Para onde caminha a humanidade?

A cada dia aumenta um sentimento compartilhado de desesperança e medo, confusão e violência, nutrido por imagens e discursos que passam a dominar os noticiários, as conversas e as ideias da população em geral. Às disputas violentas tão próximas à nossa realidade – a resistência no campo e na floresta contra a sede do lucro garimpeiro, madeireiro, farmacêutico, agroindustrial; ou a mera sobrevivência urbana resistindo à disputa territorial entre tráfico, milícias e polícia –, somam-se as guerras em que figuram elementos neonazistas (Ucrânia) e fascistas (Israel); o exército americano atuando nos 50 estados dos EUA para conter mobilizações contra a política migratória de Trump; e o temor ao fim da vida humana no planeta, seja pela hecatombe nuclear ou pela ruptura do delicado equilíbrio ecológico que hoje nos sustenta.

A cada dia aumenta um sentimento compartilhado de desesperança e medo, confusão e violência, nutrido por imagens e discursos que passam a dominar os noticiários, as conversas e as ideias da população em geral. Às disputas violentas tão próximas à nossa realidade – a resistência no campo e na floresta contra a sede do lucro garimpeiro, madeireiro, farmacêutico, agroindustrial; ou a mera sobrevivência urbana resistindo à disputa territorial entre tráfico, milícias e polícia –, somam-se as guerras em que figuram elementos neonazistas (Ucrânia) e fascistas (Israel); o exército americano atuando nos 50 estados dos EUA para conter mobilizações contra a política migratória de Trump; e o temor ao fim da vida humana no planeta, seja pela hecatombe nuclear ou pela ruptura do delicado equilíbrio ecológico que hoje nos sustenta.

Os eventos de desumanidade e terror que estampam os noticiários e atormentam a cabeça do povo trabalhador, ainda que possam aparentar ser demonstrações de força militar ou superioridade tecnológica, são, na verdade, atos de desespero por parte de uma burguesia acuada, que luta contra o inevitável fim de seu domínio sobre a vida humana.

A guerra na Ucrânia que figura nas notícias com início em 2022, na verdade começou muito antes. A Operação Especial da Rússia sobre o território ucraniano foi o ponto culminante de uma triangulação geopolítica que levou muitos anos de provocações e, naturalmente, respostas por parte do Kremlin contra a linha vermelha que (não deveria, mas) foi finalmente ultrapassada. Garantir a segurança e integridade to território nacional russo, defender sua soberania, proteger as populações de cultura russa que sofriam perseguição e tortura desde a “revolução colorida” de Maidan em 2014, a ‘desnazificação’ do território ucraniano, estabelecer um território colchão e evitar a III Guerra Mundial são objetivos da Operação Especial, completamente legítimos a partir de qualquer perspectiva geopolítica e humana. O estopim orquestrado, incentivado e (literalmente) municiado pelos EUA e União Europeia na Ucrânia esperava rapidamente enfraquecer e submeter a potência russa. No entanto, conduziram a população ucraniana a um banho de sangue em nome de seus interesses mesquinhos e fracassaram em todos seus objetivos exceto um, o principal: dar fôlego à moribunda economia capitalista e seu complexo industrial militar através da venda de armas.

A vitória da Rússia contra todo o aparato militar, econômico e ideológico da OTAN é hoje inegável e evidencia a ruptura militar com a hegemonia estadunidense, anunciando a nova ordem mundial que vem substituir o mundo unipolar construído após a II Guerra Mundial. Por outro lado, escancara o papel subalterno a que se presta a Europa na geopolítica internacional, que após embargar a Rússia e ter que pagar o triplo pelo gás natural tão necessário nas épocas de inverno, vê-se obrigada a cortar ainda mais o investimento público para alcançar a meta imposta pela OTAN de 5% do PIB para gastos militares. O plano de expansão da burguesia estadunidense sobre os mercados da antiga União Soviética e de cercamento à herdeira desta, a Rússia – que preservou e desenvolveu, dentro dos limites capitalistas, todo potencial tecnológico, econômico e militar da URSS – tem na OTAN seu principal instrumento bélico. Ao trair os acordos de 1990 e avançar descaradamente sobre as ex-repúblicas soviéticas rumo às fronteiras russas, encenou provocações, arquitetou “revoluções coloridas” e “mudanças de regimes” (Iugoslávia, Checoslováquia, Georgia e Ucrânia entre outros); despertando, assim, a extrema-direita enterrada pelas forças socialistas na II Guerra Mundial, com muita luta e sacrifício. O aumento de crimes violentos contra imigrantes, os resultados de extrema-direita nas diversas eleições europeias, e os recordes em investimento militar por parte de países como Suíça e Alemanha são pistas deste perigoso caminho.

