municípios que elegeram prefeito no primeiro turno estão concentrados nas mãos de partidos golpistas – PMDB com 164 prefeituras, ou 19,9%; PSDB (132, 15,5%); PR (60, 7,1%); PP (56, 6,6%); PSD (55, 6,5%) e DEM (53, 6,2), apesar dessa eleição ter levado 28 siglas diferentes a prefeituras. Refletindo uma tendência nacional, o PT foi o que mais perdeu prefeituras no estado, 72 a menos que em 2012; seguido pelo PP (-17, 73), PDT (-12, 41) e DEM (-11, 64). Mesmo com essas perdas e com a campanha quase diária feita pelo Partido da Imprensa Golpista (PIG) contra o Partido dos Trabalhadores, ele conseguiu se manter 41 prefeituras. Ao contrário do que a esquerdinha esperava, não foram os pequenos partidos de esquerda que ganharam com a derrota do PT. Os partidos que mais conquistaram novas prefeituras foram o PMDB, que ganhou 45 prefeituras a mais que em 2012; PSD com 27 a mais; e o PSB com 15 prefeituras a mais. Três partidos nem apareciam nas eleições de 2012 e tiveram conquistas este ano: o Solidariedade saiu vitorioso em 14 prefeituras mineiras; o PROS conquistou nove; e o PEN obteve duas vitórias. Vale ressaltar a verdadeira salada de frutas partidária no interior do estado, que chega a misturar partidos de tendências opostas em uma mesma chapa eleitoral, figurando alianças do PT com PMDB, DEM, PSC, PSB, SD e incluindo a bizarra união de PC do B e PSDB.

Para os povo de Minas Gerais, esses resultados são más notícias, considerando que esses municípios da direita serão correias de transmissão para implementação das políticas anti-populares do governo golpista. Além disso, a campanha de perseguição contra Fernando Pimentel (PT) se intensificará e, segundo resultado das eleições, o governador petista encontrará pouco apoio para resistir contra o golpe na região.

Eleições BH

Segundo o IBGE, a capital tem 2.375.151 habitantes, sendo que 1.927.456 são eleitores. Se somarmos a quantidade de Abstenções (417.537 pessoas não saíram a votar), Votos Brancos e Nulos (108.745 e 215.633 pessoas respectivamente que foram ao centro de votação e não escolheram nenhum candidato), teremos um total de 741.915 eleitores e eleitoras que não votaram em ninguém, o que supera os 710.797 votos confiados aos dois primeiros colocados juntos! O alto índice de rechaço às candidaturas (Abstenção + Brancos e Nulos) é um fenômeno que se expressou em grande parte da Região Metropolitana, sendo que Ribeirão das Neves é o município com maior porcentagem de eleitores que não quiseram escolher ninguém: 40,1%, seguido de Belo Horizonte (38,5%), Contagem (37,6%) e Betim (30,1%) – as quatro maiores cidades da chamada Região Metropolitana.

Os dois candidatos que foram ao segundo turno na capital são João Leite do PSDB, que obteve 395.952 votos (33,4% dos votos válidos) e cujo candidato a vice-prefeito é do PPS; e Alexandre Kalil do PHS, com 314,845 votos (26,56%), cujo vice é da REDE. O primeiro é ex-goleiro do clube Atlético mineiro e da seleção brasileira, é uma celebridade evangélica e foi deputado estadual por seis mandatos consecutivos; entrou para a política como vereador em 1992 ao encerrar sua carreira no futebol. Já Kalil é ex-presidente do Atlético, famoso por seu perfil empresarial e grosseiro, por elevar o Galo à vitória da Libertadores da América e pelas comemorações pós-jogos; sua campanha gira basicamente em torno de “não ser político” e até 2010 era cabo eleitoral de Aécio Neves e seus indicados. Quando decidiu se candidatar, foi a Brasília pedir a benção de Aécio e do ex-governador Antonio Anastasia, ambos senadores pelo PSDB-MG.

Isso coloca o eleitorado belo-horizontino em uma situação muito complicada no segundo turno, pois muitos analistas locais a consideram ter que escolher entre os dois candidatos de Aécio Neves. João Leite, primeiro colocado, trará consigo o projeto neoliberal tucano que já conhecemos: corte em gastos públicos, privatização, endividamento e repressão para os movimentos sociais. O tucano já contou também com o apoio do terceiro colocado Rodrigo Pacheco (PMDB), evidenciando o racha no PMDB estadual, e do quinto colocado Délio Malheiros do PSD; ou seja, a vitória de Leite implica campanhas mais fortes contra Pimentel e pelas medidas golpistas. A grande incógnita é como se comportará o cartola Alexandre Khalil, que está longe de ser uma novidade com seu discurso de empresário anti-político – os candidatos Donald Trump nos EUA e João Dória em SP são adeptos da mesma moda. Alguns consideram que Khalil poderia ser um direitista mais ameno e que justamente por sua falta de propostas haveria maior espaço para o diálogo com movimentos sociais e a população em geral, somando a isso o fato de seu vice Paulo Lamac ter sido vereador e deputado do PT. Porém, o grande problema com Khalil é que não se sabe para que lado ele pode envergar, podendo traçar alianças de caráter mais popular ou inclusive mais à direita que o PSDB, com setores político-econômicos de extrema direita, que não são tão raros na capital. Em relação a seu vice Lamac, a vitória poderia ser muito mais uma porta aberta à REDE de Marina Silva que à esquerda. Ser um aventureiro implica que seu governo estaria assentado em alianças políticas mais fracas e instáveis, o que alguns de seus defensores também argumentam seria um ponto positivo para nós na luta de classes; mas, o processo de impeachment veio nos ensinar que há que tomar muito cuidado com um “centrão” indefinido e composto por oportunistas.