A Humanidade necessita impedir tragédias como a de Nova Friburgo

O jornal Inverta na sua edição número 408, em janeiro de 2007, há exatos quatro anos, publicou matéria a respeito das chuvas que atingiram a população friburguense.

O jornal Inverta na sua edição número 408, em janeiro de 2007, há exatos quatro anos, publicou matéria a respeito das chuvas que atingiram a população friburguense. A matéria alertava a necessidade científica, técnica e política de planejamento de zoneamento urbano e ações preventivas as alterações climáticas que são fatais a geografia do município.

O alerta protagonizado por duas friburguenses, Hellen Knupp e Nancy Rocha; sendo a primeira campeã brasileira e terceiro lugar internacional em 2009 na modalidade esportiva de Jiu Jitsu; e a segunda diretora executiva do Centro Cultural Casa das Américas – Núcleo Nova Friburgo e da sucursal no Rio de Janeiro do Jornal Inverta; e indagava : “Será que precisaremos ter mais vítimas fatais para que as autoridades constituídas repensem sobre o saneamento urbano que contemple a população de Nova Friburgo - Rio de Janeiro (...)?”

 

Tragicamente já se obteve a resposta. No dia 25 de janeiro, data em que foi fechada essa matéria, o número de mortos era de 826 em toda região serrana desses são 399 mortos em Friburgo, 335 em Teresópolis, 67 em Petrópolis, 21 em Sumidouro, quatro em São José do Vale do Rio Preto e um Bom Jardim. Além dos 511 desaparecidos na região, em Nova Friburgo são aproximadamente duzentos desaparecidos. Mais de 20 mil pessoas estão desalojadas e desabrigadas em sete municípios da região. Em Petrópolis são 3.600 desabrigados, e 2.800 desalojados. Em Teresópolis, 960 desalojados, e 1.280 desabrigados, em Nova Friburgo 3.220 desalojados, e 1.970 desabrigados, em Bom jardim 632 desalojados, e 142 desabrigados, em São José do Vale do Rio Preto 3.020 desabrigados e desalojados, e em Areal 1.480 desabrigados e 130 desalojados. Em Sumidouro são 200 desabrigados. Ao todo, 72.355 pessoas foram afetadas pelas chuvas, segundo a Defesa Civil.

Sim! Lastimavelmente mais pessoas são mortas, a cidade está destruída, a economia parada. A população duramente castigada, pois viu o trabalho de toda sua vida para construção de suas casas, em locais de risco por não terem outra oportunidade, se desmoronando, sendo arrastadas pela correnteza das águas . A perda de filhos, pais, irmãos, parentes e amigos soterrados pela lama da serra que se desabava pela força da alteração climática e do descaso do poder público. E os que sobreviveram no meio da lama, sem água e energia, não sabem por onde e como recomeçar.

Nos últimos anos desastres como esses foram frequentes, tais como desastre do Vale do Itajaí em Santa Catarina que deixou cento e trinta mortes; o desabamento em Angra dos Reis em Ilha Grande com dezenas de mortes e mil famílias desabrigadas em janeiro do último ano; em Niterói no Morro do Bumba e no Rio de Janeiro no Morro dos Prazeres, também centenas de pessoas foram mortas em abril de 2010; e em junho de 2010 em Pernambuco e Alagoas dezenas de milhares de pessoas ficaram desabrigadas e cinquenta e três pessoas mortas. Esses fatos revelam, primeiramente, uma maior incidência e intensidade desses eventos, que possivelmente está relacionado com as alterações climáticas. E o que é evidente em todos esses fenômenos é a falta de políticas preventivas.

Sem dúvida há estudos suficientes para planos preventivos seja no ramo da hidrologia onde as leituras das series hidrológicas permite calcular os riscos de ocorrência de chuvas como essas. Como também, é possível determinar as áreas com risco de deslizamento estudando o uso do solo e a declividade do terreno.

No caso da cidade de Nova Friburgo sua formação geológica de sedimentos vulcânicos, com formação calcária provoca não só deslizamentos como afundamentos, agravando a situação da cidade.

As Furnas do Catete são um conjunto de grutas ou cavernas formadas entre gigantescos blocos de rocha (matacões), na margem direita do rio Bengalas, em Nova Friburgo. Nas encostas do Alto do Catete, esta possui uma série de minerais bem mais sensíveis ao ataque dos agentes da erosão (diferenças de temperatura, ação das águas, de bactérias e fungos). A ação destes agentes gera um espesso pacote de solo e rocha "podre" acima deste gnaisse. A suave encosta é formada por este tipo de material. Portanto, mostrando a particularidade geológica da cidade mais susceptível à erosão.

