Palestra do escritor angolano Pepetela sobre a sua obra
No dia 17 de novembro foi realizada no IFCS (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais), da UFRJ, uma palestra com o escritor angolano Artur Carlos Pestana dos Santos, mais conhecido como Pepetela, de 75 anos, que em 1997 ganhou o Prêmio Camões de Escritores de Língua Portuguesa. Autor de várias obras da literatura angolana, como Mayombe, Geração da Utopia, Yaka, A Gloriosa Família, Quase fim do mundo, O Planalto e a Estepe, e Os Predadores.
No início da conversa, Pepetela agradeceu a todos os presentes ao evento e, respondendo à primeira pergunta sobre a influência da história na sua literatura, disse que frequentou na Universidade de Letras de Lisboa, Portugal, em 1961, apenas duas aulas. “Eu me interessei mais pela sociologia, que foi o estudo em que mais me debrucei, principalmente sobre os mitos que eram mostrados, geralmente por pessoas vindas das metrópoles coloniais e que tinham uma visão extremamente errada da história civilizacional africana. Eles não contavam a história da África antes da colonização europeia, mas apenas a visão eurocêntrica e etnocêntrica da antropologia. E isto não era verdade, uma vez que em todos os locais do continente haviam vestígios de reinos complexos de nações africanas que tinham influência da cultura árabe e que se podia estudar por causa da língua escrita. Na minha literatura eu desenvolvi vários dos mitos da cultura, tanto de Angola como de outras nações da região”; afirmou o escritor angolano.
Ao ser perguntado sobre a relação entre as várias passagens de sua vida e suas obras literárias, e como isso foi resultando na sua produção escrita durante todo este tempo, começando por “Mayombe”, depois com “Geração da Utopia” e mais adiante com “Os Predadores”, Pepetela respondeu que “Mayombe” foi escrito durante a guerrilha pela libertação de Angola do domínio colonial e as várias relações entre os grupos sociais, políticos e étnicos que participavam da luta armada. “Mayombe” foi concluído em 1971 e mostrou a experiência da guerrilha pela independência em relação a Portugal. “Geração da Utopia” foi escrito depois de Mayombe, em 1972, e concluído em 1992, e retrata uma Angola independente, mas questiona os caminhos do país em relação a uma sociedade igualitária e fraterna, o que não aconteceu. Já “Os Predadores” foi escrito em 2006, e é uma crítica à burguesia parasitária nascida em Angola, que era muito ligada aos recursos e fundos do Estado, e por isso, como qualquer classe exploradora, não tem escrúpulos em corromper e roubar o Estado e o povo para se manter no poder.
Sobre a influência brasileira na cultura angolana, Pepetela afirmou que este é um fato, pois os escritores do país, como Agostinho Neto, que depois foi presidente pelo MPLA, citavam vários autores brasileiros, entre eles Castro Alves, pela grande influência na luta em defesa dos povos negros demonstrada em suas obras. Na década de 1950, as revistas que se liam em Angola eram as brasileiras, Manchete e O Cruzeiro, além dos escritores brasileiros como José Lins do Rego, Jorge Amado, entre outros, que também eram referência no país.
A presença de cubanos em Angola na luta pela libertação também foi tema das perguntas do público, sobre como isso influenciou o intercâmbio cultural de ambos povos. Pepetela respondeu que essa relação foi muito importante para Angola, uma vez que muitos médicos e professores cubanos foram para Angola ajudar solidariamente a população do país. “O povo reconheceu esta demonstração de amizade entre as duas nações, embora a relação entre os governos tenha estremecido quando Angola decidiu seguir o sistema capitalista no seu desenvolvimento. Quando houve o Acordo de Nova Iorque em 1989, em que a África do Sul foi obrigada pela ONU a devolver a Namíbia e não anexar Angola em seu território, em troca da retirada dos soldados cubanos de Angola, a saída do destacamento militar de Cuba da capital, Luanda, foi um momento emocionante para a população angolana que se despediu dos cubanos com lágrimas nos olhos”.
Julio Cesar de Freixo Lobo