Não por acaso, é justamente esta vitória sobre o nazismo e fascismo na II Guerra Mundial que hoje o Imperialismo norte-americano tanto mistifica, como se eles e a Inglaterra fossem os grandes vitoriosos. Não é nova e nem rara a prática de manipular “as narrativas”, dizer uma mentira mil vezes até se tornar verdade ou reescrever a história da perspectiva da classe exploradora para conclamar-se “vencedora”. Porém, o controle ideológico e cultural não funciona apenas através do discurso. Desde o fim da II Guerra Mundial, os EUA monitoram diversos países – da Europa, da Ásia e da América Latina – enviando aparatos militares para vigiarem e promoverem políticas – abertas ou encobertas – de inserção nos corpos policiais e militares para executar seu domínio sobre a política e economia locais. Caso o país não aceite as condições de domínio imperialista ou mesmo pretenda defender a soberania nacional, pode ser subjugado e ameaçado de invasão.

A história de invasões e genocídios do imperialismo sobre os países do Oriente Médio marca a trajetória de um titã sedento por petróleo. O desastre da vida humana na Líbia, na Síria, no Paquistão, Afeganistão; antes destes a destruição no Kwait, no Líbano… Quem se lembra da invasão ao Iraque sob a justificativa de armas de destruição massiva? Qualquer semelhança com a justificativa de armas nucleares para invadir o Irã hoje não é mera coincidência. Segundo o próprio Departamento de Estado dos EUA, o Irã constitui uma ameaça desde a Revolução Islâmica que, em 1979, destronou uma monarquia autocrática pró-ocidente; a ladainha sobre uma bomba atômica iminente no Irã é repetida por Benjamin Netanyahu há mais de 30 anos; mas um ataque não provocado a instalações nucleares é inaudito e inconsequente. No entanto, as atrocidades no Irã não ocultam, nem aliviaram a política de cerco e extermínio levada a cabo pelo sionismo contra o povo palestino, pois tampouco encontram paralelo na história bombardear civis em pontos para distribuição de ajuda humanitária, nem converter todo um território de milhões de pessoas em uma prisão a céu aberto, sem acesso à água potável ou comida. Para além dos povos diretamente vitimados, estes são ataques a uma ordem mundial que já não serve aos interesses do imperialismo norte-americano, que busca “demonstrar força” e ameaçar o mundo com uma guerra nuclear para distrair sua derrota na Ucrânia, abrindo espaço para renegociar a sustentação dos petrodólares com os xeiques árabes, dar um alento para a indústria norte-americana de petróleo, gerar condições para novos acordos na arena internacional em geral; além de lançar um duro golpe a um dos novos membros dos BRICS, o Irã.

Desde o fim da II Guerra Mundial, os EUA monitoram diversos países – da Europa, da Ásia e da América Latina – enviando aparatos militares para vigiarem e promoverem políticas – abertas ou encobertas – de inserção nos corpos policiais e militares para executar seu domínio sobre a política e economia locais. Caso o país não aceite as condições de domínio imperialista ou mesmo pretenda defender a soberania nacional, pode ser subjugado e ameaçado de invasão.

A realidade do capitalismo, hoje, é ver o que Israel pratica: genocídio, matando crianças e mulheres em grande número, além dos homens que lutam pela sobrevivência do seu povo. Porém, os povos do Oriente Médio não são as únicas vítimas da violência capitalista. Em outras latitudes, como no Continente Africano e na América Latina, cresce a violência pelo roubo de nossas riquezas, o tráfico de drogas, de órgãos, armas, pessoas e influências; crescem os exércitos irregulares em disputa pelo território e as milícias pelo domínio das favelas, concentrando riqueza e superexplorando a população local. Os trabalhadores vivem cercados por horrores, chegando a assistir episódios traumáticos ou mesmo a morrer como dano colateral da guerra de classes instaurada contra o povo.

