Sonhos, acredite neles!
O Brasil caminha para um momento decisivo em sua história. Um momento significativo para a luta de classes no país e que nos remete aos sonhos de uma sociedade justa, igualitária, comunista. Embora o processo real não expresse o sonho revolucionário; pois não representa uma transformação radical na sociedade; uma mudança na correlação entre as classes sociais, de fato; não se pode também, a propósito do choque de realismo na luta, se deixar levar pelo diversionismo das oligarquias burguesas, que teimam em aprisionar todo o pensamento social aos limites do seu círculo de fogo da crise financeira “MALANDRA”, da trágica morte de Tim Lopes, do espetáculo da Copa, e da farsa eleitoral. Se deixar abater por esse diversionismo, que não passa de uma farsa sobre a tragédia real que vive o nosso povo, equivale a substituir todo o nosso processo de luta, história e pensamento social por este momento de grande manipulação dos meios ideológicos, econômicos e políticos.
Aos lutadores sociais sinceros, mas que ainda não têm a experiência ou o conhecimento de conjunturas na luta de classes, favoráveis e desfavoráveis, a revolução; ou mesmo os camaradas revolucionários, que não conseguem ver além do círculo de fogo das oligarquias, é comum num momento como esse, chegar ao desespero e agir no limite entre a capitulação (se vendendo à reação ou desbundando) e o aventureirismo pueril e oportunista do esquerdismo. E justamente, num momento em que a desagregação das forças revolucionárias é tão evidente, que chega a tornar aparentemente desnecessária uma defesa da unidade da classe operária e massas exploradas contra o cerne da classe dominante, as oligarquias, é que torna-se também evidente que este desespero entre os revolucionários, que os conduzem à fragmentação, não passa de um outro círculo de fogo como reflexo do primeiro, que deve ser superado tanto quanto o círculo oficial.
Foi, exatamente, num momento de refluxo da luta de classes para o proletariado, na Alemanha, como este atualmente no Brasil, que Engels aplicou esta máxima: “Quem vê a árvore não vê o bosque”. Era uma palavra de ordem de combate à contra-revolução que brandia com toda força seu aço sobre os revolucionários em toda a Europa, em conseqüência da derrota da Comuna de Paris. E Engels ao fazer isso, apenas aplicava o método dialético à história, como havia feito seu fiel amigo Marx, no “Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, apontando para as tragédias e farsas, no histórico processo de fluxo e refluxo da luta de classes. E não seria de outra forma a superação deste quadro conjuntural senão o de sobrepor com o pensamento e a ação revolucionária os círculos de fogo de então, que levou a desintegração da I Internacional e da II (na primeira, o esquerdismo anárquico de Bakunin, Blanqui e Proudhon, e na segunda, o reformismo, revisionismo e traição da social-democracia). É assim que emerge Lênin e os Bolcheviques, já não mais travando a batalha decisiva do marxismo revolucionário contra o anarquismo no movimento operário (I Internacional) e nem a batalha decisiva contra a aristocracia operária, como fizeram os fundadores do Socialismo, Marx e Engels, aos anos que precederam à formação da II Internacional.
Na época do imperialismo, a luta tornou-se ainda mais complexa e exige o combate a um novo círculo de fogo; não se trata apenas de combater o anarquismo ou o reformismo como tendências externas ao marxismo, mas e sobretudo, o revisionismo de direita e de esquerda, como tendências dentro do marxismo; e tanto quanto o anarquismo e o reformismo expressam o reflexo do pensamento burguês diretamente no movimento operário, o revisionismo expressa o reflexo deste pensamento burguês reacionário dentro do marxismo. Por último, quanto maior a crise social, a dimensão e força objetiva do proletariado dentro da sociedade, tanto maior a pressão e a luta ideológica da classe dominante para impedir que esta força objetiva social e revolucionária se transforme em força subjetiva orgânica e revolucionária. E este foi e continua sendo o impasse principal do “Que fazer” revolucionário solucionado por Lênin, há quase um século atrás, na Revolução Russa. Portanto, no curso histórico do fluxo e refluxo da luta de classes, que exigem as superações dos círculos de fogo oficiais e refletidos no movimento revolucionário, os verdadeiros lutadores sociais, comunistas revolucionários, só podem encontrar o seu “Por onde começar” despindo-se da angústia desesperadora de se sobrepor a um momento ou ao círculo de fogo oficial da burguesia, através do círculo de fogo da estreiteza revisionista.
Para exemplificar o quanto é inútil se movimentar no horizonte estreito desses círculos de fogo, tomemos o trágico assassinato do jornalista Tim Lopes como expressão condensada da violência na sociedade burguesa. Quem poderia solucionar o problema da violência no limite da crise sistêmica do capitalismo, usando de políticas compensatórias (reformismo) ou de foquismo urbano? Desgraçadamente, o primeiro conduziria à demagogia e hipocrisia na forma de governo, que a própria crise se incumbe de revelar a farsa; o segundo, acaba por confundir a ação revolucionária com as quadrilhas de salteadores, justificando a ampla repressão sobre os revolucionários e a massa da população. Assim, ambos contribuem apenas para o Estado conservador e hobbesiano, envolvendo no círculo de fogo o movimento revolucionário. É claro que a tragédia Tim Lopes é maior que o problema da violência, pois ele denuncia o próprio sistema que tem por condição a violência; ou não é fato que a Rede Globo como indústria cultural é responsável pelas condições de trabalho dos seus funcionários, como qualquer outra empresa capitalista! Ora, na construção civil ou em qualquer profissão que envolve o risco, a empresa deve responder pela segurança de seus funcionários. O que é hipócrita, demagógico e oportunista é tentar se eximir da responsabilidade exigindo uma ética de código, uma ética dura lex, sed lex, a quem vive a margem do Estado de Direito e é tratado e perseguido como tal; o que não é lógico é um jornalista com tantos anos de experiência e com tanto reconhecimento dos próprios funcionários da Globo, deixar de ocupar um cargo de chefia na direção dessa empresa para subir morro, disfarçar-se de “funkeiro” para filmar traficantes numa verdadeira aventura de 007; é como aquele peão da construção civil, obrigado a trabalhar nos andaimes dos arranha-céus sem cinto de segurança e culpar o vento por sua queda livre e desgraça. Onde está a hipocrisia? Como superar a violência dentro do horizonte da sociedade burguesa?
