Seminário: A Crise do Capital e a Geopolítica Internacional
O Prof. Pedro Germano, de Portugal, iniciou sua fala caracterizando as condições socioeconômicas de Portugal: “Como dimensão física, Portugal tem um território de aproximadamente 90.000 quilômetros quadrados e uma população residente ligeiramente superior a dez milhões. Em suma, um pequeno país da Comunidade Europeia. Os franceses costumam dizer: “un petit et pauvre pays”, com isso pretendendo dizer tudo. Nele se incluem ainda duas regiões autônomas: os arquipélagos da Madeira, com duas ilhas e alguns ilhéus, e dos Açores, com nove ilhas e alguns ilhéus.”“Economicamente, encontra-se numa situação muito débil, em virtude de administrações caóticas que acentuaram a sua dependência, nunca rigorosamente quantificada, dos financiamentos estrangeiros e respectivas artimanhas. A referida debilidade acentuou-se pela efetiva perda do controle da situação político-financeira nacional e internacional, tudo bem entregue nas mãos das estruturas de cúpula da União Europeia. Como pormenor, quase um remate final, a União Europeia acaba de emitir uma diretiva que vai obrigar os estados membros a apresentarem previamente os respectivos Orçamentos de Estado, até agora a principal alavanca da política econômica, financeira e social de cada país”.
A chamada integração de Portugal à Comunidade Econômica Européia é o fator recente de maior relevância no aprofundamento da sua dependência frente ao imperialismo:
“Na prática, Portugal, ao integrar-se na zona do “euro”, passou a “flutuar” ao sabor dos interesses dos “grandes” da Europa. Todos sabemos quem “eles” são, mas com a agravante de também eles estarem nas mãos, ou de mãos dadas, com as grandes potências internacionais. (Até há pouco, era só uma!) Constatou-se uma espécie de “refundação” da vida portuguesa, em benefício evidente do poder decisório exterior.”
“... diria que a maior dificuldade detectada na prática da gestão, tendencialmente democrática do Estado Português, se tem colocado ao nível da dependência forçada das políticas macroeconômicas decorrentes da globalização da economia imposta e controlada pelas mais altas instâncias mundiais.
Por outras palavras, a margem de manobra dos governantes portugueses – e doutros pequenos países da Europa – ficou irremediavelmente reduzida e controlada por tratados internacionais e por múltiplas diretivas da Comunidade Europeia. É importante sublinhar que essas normas e tratados têm precedência sobre a legislação interna.
Assim, todas as medidas governativas são tomadas dentro dos princípios do liberalismo puro e duro, em voga nas relações econômicas que obedecem ao grande impulso do capital utilizado em função de si mesmo”.
Em síntese, o neoliberalismo com seu poder midiático sugere uma prosperidade que é falsa:“Nesta situação, é fácil de ver que a vida socioeconômica passou a depender quase exclusivamente das decisões exteriores e dos fundos e empréstimos estrangeiros. As consequências são visíveis em quase todo o tecido econômico e social português: ao mesmo tempo que há uma aparente melhoria das condições de vida, as grandes e melhores sociedades e empresas, tanto públicas como privadas, transitaram, às vezes de mão beijada, para sociedades e grupos financeiros estrangeiros sediados fora do território português. Esse movimento foi acompanhado, senão fomentado, pela ação governativa ao proceder a privatizações de bens do Estado, total ou parcialmente. E que dizer da epidemia da exportação de grandes fundos para sociedades ditas “off-shore”?
Em resumo, os grandes grupos econômicos de Portugal, saídos da conjuntura aberta após o 25 de Abril de 1974, conseguiram acabar de desestruturar a já fraca economia nacional, através da abertura à exploração estrangeira das atividades econômicas mais lucrativas, da venda de grandes propriedades e sociedades, do fomento da ação governativa no sentido de facilitar a invasão de capitais e sociedades estrangeiras, coisa que atuou como uma bomba de fragmentação no seio da nossa economia tradicional que estava organizada como um sistema que não deveria ter sido alterado sem precauções. Precauções? Isso foi coisa que, embora os média se tenham esforçado por provar o contrário, não se verificou nas várias fases da política socioeconômica portuguesa, durante os últimos 30 a 40 anos.”
O embaixador de Cuba Carlos Rafael Zamora Rodríguez começou afirmando que o capitalismo e o imperialismo fracassaram, se mantêm essencialmente pela força militar. Não são soluções, e a crise é mais do que uma crise do capital, é uma crise de toda a humanidade. Estamos frente à destruição das condições de vida no planeta e do que condiciona a vida. As perspectivas de saída são a cada dia mais difíceis e temos pouco tempo para tal, como tem nos alertado em suas Reflexões o comandante Fidel Castro. O aquecimento, que descongela os pólos está mudando o clima de tal maneira que afeta toda a vida no planeta.
