20 anos de vida, uma enorme crise e ausência de identidade: eis o PSDB, o carro forte da burguesia na política.

O PSDB completa 20 anos de história em meio à corrupção em gestões estaduais e municipais. Sua história coincide com a inclusão brasileira no neoliberalismo. A sigla que construi-se de cima para baixo, vive hoje uma de suas maiores crises e corre o risco de perder o papel que sempre ocupou: o da defesa dos interesses da burguesia.

20 anos de vida, uma enorme crise e ausência de identidade: eis o PSDB, o carro forte da burguesia na política.


“Choque de capitalismo”, este foi o lema de Mário Covas na campanha presidencial de 1989 pelo recém criado Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) que no último domingo, 22 de junho, completou 20 de história. Fundado um ano antes, no “racha” de uma ala no interior do PMDB contrária às ações de José Sarney – um dos oligarcas que mais atrelado ao poder este país já viu. Esta ala que era encabeçada por parlamentares que tinham à frente o sociólogo “ex-marxista” e à época senador, Fernando Henrique Cardoso, e o próprio Mário Covas, obteve já em sua primeira campanha à presidência o 4° lugar na votação. Naquela mesma eleição saíra vitorioso Fernando Collor de Melo que três anos mais tarde, depois de uma intensa campanha democrática é expulso do Itamaraty através de um impeachment.

Nestes 20 anos de história, essa sigla concorreu com as outras agremiações para manter altos cargos à frente dos principais colégios eleitorais do país, principalmente São Paulo e Minas Gerais. Mas é necessário destacar que a concorrência se deu mesmo no interior da própria cúpula da burguesia para disputa de qual a agremiação melhor poderia lhe representar na recém reformada “democracia”. O PSDB já dava mostras de competência para tal tarefa.

Ainda em 1992, a sigla passa a integrar o governo de Itamar Franco. Em 1993, F.H.C. encabeçaria então o ministério da Fazenda e lá reuniria a equipe que formularia o Plano Real. A sigla cresce e passa a contar com 317 prefeituras em todo o país, além de 3274 vereadores.

Em 1994 tendo o Plano Real como principal lema de campanha, F.H.C. elege-se presidente pelo partido. Permanece à frente do executivo brasileiro por duas gestões, mas deixou um legado de propinas, fraudes e má administração, com a intenção de abrir o mercado brasileiro para o capital estrangeiro privatizou empresas como a Vale do Rio Doce e a Telebrás. Desmantelou muitos dos já precários serviços públicos e acabou seu segundo mandato com uma concentração de renda maior do que quando assumiu o Palácio do Planalto.

Em São Paulo

No estado, o PSDB disputa as eleições desde seus primeiros dias e sempre contou com certa resposta favorável nas urnas. Mário Covas permaneceu no governo por 8 anos e com sua morte, quem assume seria um de seus principais dirigentes: Geraldo Alckmin. Este permaneceu no cargo por mais dois mandatos. A briga entre Alckmin e José Serra começou na disputa das eleições presidenciais de 2002 contra o atual presidente Lula. Serra venceu a disputa interna enquanto Alckmin voltou ao governo de São Paulo.

Serra também volta às disputas eleitorais em São Paulo após a derrota, mas para disputar a prefeitura. Hoje a crise que assombra os tucanos fica por conta da aliança com os Democratas de Gilberto Kassab, atual prefeito da cidade eleito numa brecha criada pela constituição em que, quando da saída do primeiro mandatário eleito, assume o seu vice, mesmo que este pertença a outra sigla e com outras diretrizes políticas. No caso paulistano, a estrutura política ficou praticamente intacta. Na saída de Serra para a disputa presidencial e na entrada de Kassab, seu vice, à prefeitura: a direita permanece com o governo, retirando os direitos conquistados pelos trabalhadores, enquanto que as grandes multinacionais instaladas em São Paulo aumentam suas taxas de lucro. Estas e a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) tem muito a agradecer a todos estes anos de gestão tucana à frente do estado e prefeitura.

Alguns serviços públicos criados na gestão anterior que estava com o PT e tinha Marta Suplicy à frente da prefeitura também foram desmantelados. Esta gestão que, para “poder governar”, como declararam inúmeras vezes os portas vozes petistas, “tiveram de apoiar-se” em setores da burguesia local. Aliaram-se ao que havia de pior na política paulistana, mas ainda assim haviam conseguido criar alguns aparelhos para a melhora do nível de vida do proletariado. Dentre eles destacam-se a criação dos C.E.U.'s (Centro de Educação Unificados) criados em muitas das áreas mais pobres do município. Estes centros ofereciam aulas de informática, capoeira, cidadania e outros serviços, a maior parte deles gratuitos e destinados às populações das comunidades nas quais estavam inseridos. Quase a totalidade do funcionalismo público paulistano foi adaptado à utilização de softwares livres em ambiente Linux. E foram criados bilhetes únicos (que possibilitavam o acesso de 4 viagens com 2,15 reais desembolsados pelos trabalhadores que o utilizassem num período de 2 horas), dentre outras medidas um pouco mais progressistas em relação ao que se viu durantes os 8 anos anteriores de gestão Paulo Maluf e Celso Pitta (seu fiel escudeiro), e nos 4 seguintes de Serra e Kassab.

