O que os meios não falam: a violência nos Estados Unidos
Muitos estadunidenses foram pegos de surpresa quando, da noite para o dia, passaram de trabalhadores de classe média a sem-teto, que dependem de programas sociais para alimentar sua família. O Departamento de Trabalho anunciou no dia 8 de julho deste ano, que o desemprego está em 9,2%. Segundo o Censo realizado pelo governo estadunidense em 2009, 43,6 milhões de pessoas viviam abaixo do nível de pobreza. A organização Feed the Hungry (Alimente os Famintos em inglês) afirma em sua página web que em 2009 proveu “assistência alimentícia emergencial” para 37 milhões de pessoas. Em 2009, a população sem-teto nos EUA era de 656.129; hoje, segundo o governamental Interagency Council on Homelesness (Conselho Inter-agencial sobre os Sem-Teto em inglês) só as crianças matriculadas no sistema público de educação que não têm onde viver chegam a 939.903. Estas, entre outras tantas cifras e indicadores econômicos, pintam um quadro muito triste para o povo estadunidense, especialmente quando o acordo político entre republicanos e democratas implica em reduzir em 900 bilhões os gastos públicos na próxima década.
Pior ainda o quadro para o povo trabalhador quando consideramos que a violência parece ser a via escolhida por muitos indivíduos para canalizar seu desespero. O relatório elaborado pelo governo chinês neste ano sobre o Estado dos Direitos Humanos nos EUA já tinha indicado este país como o mais violento do mundo. Um povo sem perspectivas de transformação, que não está unido na luta, é responsável por e, ao mesmo tempo, vítima de 32 homicídios diários por arma de fogo. Enquanto a classe dominante recebe ajuda financeira, a classe trabalhadora se mata entre si.
Chicago, por exemplo, é hoje testemunha de uma barbárie sem precedentes. A cidade com um histórico inquestionável de luta, de onde saíram nossos mártires do primeiro de maio; cidade também famosa pelas arbitrariedades da polícia e das máfias durante a grande crise de 1929; viu morrer em suas ruas no ano de 2008 mais estadunidenses que na guerra do Iraque. Um caso específico publicado pelo canal CBS noticia que dois ciclistas tinham sido arrancados de suas bicicletas, espancados e jogados ao rio por um grupo de pelo menos 100 jovens.
Claro, a resposta das autoridades é aumentar a repressão. O capítulo local da PressTV, agência de notícias iraniana, denuncia que em Chicago, até o dia 2 de agosto de 2011, a segunda maior força policial do país já tinha matado mais pessoas que em todo o ano passado, e que 86% das pessoas contra as quais disparou a polícia eram negros. Segundo relatório da ONU em 2008, a violência policial e, em particular, a discriminação racial e étnica na conduta policial (racial profiling) é preocupante e uma das principais violações dos direitos humanos neste país.
No entanto, a violência mais brutal e constante não é perseguida pela polícia nem sai nos jornais. No dia 21 de julho deste ano, foi publicado o resultado da auditoria realizada pelos EUA à Reserva Federal. Sob uma suposta “independência do Banco central”, o Fed é administrado pelo setor privado e nunca tinha sido auditado. Segundo denunciou o senador estadunidense Bernie Sanders, o Fed entregou “$16 trilhões em empréstimos secretos para salvar bancos e negócios estadunidenses e estrangeiros” sob o plano de resgate emergencial da crise, sem processo licitatório algum. Esse valor é superior ao PIB estadunidense ($14,5 trilhões em 2010).
Essa crise estrutural é resultado da própria dinâmica do capital, é intrínseca a ele e não poderá ser resolvida utilizando os mesmos mecanismos que a causaram. As condições de vida dos estadunidenses e seu detrimento são reflexo disso, “os de baixo já não querem mais viver como antes”. O impasse político das facções dominantes nos EUA é reflexo disso, porque já suas contradições internas não permitem “os de cima viver como até então”. O quê fará o povo estadunidense? O que fará o governo estadunidense para contê-lo? A luta de classes está evidente para quem queira ver e a teoria marxista cobra vigência contra aqueles que tentam ocultá-la.