Entre Setembro de 2001 e Outubro de 1917
Toda a imprensa burguesa voltou-se para a data de 11 de Setembro, pois neste dia completará um ano do ataque às Torres Gêmeas, em Manhathan, cidade de Nova Iorque, e ao Pentágono, em Washington. Para muitos “um sinal dos tempos”; para outros, “um mero negócio”, “business”, já que Bin Laden se tornou homem de mídia. Naturalmente, o significado de 11 de Setembro é mais amplo que o doloroso sentimento de perda dos homens e mulheres ali consumidos – os números oficiais chegam próximo a 2.800 mil mortos – pois, o que dizer dos mortos pelos bombardeios ao Afeganistão (sem números oficiais), ao Iraque (que reclamam mais de 100 mil mortos), ou massacres, como os 3.000 mortos em Seabra e Shatila por Ariel Sharon e os mais de 500 em Kandahar? Também se pode dizer o mesmo em relação ao sentimento de perda das propriedades e capitais ali investidos, visto que as indenizações milionárias não deixaram um dólar sequer perdido. Um exemplo é o caso do pacote de ajuda aprovado pelo governo americano às companhias de aviação, e agora o orçamento militar de 380 bilhões de dólares para este ano, o que encerra o assunto. Neste aspecto, tudo aparenta se resumir a um sentimento de vingança e terror, que ora ou outra, transparece no olhar de Bush e Cia.
Mas, reduzir toda a ação dos EUA após o ataque apenas a este fator é por demais estreito. Quem duvide deste fato que busque uma explicação racional do porquê os EUA e a Inglaterra estarem se preparando para explodir o Iraque e Saddan Hussein, e não a Arábia Saudita e o Rei Faisal, já que a maioria dos que levaram a cabo aquele evento (a derrubada do WTC e Pentágono) procedia desta última e não do Afeganistão ou Iraque. Tendo em vista estes fatos, a pergunta que não quer calar é: o que tem a ver uma nova guerra contra o Iraque e o 11 de Setembro? Será que alguém acredita, de verdade, na estória do “Eixo do Mal”, contada por Bush?
É notório que todo o estardalhaço da imprensa burguesa sobre o 11 de Setembro, Al Qaeda e Osama Bin Laden, tem mais de business que de fundamento histórico e, embora seja uma propaganda a favor da nova guerra contra o Iraque, é obrigada a trazer elementos da verdade que está por trás da superficialidade dos fatos apresentados até aqui, ou seja, a questão do Petróleo e das armas de destruição em massa. Neste particular, vale perguntar também: por que até o momento não se buscou a explicação da raiz da tragédia do WTC (World Trade Center) e do Pentágono, na questão do petróleo? Ora é sabido por todos que a Al Qaeda e Bin Laden tem origem neste problema: por um lado, porque durante a guerra fria ele foi o trunfo da CIA e dos EUA para impedir a sovietização da região, garantindo a exploração de petróleo aos norte-americanos; por outro lado, porque toda a prosperidade da família Bin Laden, inclusive seu irmão ex-sócio de Bush, também deriva do Petróleo. O problema aqui é saber em que ponto, em que marco esta união de interesses se rompeu e levou dos negócios ao ódio; primeiro do pai, agora do filho. E quanto a isto, há toda uma história por se revelar para além da especulação que liga “o fim da Guerra Fria à ruptura das alianças táticas dos EUA, no Oriente Médio, contra a ex-URSS, e a passagem da Al Qaeda do apoio à luta contra os ianques”.
É claro que existem outras versões para o acontecimento de 11 de Setembro, entre as quais a que questiona até que ponto o grupo Al Qaeda ainda não continuaria trabalhando para a CIA e a Máquina de Guerra dos EUA, o que coloca a público o problema da fraude histórica como ética atroz do próprio mundo burguês e imperialista, consumando a sociedade humana e a política aos negócios e propriedades, ou seja, ao mercado e à maximizaçao dos lucros. Neste contexto, nem pensar em liberdade fora do marco da propriedade privada, da compra e venda, do empréstimo a juros e da opressão de classes sociais, e se em alguma parte este tipo de “liberdade se confunde com as liberdades políticas e históricas, de expressão, organização, científica ou de pensamento, pode contar, é pura coincidência”. Contudo, a questão central, em todos os argumentos explicativos do significado do 11 de Setembro que, naturalmente, vão além das declarações “oficiais”, se esgota por um lado no Petróleo ou por outro no “Terrorismo Islâmico” (Fundamentalismo e as armas de destruição em massa). E se examinarmos bem estes, veremos que se tratam, tanto um quanto o outro, de partes de uma verdade muito maior e, como verdades parciais, não podem de per si, se não se quer uma visão limitada do evento, explicá-lo em sua totalidade.