Hoje, os CEUS estão abandonados, a passagem de ônibus subiu para 2,30 reais (enquanto que a de metro atingiu 2,40 reais) e o Windows voltou a imperar em todos os terminais públicos e do funcionalismo da cidade.

Crise aos 20.

Nos outros estados o PSDB enfrenta algumas crises que estão abalando o partido. No Rio Grande do Sul a governadora Yeda Crusius demitiu quatro secretários diretamente ligados à ela, acusados de corrupção e desvio de aproximadamente R$ 44 milhões do Detran gaúcho. Por ser um mandato recente, Yeda conta com poucas cadeiras e alianças para aprovação de impostos na Assembléia do estado. Atualmente o PSDB administra 14 dos 496 municípios do estado do RS e a administração de Yeda já tem previsão fiscal de fechar o ano com quebra de R$ 1,2 bilhões.

Na Paraíba o governador tucano Cássio Cunha Lima, foi cassado duas vezes pelo tribunal superior eleitoral por abuso de poder, acusações estas que o tirou do cargo por decisão do TRE.

Ainda há uma possível instauração de CPI para apurar as suspeitas de que a multinacional Alstom tenha pago propina aos tucanos de São Paulo em troca de contratos favoráveis à empresa dentro do Estado.

A Operação Santa Tereza da Polícia Federal que apontou o prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão como beneficiário de desvios do BNDES.

Uma crise de identidade.

Recontar a história do PSDB chega a ser contraditório. Como falar de um Partido que leva no nome de “Social Democracia”, mas sem falar do povo, da classe? Mas é assim que ocorre quando falamos dessa legenda. O Partido foi forjado “de cima para baixo” nas palavras de um de seus principais quadros, o próprio candidato à prefeitura de São Paulo (escolhido no evento que marcou seus 20 anos): Geraldo Alckmin. Um grupo de parlamentares, desligados das organizações de massas, da classe trabalhadora em geral, constrói-se e passa a disputar eleições tanto no executivo quanto no legislativo. Mas o mais interessante é: as vence. Talvez isso só seja possível numa sociedade com tamanho desempenho dos meios de comunicação de massas ligados em sua maioria ao grande capital. E exatamente isso o que ocorreu. Pronto, forjou-se a aliança que faltava para a plena hegemonia da burguesia sobre a nação e sobre o povo brasileiro: um partido atuando no Estado, empresas de comunicação forjando e remoldando a ideologia nacional – e esta numa sociedade de classes nada mais será do que a ideologia da classe dominante – e o principal, uma burguesia atuando em conluio com a burguesia transnacional, defendendo firmemente seus interesses em todas as frentes de batalha.

Alguns problemas e dificuldades essa sigla enfrentou e tem enfrentado para o alcance de seus objetivos, um deles reconhecido pelo próprio F.H.C. Em entrevista concedida ao jornal Folha de São paulo, do dia 22, data de aniversário do Partido. “Os quadros da sociedade se jogaram na política [à época do regime militar]. Depois houve desconexão”. E esses quadros também são sentidos nos próprios partidos da burguesia. A resposta? Bem o próprio F.H.C tenta encontrá-las. “Não é uma questão só do Brasil. É global, sociológica, a sociedade de massa e o avanço das forças de mercado se deram de tal maneira que o papel que os partidos exerciam no passado como polarizadores e condutores, eles perderam muito, não só no Brasil”, conclui o tucano.

A questão passa então por uma redefinição inclusive da própria política como é vista e entendida no sistema democrático (burguês) de direito. Aqueles partidos, a cada dia e eleição que passa, vão, pouco à pouco perdendo seu peso no interior do país. E aquela velha receita usada por todos eles que se lançaram à tarefa de conquistar o poder nacional, apenas via eleições – mesmo os advindos de uma história em meio à classe trabalhadora – que consistia em, angariar votantes em todas as classe e setores de classes, vem agora perdendo fôlego. Talvez o principal motivo consiste no fato de que, todos estes partidos (eleitorais), sejam os de direita ou esquerda, deverão contar com boa porcentagem de votantes no proletariado, mas também deverão fazer concessões ao outro lado: à burguesia. O problema agora, é que nem o proletariado satisfaz-se e deixa-se enganar com aquelas velhas “promessas de campanha”, nem tampouco, a burguesia se contenta em dar apoio à candidatos não tão seguros, que poderão não garantir o que manda a cartilha do capital. Até ontem, o PSDB, tinha sido o privilegiado nesta tarefa, dividindo a concorrência apenas com a sigla, que na maior parte das ocasiões passava à cooperação, o PFL, atual DEM (Democratas). Agora, na disputa, entraram também PT, PMDB, PTB, PRB e muitas outras agremiações menores. O PSDB terá os quadros suficientes clamados pelo ex-presidente F.H.C., ou passará ao papel de coadjuvante?



Juventude – São Paulo.