Esta triste realidade se vê acompanhada pela frente midiática a atacar toda iniciativa contraposta ao neoliberalismo e sua vertente neo-nazifascista. Posicionar-se contra o golpista Zelenski e seu exército declaradamente neonazista, ou contra o genocídio neofascista de Benjamin Netanyahu é raro na mídia e, pior em nosso país, enfrenta a reação do senso comum. Sob o manto da disseminação de fatos mentirosos, a extrema direita vai se organizando, criando ameaças e inimigos internos, promovendo prisões sem provas nem julgamentos imparciais, como ocorreu com os presidentes progressistas Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil, Evo Morales da Bolívia, e Cristina Kirchner da Argentina. Apresentam-se nesta esteira figuras como Bolsonaro, Milei e o atual presidente dos EUA. Através destes “palhaços”, buscam criar realidades paralelas para distrair a plateia enquanto “passam a boiada” e vendem nossas riquezas, como no caso da Amazônia brasileira durante o governo Bolsonaro, que matou populações indígenas por veneno ou inanição para entregar nossas florestas. Por outro lado, investem em campanhas internacionais massivas para desmoralizar e enfraquecer experiências que demonstram a possibilidade de um futuro superior, como Cuba, Venezuela e China. Esta última, o país mais populoso do mundo que acabou com a fome e a extrema pobreza em seu território, converteu-se hoje na principal economia mundial, que cresce a um ritmo superior a dos países centrais do capitalismo e demonstra um desenvolvimento industrial muito mais dinâmico e inovador. A economia planejada sob o comando do Partido Comunista protagoniza hoje a ruptura econômica com a hegemonia estadunidense.

Mas, qual a causa disso tudo? Por quê tantas maldades se disseminam no mundo? Entender isto é necessário, para que saibamos como será possível superar tanta tragédia e lutar por um mundo melhor, justo e digno para as populações do planeta. Vale lembrar que a desigualdade social tampouco é novidade; desde o momento em que a terra e os meios de produção passaram a ser propriedade privada de poucos, a maioria dos povos passaram a ser explorados por minorias espoliadoras. Ao considerarmos o desenvolvimento histórico dos países centrais do capitalismo, em seu berço o continente europeu, o primeiro sistema a garantir a propriedade privada foi o escravismo, depois veio o feudalismo e em seguida o capitalismo. Todas mudanças de sistema sempre ocorreram com a luta dos povos contra um sistema desigual que os explorava. A partir do momento que o ser humano atingiu um desenvolvimento do trabalho que permitia produzir mais que o necessário para mera subsistência, surge a possibilidade de acumulação, por um lado, e, portanto, exploração do outro. Desde então, a sociedade está dividida em classes; porém, nunca antes tão pequena minoria – latifundiária, proprietária de meios de produção ou de bancos – conseguiu acumular tamanha riqueza e alcançar, mediante a aplicação da ciência e tecnologia, tão alto grau de superexploração da força de trabalho alheia: hoje, os bilionários que constituem o 1% mais rico, concentram mais riqueza que metade da população mundial. Pagar aos trabalhadores valores menores do que foi produzido e, pior, menores que o suficiente para garantir sua sobrevivência – este é o método do capital para ganhar fortunas.

Os eventos de desumanidade e terror que estampam os noticiários e atormentam a cabeça do povo trabalhador, ainda que possam aparentar ser demonstrações de força militar ou superioridade tecnológica, são, na verdade, atos de desespero por parte de uma burguesia acuada, que luta contra o inevitável fim de seu domínio sobre a vida humana. Karl Marx, que estudou profundamente o sistema capitalista e descreveu com precisão a realidade e as relações sociais erigidas sobre a relação capital, explicou por que o capitalismo não é eterno. Demonstrou que as crises são inerentes ao sistema capitalista; apesar de se gestarem e expressarem de formas variadas, de acordo com o nível de desenvolvimento da sociedade e a lei tendencial que passa a dominar a Lei Geral da Acumulação Capitalista. Marx também anunciou que os mecanismos utilizados pela burguesia para superar suas crises periódicas só fazem gestar as condições para crises cada vez maiores.

A história de invasões e genocídios do imperialismo sobre os países do Oriente Médio marca a trajetória de um titã sedento por petróleo. O desastre da vida humana na Líbia, na Síria, no Paquistão, Afeganistão; antes destes a destruição no Kwait, no Líbano… Quem se lembra da invasão ao Iraque sob a justificativa de armas de destruição massiva? Qualquer semelhança com a justificativa de armas nucleares para invadir o Irã hoje não é mera coincidência.