Nestes termos, tudo fica por se explicar, tudo está aberto, e não se encontra um significado preciso tanto para o 11 de Setembro como para as atrocidades que se seguiram a ele, como a Guerra contra o Afeganistão, contra a Palestina, contra a Colômbia, contra as Filipinas, contra o Nepal, contra o Sudão e a intensificação da repressão e opressão imperialistas em todo o mundo. Aqui toda verdade do Petróleo resvala para um aspecto mais amplo, como se a “civilização capitalista ocidental” declarasse uma guerra sem quartéis aos povos islâmicos e rebeldes do Terceiro Mundo. Claro, que parte desta guerra se explica pela necessidade estratégica dos EUA de petróleo, pois embora detenha apenas 2% das reservas mundiais, consome 52% do petróleo do mundo; logo os países que detêm esta matéria-prima estão na linha de tiro do imperialismo. Também se pode dizer o mesmo dos países que investem no poder militar, em particular, no poder nuclear para assegurar sua independência e soberania, pois isto poderia significar igualdade de preços e de fogo, ao contrário da subordinação e submissão que o império exige dos países que estão em sua periferia, dependência e domínio. Ainda se poderia dizer que é também um fator presente em toda a ação dos EUA e Europa, um sentimento de que os explorados e oprimidos podem reagir a sua exploração e opressão na forma de rebelião e até guerras defensivas, no sentido da soberania e independência, fato que poderia explicar o 11 de Setembro. Mas diante de todos estes ângulos da questão não estaria faltando a visão de fundo, ou seja, o seu eixo central?
Assim, chegamos ao problema da crise geral do capitalismo e do processo de transição que historicamente iniciou há quase um século, não em 11 de Setembro com a derrubada das Torres Gêmeas e do Pentágono, símbolos de poder econômico e militar do império, mas com a Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, onde a classe operária e o campesinato tomaram o poder e iniciaram um novo marco histórico para a humanidade, que já haviam ensaiado no século XIX nas Revoluções de 1848 e na Comuna de Paris em 1872. Aí sim, mais que derrubar símbolos, se tomou o próprio Palácio de Inverno do império e se fixou o marco e o significado geral que pode explicar não somente o ataque de 11 de Setembro, como também as guerras imperialistas pelo petróleo e pelo monopólio do poder nuclear, no século passado e no atual século XXI. Vistos tais acontecimentos sob o prisma da luta de classes e o marco da transição de sistemas ou modos de produção sociais, do capitalismo ao Socialismo, como essência da época histórica atual é que se pode entender a dialética entre Setembro e Outubro, como momentos de refluxo e fluxo da luta de classes, e momentos onde a curva do ciclo econômico capitalista se expressa em crescimento e depressão. Quem não entende que a Crise Geral do capitalismo é uma crise de transição de um modo de produção para outro e que o imperialismo é, precisamente, a expressão sintética da degenerescência de uma sociedade e modo de vida, não pode compreender o sentido histórico destes eventos diante dos períodos de avanços e recuos da luta de classes durante todo o tempo que perdure este processo humano. A história nem sempre é uma linha reta ou em zigue-zague, é melhor pensá-la como em aspiral, que jamais retorna ao ponto de partida sob as mesmas condições.
É importante frisar ainda que um ano depois do ataque ao WTC e ao Pentágono, nenhuma prova convincente da responsabilidade do grupo Al Qaeda e Osama Bin Laden foi apresentada pelos EUA, ou qualquer outro país. Todos os “dossiês”, “relatórios”, etc., não passam de julgamentos vãos, como os que estão sendo apresentados contra o Iraque, com denúncias sobre fábricas de produção de armas químicas, biológicas e nucleares, coisas que o governo deste país, diante da imprensa internacional, tem demonstrado não passar de leviandades e invencionices dos ‘espias’ ianques: os locais apontados não passam de um monte de entulho deixado pelos bombardeios americanos e britânicos, quando mais, são indústrias de laticínios e material de higiene e limpeza. Partindo-se de meias verdades presentes nos fatos, não se pode explicar absolutamente nada, apenas atribuir um motivo à ação, independente da justeza ou não da mesma. Portanto, antes de aceitar a falsa polarização que a imprensa burguesa tenta estabelecer entre o ataque de 11 de Setembro e a guerra imperialista, seja por motivos escatológicos (para justificar a guerra contra o Iraque), seja por mero business, o fundamental é compreender este evento como expressão da luta de classes numa conjuntura onde o ciclo do capital em depressão produz condições objetivas para a Revolução em contradição com as condições subjetivas do proletariado e massas exploradas, desestruturadas durante o período histórico anterior – a Guerra Fria. É isto que explica porque grupos como Al Qaeda e personagens como Osama Bin Laden, derivados das classes dominantes, assumem significado mais relevante do que realmente desempenham na história. A própria imprensa burguesa aposta todas as fichas nisso.
Cabe, portanto, ao proletariado revolucionário não se deixar confundir e não tomar conseqüências por causas, Setembros por Outubros, atos de rebelião limitados e sectários por revoluções sociais. Seu dever é lutar para esclarecer os fatos na consciência dos trabalhadores e, do ponto de vista prático, levar avante a tarefa revolucionária e histórica da refundação da sua organização subjetiva em todo o mundo: o Partido Comunista Marxista-Leninista. Entre a dialética de Setembro e Outubro compreendemos o primeiro mas damos vivas e defendemos o segundo. Desdenhamos e condenamos a imprensa burguesa e suas explicações pueris para um 11 de Setembro que justifique mais um ato de terror e genocídio do imperialismo sobre o Iraque ou qualquer outro país que defenda a sua soberania e independência. Do mesmo modo, nos unimos solidariamente aos que denunciam e condenam o terror enunciado e o genocídio velado. O Brasil, a exemplo mesmo de países como China, Rússia e Alemanha, deve condenar e criticar abertamente mais esta ação desumana, terrorista e genocida dos EUA e Inglaterra. É esta realidade que refletida no Brasil exige o nosso Outubro Revolucionário.
Abaixo a guerra imperialista!
Abaixo os governos submissos ao imperialismo!
Viva a Revolução de Outubro de 1917!
Viva o Partido Comunista Marxista-Leninista!
Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2002
P. I. Bvila p/ OC do PCML