A seguir, destacou a dinâmica do capitalismo que esgota progressivamente os recursos naturais. Lembro a participação de Fidel na Conferencia Climática de 1992, quando colocou claramente o que se avizinhava: a crise do capital colocava em jogo a própria sobrevivência humana no planeta. Em síntese: ou salvamos o nosso planeta ou não salvamos ninguém.
A única alternativa que o imperialismo tem hoje para salvar-se ou manter seu domínio é a guerra. E a guerra nuclear, como alerta Fidel, não um desvario catastrófico, como diz a mídia burguesa. O Irã tem sido apresentado como uma ameaça, mas este país estabeleceu que seu interesse nuclear é pacífico. Quem tem mais de 30 mil artefatos nucleares e uma capacidade 400 mil vezes superior a Nagasaki e Hiroshima? Fidel tem afirmado que as consequências de uma provável guerra nuclear são graves: a economia da superpotência cairá como um castelo de cartas, e a sociedade norte-americana é a menos preparada para suportar uma catástrofe com a que o império está criando em seu próprio território.
No caso de uma guerra desta dimensão, fala-se em inverno nuclear, mas de fato ignoramos quais serão os efeitos ambientais que acarretarão. Acrescentou: se essa guerra se consuma o homem retrocede a tudo que já alcançou em termos materiais e de desenvolvimento e terá que recomeçar.
Nesta ocasião, em que se lembra os doze anos de prisão dos Cinco cubanos presos nos cárceres do império - René González, Ramón Labañino, Gerardo Hernández, Fernando González e Antonio Guerrero - por defenderem sua pátria do terrorismo que tantos males tem trazido ao povo cubano, exorto a todos a se somarem na campanha pela sua libertação, enviando abaixo-assinados e petições ao governo dos Estados Unidos para que reparem a injustiça que cometeram.
Termino com a satisfação de ter novamente o comandante Fidel Castro à frente dessa luta pela paz a toda a humanidade.
A comunicação do cientista político e Editor-Chefe do Jornal INVERTA Aluísio Pampolha Bevilaqua, lida no VI Seminário Internacional Luta contra o Neoliberalismo, busca minuciosamente apresentar estudos referente à crise do capital, situando-a no quadro da geopolítica internacional. Inicialmente desenvolve uma analise critica da crise atual em comparação com a crise econômica que ocorreu no final do século XX (1997 – 1999) envolvendo não apenas a economia mundial, mas também a política e a ideologia.
O estudo sinaliza que durante a crise do capitalismo nos anos 90 manifestou-se o desdobramento do período de globalização, com a apologia de um mundo sem fronteiras, democracia como valor universal, a sociedade pós-industrial, fim das classes sociais e do comunismo, porém nesse novo século retorna uma política agressiva de países imperialistas, como o terrorismo, golpes de Estados, nova expansão neocolonialista e a insegurança geral de confronto hegemônico que ameaça com uma guerra nuclear.
Portanto, a crise econômica que atingiu o mundo, partiu do centro do imperialismo, os Estados Unidos da América, com isso podemos perceber que existe uma falência hegemônica no capitalismo, pois não tem força suficiente para gerenciar a crise, mostrando a fragilidade que o sistema econômico, tendo em vista que tem apresentado um esgotamento no avanço tecnológico e cientifico, e na forma histórica da sociedade capitalista no seu modo de produção de riqueza social.
A crise geral do capital transcende a condição de uma crise dentro dos limites estruturais do capitalismo, que historicamente se apresenta em decorrência da lei geral de acumulação capitalista através dos ciclos econômicos industriais, da superprodução em contradição à superpopulação relativa, configurando a disfunção da correspondência entre produção, consumo e circulação, implicando a perda de dinamismo, impedindo a acumulação ampliada e crise de realização visível na tendência decrescente da taxa de lucro, indicando o default ou crise geral do sistema ( Marx 1886).
Dessa forma, compreende-se que a geopolítica deve ser considerada como uma ciência da disposição do natural e social envolvendo uma estratégia, tanto no setor defensivo, como no ofensivo dos países em relação à sua localização geográfica. Tendo em vista, que os países imperialistas irão utilizar todos seus recursos para não perder a posição hegemônica, ameaçarão invadir os paises que ainda possuem as riquezas naturais e uma ampla biodiversidade, pois é tudo que eles precisam para manter-se em posição de liderança mundial.
Ao final a comunicação apresenta uma proposta de unidade dos países da América Latina. Para que isso ocorra de fato, será necessário que o Brasil entre nesse contexto histórico, fortalecendo a luta contra os países imperialistas, e não aceitando as novas determinações geopolíticas que para defendem os interesses econômicos, apoiados nos planos imperialistas para a superação da crise.
Antonio Cícero e Josiel de Morais