Na realidade, este sistema já passou por inúmeras crises econômicas até chegar à atual Crise Orgânica do Capital, que nos demonstra que ele caminha para seu fim: o lucro está diminuindo para os proprietários dos meios de produção. Devido à concorrência entre diversas empresas, os capitalistas se veem impelidos a aumentar a produção através do aperfeiçoamento da tecnologia para continuar no mercado de vendas, o que diminui custos e permite aumentar seus lucros. Com o uso de máquinas e a organização científica do trabalho, aceleram a produção e aumentam a quantidade de mercadorias como se o único limite fosse a quantidade de pessoas a consumi-las, no entanto se esquecem que os míseros salários restringem o consumo dos trabalhadores, que não têm como comprar tudo que lhes apetece, e as mercadorias ficam encalhadas. Estas são as crises que periodicamente se instaura na economia – de subconsumo ou superprodução – típicas do capitalismo, configurando um quadro inédito na história que evidenciava a ineficiência e crueldade de todo o sistema: de um lado, centenas de milhões de mercadorias perdendo-se nas prateleiras e armazéns; do outro, milhões de pessoas famintas enfrentam doença, violência, guerras. No entanto, esta tendência ao aumento da produtividade tende, historicamente, a diminuir a quantidade de trabalhadores que participam na produção direta, nas fábricas. Com esta redução de operários, os capitalistas passam a extrair menor quantidade de mais-valia, que é de onde vem os lucros e é a razão de ser de todo o sistema: esta é a manifestação mais essencial da Crise Orgânica do Capital, a produção já não consegue gerar lucros suficientes para a acumulação ampliada do capital. Utilizemos a taxa de juros dos países “desenvolvidos” como indicador dos lucros em geral – pois só podem pagar juros aqueles capitalistas que extraem mais-valia suficiente para cobrir os custos de produção e gerar lucros: em junho, o Banco Central Europeu estabeleceu a taxa em 2,15% e o Federal Reserve dos EUA em 3,9%. O Banco Central do Brasil, por sua vez, manteve a Taxa Selic em 15%, o que nos dá uma ideia do potencial de lucro da produção nacional (ou revela a intenção de sabotá-la).

Com a Crise Orgânica do Capital, a burguesia nos países centrais do capitalismo já não consegue extrair mais-valia como antes e, portanto, busca se apropriar de “novos” mercados ou cria novos nichos de consumo e, com o domínio da relação capital sobre todo o globo terrestre, dá início ao processo de centralização ou “canibalismo” entre empresas transnacionais, que adquirem status de verdadeiros titãs para os quais os estados nacionais e as regras de comércio internacional tornaram-se estreitos demais. Insuflam a extrema direita e ressuscitam o nazifascismo para, com seus mecanismos de superexploração, recuperar a mais-valia de outrora, usando todos os métodos sem escrúpulo algum; lançam mão de todo tipos de guerras, convencionais ou irregulares; alteram ou violam leis e acordos internacionais; compram autoridades dos três poderes; patrocinam campanhas de figuras espúrias para o executivo de países ou regiões inteiras; além da grande imprensa patrocinada pelo capital em sua campanha constante de controle ideológico, inventando mentiras para chegar aos crimes de invasão de países, genocídios, etc, como tentam fazer há anos com Cuba e Venezuela, como fizeram em todo o Oriente Médio (ou Ásia Ocidental para usar um termo menos colonial), na África e nos países da ex-URSS, etc.

Também usam estas campanhas para se apropriar de matéria-prima mediante ações encobertas “pacíficas”, como fazem as centenas de ONGs e grupos missionários na Floresta Amazônica, rica em biodiversidade, madeira e muitas outras riquezas, que clandestinamente vão sendo retiradas para enriquecer os mesmos de sempre, inclusive tomando a terra de indígenas e trabalhadores humildes que extraem e cultivam produtos para sua sobrevivência. O setor informal torna-se assim um importante pilar de sustentação para auferir superlucros (resultantes da superexploração) e transferir uma parte, através de mecanismos internacionais sofisticados de lavagem de dinheiro, para as mãos da sedenta burguesia: tráfico de drogas, de armas, de trabalhadores ilegais, de animais e plantas selvagens, etc.

O surgimento dos BRICS é um fato de extrema relevância para o mundo. Estas economias emergentes ainda têm muita força de trabalho diretamente envolvida na produção, ostentando cifras de crescimento e taxas de lucro muito superiores aos do capitalismo central. No entanto, este grupo significa muito mais do que isso, pois se organiza como protagonista de uma reconfiguração na geopolítica mundial, no sentido de uma nova ordem mundial multipolar de hegemonia compartilhada. O grupo que hoje inclui Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia, Indonésia e Irã; originalmente reunia China e Rússia – os dois principais “herdeiros” do sistema do socialismo no século XX que protagonizam as rupturas econômica e militar à hegemonia estadunidense –, Índia e África do Sul – ex-colônias e membros do grupo de Países Não-Alinhados que também exercem liderança regional – e o Brasil. Com toda sua diversidade histórica, cultural, produtiva e política, os BRICS trazem uma proposta de novas relações internacionais que impliquem desenvolvimento e respeito mútuo entre as partes, tendo como horizonte beneficiar o Sul Global e não apenas submetê-lo em um novo projeto de dominação hegemônica. Mantêm, mesmo assim, o respeito e a defesa de toda estrutura que atualmente rege ditas relações: a ONU, OMC, Tribunal de Haia, os acordos diplomáticos e militares, etc.