 

Além disso, a cidade de Nova Friburgo com a população 182.016habitantes, já possui sua área central saturada, o que empurra cada vez mais pessoas para áreas de riscos, notadamente por falta de condições financeiras.

Portanto, os estudos desses fatores naturais e sociais fundamentam o planejamento estratégico de políticas preventivas.

Mas a política preventiva é falha. Em uma cidade como Nova Friburgo deve haver um medidor pluviométrico para que em caso de medições altas seja soado o alarme e a população treinada se desloque para um abrigo seguro. Em Friburgo há o alarme de chuvas, mas a população não está treinada para evacuação para um abrigo seguro.

O Instituto Nacional de Metrologia afirma que na proporção e na intensidade com que as chuvas caíram não havia como evitar que uma tragédia acontecesse. Mas em Petrópolis, cidade serrana vizinha de Nova Friburgo, o Instituto não instalou uma estação de medição de chuva.

Verifica-se assim um problema de fundo geológico e ambiental que solicita um estudo mais aprofundado para a real solução do problema a, curto, médio e longo prazo. Sobretudo, a solicitação de decisão política para investimento neste estudo.

Mas a decisão para ação de impedir tragédias como de Nova Friburgo que são derivadas por falta de estudo geológico para o planejamento de zoneamento urbano e estratégico de políticas preventivas, pauta o elemento essencial para o interesse de preservar a vida humana.

 

 

O aquecimento Global

A atividade humana é um agente determinante da vida no planeta. E a emissão de gás carbônico é um indicador desta atividade. Sobre isto há um consenso. Nessas últimas décadas ocorreram vários encontros no mundo e variáveis do tema estão sendo discutidas.

O glaciólogo francês Claude Lorius, afirma em seus estudos que há uma nova era geológica, a era Antropoceno, quando o homem tomou controle do planeta, há duzentos anos, com início da máquina a vapor, dando inicio a uma fase que o homem desregulou o planeta.

Além disso existem diversos acordos internacionais para mitigar o aquecimento global, pois os impactos da elevação da temperatura e consequentemente do nível médio dos mares trarão consequência trágicas para humanidade. Um exemplo disso são as ilhas da Papúa Nova Guiné que correm o risco de afundar. Em Copenhague no ano 2009 foram propostas medidas rigorosas para controlar o aquecimento global, para alcançar um aumento de temperatura de no máximo 1,5ºC até 2050 em comparação a 1850. Há ainda outro acordo internacional envolvendo vários países, é o Protocolo de Quioto afim de reduzir o aquecimento global que estabelece metas para países para que países controlassem as emissões de gás carbônico. Os Estados Unidos recusaram-se a participar. Muito embora essas medidas sejam importantes para reduzir os efeitos dessa nova era elas não interromperão o processo de aumento da temperatura no planeta.

Cientista político, Aluisio Pampolha Beviláqua, editor do jornal inverta, em seus estudos também defende que o aquecimento global que enxergamos hoje começou com a revolução industrial. No processo de substituição da máquina pelo homem cresceram as contradições antagônicas nas relações homem e natureza que globalizada pelo movimento de expansão do modo de produção capitalista no planeta redundou na situação atual. O desenvolvimento deste processo de acumulação de capital conduziu a corrida colonial por fontes de matérias primas; e o petróleo, em especial, passou a ser fundamental na composição orgânica do capital na substituição da força muscular pela força motriz com base na energia de combustível fóssil. Assim o que se manifesta na sociedade humana:

a) guerras por nova repartição territorial do planeta;

b) o processo de dependência do petróleo pelo desenvolvimento industrial capitalista eleva o valor de preços devido aos custos de sua produção; e um novo período de crises gerais é retomado como crises cíclicas a partir de meados de 1970;

c) a corrida armamentista e aeroespacial, que mergulhou a Europa num déficit comercial e dívida estatal rompeu com o Tratado de Bretton Woods;

d) a crise nos anos de 1980, com a manipulação do mercado financeiro pelos EUA, derrubou o Japão e levou os países da Ásia à depressão nos anos de 1990;

e) a América Latina é atingida com a derrubada do seu mercado financeiro e na instabilidade sua moeda;

Assim, o estado de Bem Estar e a paridade do dólar-ouro revelam-se como muralha de papel por não resistir ao tufão da crise do capital.

