Leónidas Iza: Mariátegui e a interculturalidade andina

No dia 11 de março de 2025, no contexto do lançamento de nossa Edição número 514, Inverta entrevistou o líder indígena equatoriano Leónidas Iza Salazar, engenheiro ambiental de profissão, pertencente ao povo Panzaleo da província de Cotopaxi (Equador), atual presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), que publicou dois livros sobre a realidade equatoriana, o primeiro El Estallido e o segundo Sinchi e ex candidato à Presidência do Equador neste 2025.

No dia 11 de março de 2025, no contexto do lançamento de nossa Edição número 514, Inverta entrevistou o líder indígena equatoriano Leónidas Iza Salazar, engenheiro ambiental de profissão, pertencente ao povo Panzaleo da província de Cotopaxi (Equador), atual presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), que publicou dois livros sobre a realidade equatoriana, o primeiro El Estallido e o segundo Sinchi e ex candidato à Presidência do Equador neste 2025.

Líder abertamente marxista, católico da linha da teologia da libertação e filho de um povo ancestral indígena da América Latina, o que lhe permitiu compreender as condições sociais no atual capitalismo andino, no ressurgimento do fascismo e na luta popular pela construção de um Poder Popular Plurinacional.

Neste contexto, para a nossa entrevista exclusiva, o camarada Leónidas dá-nos uma visão do contexto da sua vida, onde se refere a ter vindo de um sistema semifeudal, que os pais dele tiveram que enfrentar, ao mesmo tempo que nos explica como funcionava o sistema latifundiário em Equador antes da reforma agrária de 1972, onde diz que:

[...] havia uns quatro tipos, categorias {na explicação das formas de produção nas fazendas} 1) os huasipungueros, aqueles que trabalham na terra da fazenda, 2) os yanaperos, aqueles que trabalham de vez em quando para o huasipunguero, 3) os partidarios, que não moravam na fazenda, mas trabalhavam com o dono da fazenda ao partir e 4) os índios livres, aqueles que já viviam em burgos (na Europa), que já conformaram as cidades, pequenas aldeias próximas à fazenda, eram os fornecedores de artesanato, alguns materiais manufaturados.”

Também nos fala da luta do Movimento Indígena Equatoriano (MIE), que desde 1990 se tornou sujeito político, deixando de lado o ventriloquismo, e tomando voz própria para lutar suas reivindicações, realizando um processo de luta econômica entre a economia capitalista e a “economia popular e solidária” como forma alternativa de produção destacada por Leónidas Iza. Que também permitiu a legalização de mais de 1,2 milhão de hectares como territórios comunais ancestrais, após a grande tomada de Quito sob o lema em Quichua (língua falada principalmente pelos povos indígenas das montanhas e parte da Amazônia equatoriana) ¡Cuasaymanta, Aishpaymanta, Carajú!, que pode ser traduzido como Pela vida, pela terra, lutamos!, levando à consolidação do MIE.

Consolidação que permitiu ao MIE tornar-se um dos principais sujeitos políticos e sociais nas lutas populares, o que o levou a lutar contra todos os governos no poder, incluindo o governo progressista em momentos específicos por atacar os direitos coletivos dos povos indígenas, até chegar às lutas de 2019 e 2022 onde as reivindicações do campo popular ganham maior significado e levam à construção de um Plano de Governo que engloba uma luta anticapitalista, anti-imperialista, intercultural e plurinacional.

Em seguida, ele nos dá uma visão do marxismo a partir de suas leituras de José Carlos Mariátegui, permitindo-nos dizer que devemos construir nosso próprio marxismo e processo revolucionário, que surge da população americana, enfatizando a recuperação de um sistema socialista prático, que já existia no passado, antes da Colônia Europeia, nas civilizações americanas, principalmente em Tahuantinsuyo.

Ao mesmo tempo, apela à união das classes populares, dos empobrecidos do mundo, para gerar uma “criação heroica” de cada povo para o seu próprio processo revolucionário, que é parte da base para a superação do capitalismo como sistema de exploração do homem pelo homem, e face à selvajaria capitalista que nos está a levar a uma crise orgânica do capital com a qual temos também uma crise existencial para a raça humana.

Depois permite-nos compreender que a CONAIE propõe que a luta não pode ser reduzida a meras reivindicações, mas sim a uma luta abrangente e continental contra o sistema capitalista. Uma luta que supere o problema da administração do Estado capitalista, mas sim um processo anticapitalista que nos una e permita a criação de um novo sistema.

Ao mesmo tempo, sugere também que a forma de estruturar a organização deve superar a atomização organizacional, mas sim que a unidade das organizações deve ser fortalecida e dar o exemplo da CONAIE como possibilidade de organização social e política para manter uma estrutura apoiada nas bases, mas com lideranças fortalecidas pelas próprias estruturas orgânicas.

Por fim, foi questionado sobre um sistema alternativo para a América Latina, ao qual Leónidas Iza propõe como primeiro momento uma unidade dos empobrecidos, superando depois as parcelas de poder, tanto de cada país por cima das fronteiras internacionais como as parcelas internas de poder de cada país, buscando uma unidade entre a classe explorada.

Isto é entendido pela unidade geográfica além das fronteiras nacionais que são superadas entendendo que a luta deve ser de todos os povos num processo de unidade e solidaridade, criando uma unidade das nacionalidades originárias da América Latina junto com a classe trabalhadora, os empobrecidos e os excluídos para a defesa dos nossos recursos e a construção de um sistema produtivo pós-capitalista alternativo para o resto do mundo.

Convidamos você a visualizar, discutir e analisar todos esses elementos aqui resumidos na entrevista em nosso canal no YouTube TV INVERTA, onde você também pode encontrar mais material audiovisual sobre o problema da Crise Orgânica do Capital e outras discussões relevantes para a classe trabalhadora do Brasil.

Fidel Viteri

Link da live: https://www.youtube.com/watch?v=-ZTM_nOvR68