Nenhuma Drag Queen será barrada: a luta LGBT

No último dia 29 de janeiro, um grupo de Drag Queens foi barrado por um segurança na entrada de um shopping na região da zona leste de São Paulo. As Drags saíam de um ensaio, montadas, e decidiram almoçar na praça de alimentação do shopping, situada próximo ao local.

No último dia 29 de janeiro, um grupo de Drag Queens foi barrado por um segurança na entrada de um shopping na região da zona leste de São Paulo. As Drags saíam de um ensaio, montadas, e decidiram almoçar na praça de alimentação do shopping, situada próximo ao local.

A gerência foi chamada e respondeu com intolerância e intransigência, humilhando as drags na porta, justificando a proibição com base em uma “lei” que não permitia que as pessoas “entrassem de capacete” no shopping. Um argumento aparentemente sem lógica, mas que tem sim uma linha de raciocínio transfóbico, aliás, pois associa a livre expressão de gênero a uma suposta “ocultação de identidade”. Percebe-se nesse discurso um julgamento moral que desqualifica as pessoas que fogem ao padrão patriarcal binário, em que a genitália define regras de comportamento, estética e posição social.

Em depoimento dado ao jornal Inverta, uma das Drags barradas, Sushi, afirma: “Eu me senti excluído, literalmente, uma vez que fui retirado do shopping, junto com os outros artistas ali presentes, mesmo sem estar de maquiagem. Ficou explícito que não era por causa da maquiagem”.

Não convencidas de que aquilo terminaria ali, as drags se reuniram e organizaram um ato na semana seguinte, na porta do shopping, com o lema “Nenhuma Drag será barrada”. A Juventude 5 de Julho esteve presente no ato, organizado para o domingo, dia 5 de fevereiro. A concentração começou na estação de metrô do bairro, aglutinando cerca de 40 pessoas, em sua maioria LGBTs e Drags, que caminharam pelas ruas do bairro até chegar ao shopping. Com cobertura da imprensa na porta de entrada, e compartilhamentos virtuais ao vivo, as Drags finalmente entraram no shopping, que estava lotado. A comunidade se dividia entre pessoas que apoiavam, pessoas que só olhavam, pessoas que fingiam que nada estava acontecendo ou que resmungavam e que davam risadas. Pela primeira vez na história do bairro, um ato com essas características aconteceu.

A Penha, bairro onde ocorreu o ato, tem origem operária, situada em uma das periferias de São Paulo, que hoje concentra um grande aglomerado populacional. Um dos bairros mais antigos da zona leste, caracterizado muitas vezes como uma região tradicional, por conta de sua intensa atividade comercial, mas que apesar dos anos continua pobre.

Outras Drags, que não tinham sido barradas na semana anterior se somaram ao protesto e todas fizeram o bairro tremer naquele domingo ensolarado. Sem deixar a maquiagem borrar, afrontando a violência moral sem descer do salto, as Drags bateram cabelo e deram um baile de cidadania e direitos humanos.

A intolerância e o preconceito com características transfóbicas e homofóbicas infelizmente são frequentemente praticadas e muitas vezes legitimadas em nossa sociedade. Em pleno século XXI, esse debate sobre os direitos LGBTs vem à tona na tentativa de combater a discriminação e garantir a diversidade de gênero e sexualidade para as pessoas LGBTs. Ainda sim, para além de todo o debate e luta, o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas LGBTs no mundo, com cerca de 1,6 mil assassinatos nos últimos quatro anos e meio. Isso só levando em conta os casos que vêm a público. Além da violência física, verbal e moral que sofrem, as pessoas LGBTs, principalmente as transgênero, ainda encontram muita dificuldade para serem admitidas no mercado de trabalho, pois suas características fora dos padrões heteronormativos são mal vistas aos olhos dos contratantes. Sendo assim, muitas pessoas transgênero encontram na prostituição ou em trabalhos informais a única forma de sustento, o que não é ilegítimo e nem imoral, mas, quando é a única alternativa se torna ainda mais um elemento de marginalização.

Devemos lutar contra a intolerância a sexualidades desviantes e também contra a violência de gênero que ainda é estruturante em nossa sociedade. A homossexualidade ainda é tabu para muitas pessoas, o machismo e a misoginia afetam tanto mulheres trans quanto cisgênero, a transfobia ceifa vidas e reprime os corpos, como nesse caso do shopping. Para inverter essa equação é preciso criar espaços para a construção de uma sociedade socialista, em que a diversidade esteja presente e seja garantida plenamente para todos os setores da sociedade.

Soraia B. e Ave Terrena