O surgimento dos BRICS é um fato de extrema relevância para o mundo. Estas economias emergentes ainda têm muita força de trabalho diretamente envolvida na produção, ostentando cifras de crescimento e taxas de lucro muito superiores aos do capitalismo central. No entanto, este grupo significa muito mais do que isso, pois se organiza como protagonista de uma reconfiguração na geopolítica mundial, no sentido de uma nova ordem mundial multipolar de hegemonia compartilhada.

Esta é a difícil corda bamba sobre a qual caminha o atual governo brasileiro, cuja economia e diplomacia mantêm vínculos formais com todos países do capitalismo desenvolvido (o chamado “Ocidente”), excelentes relações com os países “subdesenvolvidos” do Sul Global e protagoniza uma construção com as principais economias emergentes que busca transformar a estrutura que mantém as desigualdades entre os primeiros. Não à toa lançaram suas campanhas de falsidades e orquestraram uma “revolução colorida” para tirar Dilma Rousseff da presidência do país e colocar o presidente Lula na prisão, que teve de ser absolvido e solto, uma vez que todas as acusações eram mentirosas. Contraditoriamente, esta é a característica que torna o Brasil um potencial protagonista na ruptura do último pilar de sustentação da hegemonia estadunidense: a ruptura política. Uma transformação desta ordem não se impõe com poder econômico e militar apenas, requer uma proposta política que exige convencimento e diálogo, envolvimento das partes que decidem trilhar um novo caminho e, portanto, encontram nela interesse imediato e futuro, e até certo ponto se identificam com os demais atores.

O bloqueio ideológico que resultou intacto da Guerra Fria ainda constitui um obstáculo, praticamente um muro, para que chegue às demais latitudes qualquer proposta da China ou da Rússia, mesmo o mero intercâmbio cultural e científico está muito distante das massas. Já Índia, África do Sul e Brasil podem apresentar-se como vozes do Sul Global que, não apenas exercem liderança regional, mas desfrutam de ampla capacidade de diálogo e articulação. Neste sentido, nosso país tem características favoráveis, ao deter a maior reserva de biodiversidade do mundo e não possuir armas nucleares, além de representar a maior diversidade e combinação genética já estudada dentre os povos do mundo. Só conseguirá cumprir um papel relevante caso se transforme, de fato, em um interlocutor latino-americano no concerto internacional; forjar-se uma unidade consciente com base no respeito mútuo e no compromisso com o desenvolvimento dos povos de todo o continente. Porém, só poderá levar estas tarefas a cabo se superar suas severas contradições internas, e isso implica um plano emergencial para sanar feridas históricas que vá muito além de uma articulação eleitoral.

Lula, eleito presidente do Brasil pela terceira vez, resgatou diversos programas de investimento público para o crescimento e desenvolvimento nacional e humano, aliados a uma política econômica que busca remediar problemas estruturais – como a correção do salário mínimo e a reforma fiscal em discussão no Congresso – diminuindo ao menor índice desde 2012 a extrema pobreza (de 28 para 25,36%), e o desemprego (7,1 para 6,2%). Tudo isso, enfrentando uma Câmara dos deputados cuja maioria de direita tenta barrar as questões favoráveis ao povo e não quer aumentar a cobrança de impostos para quem ganha mais de R$1.000.000,00 ao ano, que só pagam 10% de imposto, quando pagam. A tentativa de elaborar um projeto para a exploração da Margem Equatorial da Amazônia de forma sustentável, no sentido ambiental e étnico, é também expressão do enorme desafio para um governo que busca explorar as riquezas nacionais a serviço do povo, mas se vê obrigado a alianças com a burguesia brasileira, que é economicamente dependente e culturalmente serviçal ao capital internacional. Neste sentido, o que está em jogo nas eleições no próximo ano é mais do que a continuidade do projeto social-democrata em nosso país, é uma proposta de unidade e protagonismo latino-americano e a perspectiva de uma transformação na geopolítica internacional, ainda que dentro dos duros limites impostos pelo capitalismo.

Enquanto tivermos o capital com todo seu poder e o povo não estiver na luta por outro sistema social que garanta direitos iguais para todos sem divisão de classes, estaremos em situação de desigualdade. Mas o mundo caminha e nenhum povo se deixa explorar por toda a vida!


É nosso direito e dever lutar por um mundo melhor!

Ousar Lutar! Ousar vencerVenceremos!!

Clara Ruiz

Ana A. Pereira