CONCLAT: Crônica de uma morte anunciada

O Jornal Inverta cobriu o CONCLAT em Santos e analise nesta matéria as limitações de uma central de trabalhadores que já nasce rachada

Hoje foi realizado o primeiro CONCLAT (Congresso da Classe Trabalhadora) na cidade portuária de Santos, estado de São Paulo, no centro de Convenções Mendes (foi-se a época em que a classe operária se reunia nas sedes das suas entidades de base). Segundo a organização do evento, estão presentes 4.000 pessoas, entre delegados (as) e observadores (as).

 

O dia começou chuvoso. O sol quis aparecer, mas o céu, já na hora do almoço, ficou encoberto. As atividades, que tinham seu início previsto para as 9 horas da manhã, começaram com mais de duas horas de atraso. Nas falas de abertura, muitas palavras de ordem denunciando o governo Lula e chamando a unidade da esquerda. Compuseram a mesa integrantes dos movimentos organizadores (Conlutas, Intersindical, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Movimento Terra e Liberdade, Pastoral Operária Metropolitana de São Paulo e Movimento Avançado Sindical) e o pré-candidato à presidência pelo PSTU. Houve também uma apresentação dos delegados internacionais convidados presentes. Entre eles, Orlando Chirinos, sindicalista venezuelano, forte opositor do governo bolivariano de Hugo Chávez, um dos principais fatores de conflito, dissidência e discórdia no esforço de reconstruir a central operária da Venezuela - a UNT (Unión Nacional de Trabajadores) da qual ele foi fundador, apesar de não ter sido convidado.

 

Depois do almoço, o plenário lotou para realizar o debate das teses. E foi aí que tudo começou. A lavação de roupa suja, expressando o descontentamento e descrédito das bases com as direções de seus sindicatos, rolou solta. Choveu canivetes para todos os lados! Muitos buscavam realmente rachar algo que ainda nem existe. Poucas intervenções ocorreram no sentido de debater a fundo o conteúdo das teses, expressando propostas concretas com o objetivo de se criar um programa de unidade real. Temas como a estabilidade no trabalho, o fim do imposto sindical, o primeiro emprego, a redução da jornada para 40 horas semanais, mal foram tocados. As intervenções estavam permeadas de mágoas e ressentimentos com relação à atuação da INTERSINDICAL e CONLUTAS durantes seus anos de existência.

 

Como era de se esperar, o atraso prejudicou o andamento das discussões, inviabilizando a reunião dos Grupos de Trabalho (GTs) ainda hoje, provocando, obviamente, um atraso no calendário previsto para o dia do encerramento e levantando a preocupação de alguns participantes de que a discussão será atropelada em função da falta de tempo. Aqueles que estavam realmente indignados com a proposta votada e ratificada em plenária de postergar a reunião dos GTs, ficaram ainda mais revoltados quando a organização do evento decidiu garantir a realização de um ato previsto com o pré-candidato à presidência pelo PSTU, Zé Maria, para ocorrer após o encerramento das votações das teses. Ou seja, garantir as discussões das teses e o andamento dos GTs para a construção de um programa de unidade ficou em segundo plano frente ao ato de Zé Maria, que concentrou sua fala em desmoralizar o PSOL.

 

A sensação hoje foi de assistir a crônica de uma morte anunciada (para aqueles que acreditam que este é o instrumento para construir a unidade da classe trabalhadora). Ou melhor, a sensação foi de assistir o nascimento de uma central já rachada em sua origem, marcada pelos velhos hábitos da aristocracia operária, que não representa e nem pretende representar os reais interesses da classe trabalhadora.

 

Santos, 05 de junho de 2010


Sucursal São Paulo