Em sua agonia o sistema capitalista responde com o neoliberalismo, cuja vocação e meta principal é demolir o monopólio estatal através da privatização, desregulamentar o mercado retirando o poder de planejamento e intervenção do estado no mesmo, liquidar todas as conquistas de proteção social previdenciárias, de saúde e de regulação de contrato de trabalho, avançar para a hegemonia americana mundial, desestruturar o campo socialista para incorporar os mesmos como mercado.

O governo norte americano com sua crise manifesta em 2009 tende a protagonizar a crise geral da acumulação capitalista. E o que fará para manter sua hegemonia com sua dependência a matriz energética do combustível fóssil petróleo?

Vários ambientalistas fundamentam a necessidade a mudança da matriz energética do combustível fóssil para o bicombustível, conforme apregoam os EUA.

No entanto, a produção do bicombustível sem que se altere o modo de produzir e reproduzir da existência humana no planeta sem que seja capaz a humanidade fazer-se a si própria, não conduzirá a atividade não antagônica homem e natureza. De modo que é necessário afirmar que não há como parar, frear hoje um processo que iniciou a mais de dois séculos com a substituição de uma matriz energética por outra. É preciso buscar ainda outra alternativa.

Assim, diante catástrofe como a de Nova Friburgo, devido às alterações climáticas; pergunta-se: como o Aquecimento Global e a catástrofe em Friburgo estão relacionados?

É evidente que a população está esmagada com o sistema capitalista que desenvolve a relação antagônica homem e natureza, tentando desassociá-los. Mas o homem é parte da natureza. E para transformá-la é preciso aceitar os limites de não destruí-la.

Por isso a discussão do assunto deve extrapolar o âmbito das políticas públicas e das medidas técnicos preventivas; bem como extrapolar a responsabilização focal e individual por construção de moradias em áreas de risco. E neste sentido o ensaio sobre as alterações climáticas e relação homem e natureza desenvolvido sob o título: “As alterações Climáticas e Globalização Neoliberal: Uma Análise Marxista”, embasa a reflexão do problema ao analisar que :

“ Neste sentido, o modo de fazer-se a si mesmo que poderia adotar a humanidade, tendo em vista, tanto a experiência do modo de produção capitalista, quanto a experiência de modo de produção socialista, em nossa posição é que apesar do modo de produção socialista , também contribuir em suas condições de existência atual para contradição antagônica da sociedade humana com a natureza, por seu próprio paradigma, que é resolver a contradição entre o capital e o trabalho pela abolição da propriedade privada capitalista e a instituição da propriedade coletiva sobre os meios de produção, constitui-se na única possibilidade concreta de desenvolvimento da sociedade humana., em que o homem não entre em contradição antagônica com a natureza, dada a mudança de caráter privado ao coletivo da mesma. E isto, não se consegue sem uma revolução social.”( Beviláqua, Aluísio P., 2007)

Logo, é correto afirmar a necessidade imediata de cidades como Nova Friburgo, Rio de Janeiro; e todos os Estados se mobilizarem por políticas publicas preventivas e planejamento de zoneamento urbano, para que mais uma vez não ocorra um evento como esse e não sejam tomadas apenas medidas curativas. No entanto , não se pode esquecer que a única forma de alcançar a garantia de condições dignas de vida é com a revolução rumo ao socialismo, onde todos possam valorizar cada vida e não banalizar mortes culpando a natureza, com o objetivo de alcançar o ideal da relação não antagônica da sociedade humana e natureza.

Maisa Queiroz

 

Fontes:

BEVILÁQUA, ALUÍSIO P., As alterações Climáticas e Globalização Neoliberal: Uma Análise Marxista. Rio de Janeiro, INVERTA: 2007

BVILA, P.I., Reacender a chama: teses sobre a Revolução Brasileira. Rio de Janeiro: INVERTA,1996

MARX, K., O Capital: Crítica a Economia Política, Livro1, Volume 1, in BEVILÁQUA, ALUÍSIO P., As alterações Climáticas e Globalização Neoliberal: Uma Análise Marxista. Rio de Janeiro, INVERTA: 2007

http://jornalorebate.com.br/site/internacional/6483-benvindo-a-uma-nova-era-geologica-o-antropoceno