Manifestações na COP 30: Os dois lados da moeda
O terceiro dia da COP 30 em Belém do Pará, 13/11/25, foi marcado por um ato político iniciado pelos povos originais na área Blue Zone – Zona Azul. É nesta área que ocorrem as grandes decisões: políticas, econômicas, científicas, tecnológicas e ambientais. Onde, de acordo com os critérios estabelecidos pelos organizadores, e somente participam aqueles que fizeram inscrições prévias, como chefes de estado, parlamentares, gestores de órgãos públicos, empresários, negociadores comerciais e imprensa, entre outros.
A manifestação iniciou com uma concentração no portão de entrada, e evoluiu para uma batalha de acordo com as publicações da mídia, assim, transformando o espaço da Blue Zone em um palco de luta entre povos originais e seguranças da COP 30 que é formada por países que participam da ONU.
Segundo a imprensa local e alguns meios de comunicação do país, os povos originários invadiram com arcos e flechas o espaço onde só podiam entrar os credenciados, sejam da imprensa, autoridades, representantes de empresas, representantes de movimentos sociais e popular ou delegações estrangeiras. Neste confronto saíram machucados indígenas e seguranças.
O jornal INVERTA conversou com uma líder do povo Borari e membro do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), que preferiu não se identificar, mas comentou sobre o que aconteceu:
“Nossa manifestação era apenas uma concentração em frente a Blue Zone – Zona Azul com o objetivo de protestar, questionar o fato de não nos sentirmos representados neste espaço, local onde se dá todo tipo de negociações e decisões que tem a ver com nosso futuro, dos indígenas e da população ribeirinha. Estão definindo nossa vida, sobre nossa água, nossa floresta, nossos animais, é a nossa existência, e nós não estamos lá dentro, assim, não nos sentimos representados. Sobre o que aconteceu nossas lideranças esclareceram quando deram uma coletiva no dia seguinte ao acontecido”.
Continua a representante do povo originário “Nós não invadimos espaço nenhum, até porque qualquer espaço aqui é nosso, foram eles que invadiram nossa terra, tomaram nossa água, nosso ar e nosso chão. Porém, vou te esclarecer uma coisa que nossa liderança na coletiva também esclareceu. Na manifestação, vocês podem observar nos vídeos que postaram, nós indígenas éramos poucos na confusão, começamos a concentração, ela foi crescendo, entraram pessoas não indígenas, de organização política, e surgiram pessoas que não identificamos, pareciam repórteres; quando vimos que a confusão crescia e que perdemos o controle, nossa liderança queria recuar, mas não tinha como. De repente, os portões da Zona Azul foram se abrindo e o povo entrou. Nos acusaram de estarmos com arcos e flechas, mas não era verdade. Nos acusaram de termos machucado os seguranças, mas nós também saímos machucados”, concluiu a conselheira indígena.
No dia seguinte da ocupação da Zona Azul pelos manifestantes, dia 14, estava na mesa de debate e negociações os temas: Energia limpa, Indústria, Comércio; Transporte, Finanças; Mercados de Carbono; Gases não-CO2, em que a economia verde, o uso de recursos naturais e as metas de redução de emissões, precisavam ser garantidas, a segurança do evento estava redobrada, as filas e o controle para entrada estavam bem maiores.
É certo que as contradições estão colocadas na COP 30, refletindo os interesses de classes, os interesses do povo trabalhador e do sistema capitalista que luta para manter sua exploração para todo o globo. O velho mundo, caduco, dando seus últimos respiros, hegemonizado pelos Estados Unidos, defendendo a continuidade no uso da energia baseada no combustível fóssil versus o novo mundo, multilateral, o BRICS, que defendem uma produção energética limpa.
A fala da líder do povo Borari sobre a manifestação do dia 12 de novembro, embora compreendendo a justezas das reivindicações dos povos originais, nos remete às manifestações de 2013, dos Black blocs e as palavras de ordem que diziam “não vai ter Copa”, fatos que antecederam o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e levou o presidente Luis Inácio Lula da Silva à prisão. Um tempo não tão distante do que vivemos agora, a extrema direita é ardilosa, e o fascismo nos rodeia. Em tempo de mudanças não nos esqueçamos do ditado popular “gato escaldado, tem medo de água fria”.
Osmarina Portal
INVERTA na COP30: https://youtube.com/playlist?list=PLeej-tdO0VULE2xassYfhI2yXEMKL4EkA&si=jfNyjrSFg7v1Isbe
