Tragédia na região serrana do Rio expõe limites do capitalismo
“Dizer que o homem vive da natureza significa que a natureza é o corpo dele, com o qual deve se manter em contínuo intercâmbio a fim de não morrer. A afirmação de que a vida física e mental do homem e a natureza são interdependentes, simplesmente significa ser a natureza interdependente consigo mesma, pois o homem é parte dela.”
Karl Marx. Manuscritos econômico-filosóficos.
Nos últimos anos têm sido frequentes as catástrofes naturais, nas quais a classe trabalhadora tem sido a grande prejudicada. Podemos identificar duas causas principais. A primeira é a desestabilização ambiental causada pela ação inconsequente do homem (principalmente dos países ricos) e a segunda é a segregação geográfica que a população mais pobre vem sendo vítima, obrigada a se concentrar em locais de risco, onde conseguem terrenos baratos e livres de impostos.
Na serra fluminense, outros fatores geográficos contribuem ainda mais para calamidades deste tipo, pois além de ser uma área montanhosa, onde a terra da superfície é mais fraca, as nuvens de chuva concentram-se na região. Nos anos de 1988 e 2008 tivemos tragédias parecidas com a última, mas nada foi feito pelo poder público para impedir novas catástrofes. Apesar de respostas do governo e da sociedade em geral, através de abrigos, liberação de verbas, etc., as medidas são paliativas e ocorrem somente após o pior já ter acontecido. Na terça-feira (11/01) o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um boletim que foi ignorado pelas autoridades, informando sobre a possibilidade de chuvas fortes na região.
No mesmo período, a Austrália também foi vítima da fúria da natureza, porém o número de mortos nesse país (cerca de 20) não chega a 5% dos mortos na região serrana, demonstrando como as consequências da exploração capitalista junto ao meio ambiente cairão principalmente sobre os indivíduos pobres, concentrados nos países em desenvolvimento. De acordo com dados do próprio Banco Mundial, a população dos países ricos (20% da população mundial) é responsável pela emissão de cerca de 50% de todo CO2 emitido pela humanidade. Omar Baddour, especialista do WMO (World Meteorological Organization) atribui ao aquecimento global a intensificação de extremos meteorológicos, já que com o derretimento das geleiras e o aumento do vapor de água nos oceanos e florestas a atmosfera fica mais úmida, piorando as chuvas que já são típicas nesta época do ano. A ONU informou, nesta sexta-feira (14/01) que a tragédia ocorrida na região serrana está entre os 10 piores deslizamentos da década.
De acordo com a Defesa Civil, cerca de 40 mil pessoas de Petrópolis (13% da população) moram em áreas de risco. As atitudes do poder público têm se resumido a remoção forçada de parcela pífia destas pessoas e a destruição de suas casas, não respeitando os laços de amizade e afinidade com o local de moradia (algumas pessoas viveram a vida toda na região). A maior parte passa a receber um auxílio mensal que não passa de 300 reais, forçando-os a voltar a morar em locais de difícil acesso, só que dessa vez como locatários. Apenas algumas pessoas recebem uma nova moradia.
A crise ambiental é apenas mais um aspecto da crise capitalista, reflexo da falência do mesmo. Suas contradições não apresentam mais apenas entraves ao desenvolvimento das forças produtivas, mas sim uma ameaça real à própria espécie humana, tornando imperativa sua substituição pelo socialismo. Alguns apresentam as tragédias como um evento metafísico, supostas provas do final dos tempos, quando na verdade estamos diante de um evento histórico que deve ser analisado de maneira científica. Se existe algum fim próximo, este fim é o da era da exploração do homem pelo homem. A solidariedade demonstrada pela população em geral e principalmente por aqueles que mesmo sofrendo com as tragédias ajudam vizinhos e amigos, deixa claro que a classe trabalhadora está disposta a viver num mundo diferente.
Para terminar, deixo um relato particular. No final do ano passado conheci uma família moradora do Vale do Cuiabá, uma das regiões mais afetadas da região. O patriarca da família, seu José do Rego, tinha orgulho de mostrar a sua casa, pois demorou décadas para construí-la, no terreno do sítio de seu patrão. Poucas semanas depois, a chuva e a lama ocuparam tudo. De uma hora para outra o fruto do suor de uma vida inteira estava soterrado. Felizmente toda a família está viva e estão em casas de parentes. Mas para muitos, a realidade foi mais cruel, pois não perderam só o fruto de seu trabalho, mas a razão de viver, que foi embora com algum ente querido. Novamente o capitalismo mostra sua face mais terrível para aqueles que o sustentaram a vida toda. Chega de pagarmos pela crise capitalista! Lutemos para acabar com esse sistema maldito e por uma sociedade harmônica consigo mesma e com a natureza! Ou a humanidade constrói um futuro socialista ou não teremos futuro para construir nada.
Diego G.P.
Comunista petropolitano