O propósito do governo dos EUA é proteger Posada Carriles, que denunciou Fidel
O presidente cubano, Fidel Castro, denunciou a "farsa" no meio da qual Luis Posada Carriles foi preso em Miami, depois que o terrorista internacional fizesse depoimentos e uma entrevista coletiva televisionada.
"Quem vai acreditar que não sabiam coisa alguma e que foi ontem que descobriram?", perguntou Fidel na intervenção, durante uma mesa- redonda televisionada, quarta-feira, 18 de maio. "Pensam que alguém vai acreditar nessa mentira?".
"É uma farsa, uma mentira, uma fraude, uma tentativa de fugir quando estão em meio de uma situação difícil, rodeados de evidências, dos fatos, das realidades".
"Como podem justificar as centenas de milhões que dizem ser destinados a proteger o povo norte-americano? E os 15 serviços de inteligência e os 180 mil homens que fazem parte desse departamento? Como podem justificar perante o mundo tanto dinheiro que investem e com o qual poderiam banir a pobreza de boa parte do Terceiro Mundo?", acrescentou Fidel, acusando o governo norte-americano de "proteger" o terrorista internacional, ex- membro de seus serviços de inteligência.
"O propósito do governo dos Estados Unidos é proteger Posada Carriles, a idéia é protegê-lo e evitar que seja julgado pelos tribunais", disse.
Fidel indicou que a detenção do terrorista internacional foi acertada previamente entre a máfia cubano-ameri- cana e o governo. "Tudo estava planejado, mas não era elegante deter o terrorista no meio de uma entrevista coletiva. A decisão era detê-lo, isso foi o que nós soubemos no dia anterior, à noite".
"Tudo isso é muito ridículo, isso coloca em situação humilhante todos os órgãos, todos os serviços de inteligência", comentou o presidente cubano.
Fidel assinalou o envolvimento de Jeb Bush, irmão do presidente norte- americano, na conspiração.
"Seria bom perguntar o que sabia Jeb sobre o que estavam fazendo seus amigos na Flórida. Por acaso seria o único cidadão da Flórida que não sabia que Posada Carriles estava lá? Seria a única pessoa que não sabia nada?"
"Uma pergunta: Qual o papel de Jeb neste assunto? Pois todo mundo sabe que Jeb é o responsável fundamental pelas relações com a máfia. O terceiro príncipe da dinastia Bush, aspirante inclusive ao trono".
Quantos segredos Bosch não saberá?
O presidente cubano lamentou que a imprensa norte-americana não falasse coisa alguma sobre Orlando Bosch, "um dos indivíduos que deve ser julgado pelos crimes cometidos em muitos lugares e não só nos Estados Unidos".
Fidel Castro lembrou que Bosch, fundador do CORU, foi indultado em 1990 por George Bush, pai, "chefe da CIA numa altura coincidente com Pinochet".
Referiu-se ao papel de Vernon Walters, ao qual o chefe da DINA, general Manuel Contreras, lhe atribui agora ter levado os argumentos para persuadir Pinochet de matar o ex- chanceler Orlando Letelier.
"Quantos segredos Bosch não saberá do papel de Walters e da Operação Condor, bem como da colaboração entre o governo dos EUA e o governo do Chile?".
"Há que aprofundar nisto", disse Fidel afirmando que Bosch era agente da CIA.
"Colocaram este homem à disposição de Pinochet para assassinar Letelier, com a cooperação das organizações do CORU, e mencionam o Movimento Nacionalista Cubano que era precisamente de Guillermo Novo Sampoll", destacou Fidel.
"Pinochet tinha à sua disposição um agente da CIA. Não devemos esquecer isso", destacou o presidente cubano, para depois assinalar que o procurador, que nos EUA rejeitou a solicitação de entrada nos EUA de Bosch, descreveu-o como "um terrorista à margem das leis ou da decência humana".
"Ele era o chefe do CORU, a organização que fez o atentado ao avião cubano. Bosch era o chefe de Posada".
Acerca da detenção de Posada, o presidente cubano indicou que o governo norte- americano não tinha outra alternativa: "O escândalo
era universal".
"Se depararam com uma grande surpresa, entre as mentiras e todos os seus planos e compromissos com a máfia e com os terroristas, sobretudo, os dois principais exponentes deste terrorismo".
Três acordos obrigam à extradição
Fidel destacou a decisão de Cuba de abrir mão de julgar Posada Carriles: "Cuba, de uma maneira categórica, renunciou e expressa novamente que, sob nenhuma circunstância, embora pedissem, embora entregassem, não vamos julgá-lo, não queremos julgá- lo, embora aqui sejamos capazes de julgá-lo muito melhor que os Estados Unidos".
Mencionou três acordos em virtude dos quais os EUA são obrigados a extraditar Posada para a Venezuela, que solicitou oficialmente a extradição, expressando que é o país mais indicado para julgar o terrorista internacional.
Ao concluir a intervenção, Fidel fez um apelo aos meios progressistas do mundo para exigirem justiça ao governo norte-americano.
"Há que exigir que se cumpram as leis, que se cumpram os acordos, que se cumpram as normas internacionais. Que não inventem demoras. Há que exigir e exortamos todas as pessoas progressistas do mundo, da América Latina, para que o façam, devemos exigir que os criminosos sejam julgados, que os terroristas sejam julgados", disse Fidel.
Por Jean-Guy Allard — especial para o Granma Internacional.