Mulheres não deixem de ler esse texto!

Em Março, no mês das Mulheres, no mês do FSM, perdemos Marielle, mulher com M maiúsculo que lutou e mesmo sendo cria do complexo da Maré conquistou um curriculo admirável, pouco comum para as nossas realidades.

Em Março, no mês das Mulheres, no mês do FSM, perdemos Marielle, mulher com M maiúsculo que lutou e mesmo sendo cria do complexo da Maré conquistou um curriculo admirável, pouco comum para as nossas realidades . A luta de quem luta é para gerar oportunidades e direitos, sonhando que cada vez mais nasçam Marielles em nossas favelas, nas periferias nos campos, nos acampamentos …

Hoje o Rio chora mais uma vez a perda de uma guerreira, mas, infelizmente em todo país, matam líderes que defendem bravamente algum ideal, sejam elas líderes políticas, indígenas, camponesas, líderes comunitárias ou líderes religiosas.

O feminicídio de mulheres empoderadas é um reflexo do preconceito e do ódio de pessoas que não admitem se tornar o alvo da luta de uma mulher , parece que sentem confiança na impunidade por tirar a vida de uma mulher, já que ainda não temos uma política pública de segurança feminina, que já deveria executar a questão de gênero como um de seus temas centrais. A educação pública e privada devem também buscar incluir a educação de gêneros nos currículos escolares. A criança e o adolescente de hoje precisam estar preparados para entender direitos fundamentais e com isso, se tornarem adultos capazes de compreender que feminicídio é uma questão central e multiprejudicial à grande parte da população brasileira, que é a feminina.

Os números são alarmantes mas, muitos casos passam desapercebidos por grande parte da população, afinal nem todas as guerreiras que são assassinadas ou violentadas, recebem destaque na grande mídia. Na semana passada uma líder do movimento das catadoras de coco de babaçu, no Piauí, quase morreu esfaqueada pela disputa de uma cerca, mas, infelizmente não tiveram a mesma sorte as outras mulheres líderes que já foram assassinadas no Brasil .

Lamentavelmente em menos de uma década perdemos a Juíza Patricia Accioly morta na porta de casa no Rio, a líder religiosa Yá Mukumby, foi assassinada com sua mãe e neta. Mataram a líder Ruralm, Kátia Martins, assassinada na frente do neto de apenas oito anos. No Amazonas a líder da comunidade Portelinha, Maria das Dores, foi sequestrada, torturada e assassinada , no Pará tiraram a vida da Maria Trindade, líder quilombola de 69 anos que foi morta e enterrada com o corpo apresentando sinais de violência sexual, em 2005 no mesmo estado também foi assassinada a missionária Dorothy Stangm, com seis tiros, aos 73 anos de idade . Ano passado a presidente da associação de moradores da Cidade Alta no Rio , Gloria Maria, em Salvador a líder comunitária Lindinalva de Oliveira, 56 anos, e em São Paulo a lider comunitária, Matide Cruz ,também foram assassinadas. Assim como também perdemos a líder do movimento agrícola, Terezinha Rios, a líder do movimento Ribeirinho, Nilce de Souza, a lider do movimento sem terra Jocélia e sua filha Emanuelly de 5 anos que foi assassinada junto com a sua mãe em um acampamento no Paraná. Em Rondônia mataram a machadadas uma lider camponesa , mulheres com vozes relevantes e potentes que calaram se.

Sabemos o quanto é dificil ser mulher, imagina o quanto é difícil ser uma mulher que luta pelo seus ideais, ser uma mulher de personalidade forte, não é facil ser uma mulher que desminta o título de "sexo frágil " , dificil ser uma mulher que luta pela sua vida e ainda mais dificil seguir na luta pela vida dos nossos. Marielle e todas essas outras mulheres vitimas de crimes hediondos devem ser exemplos de que podemos ser o que quisermos ser, deixaram um legado de determinação e de lutas . Não mataram uma vereadora, não mataram líderes, cada vez que matam uma líder Brasileira , matam os sonhos da nossa gente e assassinam o Estado democrático por direito . Com tantas mortes , tantos ódios mas, não vão calar a voz daquelas que são e vão vir a ser as " mães da nação " , calaram a voz da Marielle, mas, não a nossa. Por mim, por você, pelo futuro, não desistam , não se calem , lutem até o fim, por justiça e pelo exercício fundamental da democracia, lutaremos juntas contra todas as adversidades. Que o medo não nos faça sucumbir, que ele nos catapulte !

Carla Pereira Moreira

Vice presidente da Associação de

Mulheres da Ilha do Governador.