"Crise hipotecária" estoura, e revela sua essência de superprodução

Se até agora a movimentação no Centro Dinâmico do capitalismo mundial era por evitar o estouro da crise hipotecária, forma pela qual se manifestou a crise de superprodução no mercado imobilário dos EUA, a ação agora parece ser de contenção de danos.

"Crise hipotecária" estoura, e revela sua essência de superprodução


Se até agora a movimentação no Centro Dinâmico do capitalismo mundial era por evitar o estouro da crise hipotecária, forma pela qual se manifestou a crise de superprodução no mercado imobilário dos EUA, a ação agora parece ser de contenção de danos.
Os anúncios de quebra e fusão respectivamente do 4o e do 3o maiores bancos de investimentos dos EUA (Lehman Brothers e Merril Lynch) na madrugada de hoje, mesmo após os EUA terem injetado diretamente US$ 200 bilhões de dólares em uma "mega-operação Proer" para a estatização dos dois maiores bancos de hipotecas do mundo (FannieMae e FreddyMac) parecem deixar claro que a crise estourou. Já não é uma simples "crise de crédito", como pretendem chamá-la os economistas burgueses, mas sim uma crise de superprodução no setor imobiliário, que se manifestou no descasamento dos prazos de crédito e no descolamento entre o crédito e a economia real (pletora de capital).
Além da nova linha de crédito de US$ 200 bilhões de dólares estabelecida ontem pelo FED, somando US$ 400 bilhões em uma semana, e da linha de US$ 70 bilhões estabelecida por 10 bancos internacionais, o Banco Central Europeu deciciu hoje pela manhã injetar US$ 42,62 bilhões de dólares nas economias do continente através dos Bancos Centrais dos vários países da União Européia (UE), tentando evitar a generalização da crise.
O montante, no entanto, parece não ser suficiente. Hoje, a demanda por auxílio por parte do sistema financeiro é de US$ 128,24 bilhões na UE, e de US$ 43,14 bilhões na Inglaterra, que injetará apenas US$ 8,95 bilhões em sua economia. A preocupação européia, no entanto, demonstra claramente a incapacidade do Estado dos EUA em conter a bolha creditícia antes que a mesma estourasse.

A superação da crise

É possível que o repasse das perdas para os povos do mundo explorados pelo imperialismo estadunidense e para os cidadãos europeus e estadunidenses, cujos impostos são a fonte das tais "linhas de crédito" e de "socorro" à nata da oligarquia financeira internacional, possa adiar momentaneamente o aprofundamento da crise.
Nesse caso, esta conjuntura específica do setor de crédito de longo prazo (imobiliário) sob a qual se manifesta a verdadeira natureza estrutural geral e cíclica da crise do sistema capitalista, fundada na contradição essencial e irreconciliável entre a produção social e a apropriação privada, provavelmente seria superada através de drástica concentração e centralização de capital antes que o ensinamento de Marx de que "toda crise de superprodução começa como crise do crédito" se faça ver com força total, ultrapassando o setor imobiliário.
Entretanto, o esgotamento da matriz energética fundada no petróleo e os altos gastos nas guerras do Iraque e do Afeganistão são claros indícios do caráter estrutural da crise, bem como a gigantesca dívida pública dos EUA, que é hoje cerca de US$ 8,8 trilhões, comparada a um PIB de US$ 13 trilhões.
No caso de que a contenção de danos não seja suficiente para adiar a manifestação cíclica da crise estrutural, e a mesma venha a estourar nos próximos tempos como crise geral do sistema capitalista, o que definirá se será superada dentro do próprio sistema (através de concentração e centralização ainda maiores e de absurdo aumento na taxa de exploração de nossos povos), ou se será superada com a superação do próprio sistema capitalista (única maneira de superá-la definitivamente, eliminando a contradição antagônica entre a produção social e a apropriação privada), será a organização dos trabalhadores e trabalhadoras rumo à revolução comunista. Estão dadas as condições objetivas.


"Em uma situação revolucionária, os de baixo já não querem viver como antes, mas não sabem para onde ir, e os de cima já não podem viver como antes, mas não têm para onde ir".

(Vladimir Lenin, A Bancarrota da II Internacional)