O mesmo se pode concluir do revisionismo em relação às crises “MALANDRAS”, cambiais e financeiras, que exigem os srs. Soros da vida e o continuísmo de Fernando Henrique Cardoso. Enquanto o modo de produção da sociedade for capitalista, nas condições atuais de desenvolvimento em que se chegou, onde o capital financeiro internacional se tornou a base dinâmica do sistema, não há como escapar destas crises. E se além disto, o sistema vive um ciclo econômico de baixa, como agora, como resultado da lei geral da acumulação, então estas crises são, além de inevitáveis, manipuláveis também, muitas, puramente artificiais, principalmente, as que se fazem sentir no capital financeiro (monetário). Ora, não entender até que ponto para a acumulação do capital monetário, nos momentos de depressão do capital produtivo, a centralização é uma lei geral, é o mesmo que não enxergar que sem a produção de riqueza na sociedade, derivada do trabalho social, ou seja, da mais-valia, não há como crescer a riqueza social (entendendo esta, no capitalismo, como mercadoria); logo, sem produção de valores de uso (mercadorias) não há como se expandir o valor abstrato (valor de troca) social, expresso monetariamente em termos reais e potenciais, para além da capacidade de consumo da sociedade individual e produtivo, que se estreita ao horizonte do desdobramento da composição orgânica do sistema. E nestas circunstâncias, reduzir estas crises ao mero movimento eleitoreiro é descaracterizá-las como crise real e limite do sistema e que por esta condição é utilizada eleitoreiramente, pois diante das mesmas, ou nos posicionamos para solucioná-las dentro do sistema ou fora deste; se solucionamos dentro do sistema apenas damos mais força a ele, se busca-se uma solução fora, tem-se novamente todos os que vivem do sistema contra a nossa posição, e assim não há como resolver esta questão nos marcos do círculo de fogo do revisionismo.
Finalmente, nos deparamos com os dois outros limites do círculo de fogo oficial, a Copa do Mundo e as eleições burguesas. Logicamente, é visível a ligação imediata entre a tragédia, a violência, o caso Tim Lopes, e o show, espetáculo, a grande pantomina da Copa; da mesma forma que é visível a ligação entre a crise “MALANDRA” e a saída eleitoral continuísta. Neste aspecto, desespero e alegria, lágrimas e sorrisos, opressão e realização, se acotovelam sobre o mesmo ponto, a vida e a morte, a crise e a saída eleitoral na sociedade burguesa. A Copa do mundo como alienação da tragédia real de vida esconde o fato que por trás das jogadas maravilhosas, do sonho de vitória, do clamor nacional e das cores da pátria estão os mesmos grupos empresariais que exploram, oprimem, escravizam, sodomizam e formatam o sistema social que vivemos; que sobre o regime de produção deste espetáculo estão milhares de trabalhadores submetidos a condições violentas de expropriação e trabalho gerando situações como a de Tim Lopes e a de seus algozes (os Elias “Malucos” da vida). E como combater este ópio do povo, este delírio necessário, este “antropologic blue”, esta auto-alienação, através de políticas compensatórias ou de foquismos inconseqüentes?
Enfim, chega-se uma vez mais, ao horizonte estreito do revisionismo, sua incapacidade de compreender que sua ação não irá além do argumento para as crises “MALANDRAS” e a solução eleitoral continuísta para as mesmas. Portanto, o problema fundamental e imediato de todos os comunistas revolucionários é romper com os círculos de fogo, que impedem a passagem da classe operária no Brasil de “classe em si” à “classe para si”, através da Refundação do Partido Comunista, sob os princípios do Marxismo-Leninismo, em todo o país; e de uma Plataforma Comunista que una a classe operária e massas exploradas, em seus objetivos imediatos e futuros, diante da conjuntura atual, de crise e saída eleitoral burguesa. Somente deste modo nos encaminhamos para tornar um fato em nossa militância o conteúdo revolucionário destas palavras de Marx, in a “Crítica à Filosofia do Direito de Hegel”: “lutar para pôr fim às ilusões sobre uma realidade, é lutar para pôr fim a uma realidade que necessita de ilusões”. Eis a importância da nossa Conferência Nacional, um passo prático na consolidação de nossos princípios organizativos e revolucionários. “Sonhos, acredite neles”!
Pela Refundação do Partido Comunista Marxista-Leninista, em todo o país!
Por uma Plataforma Comunista, que una a classe operária e massas exploradas ante a Crise do Capital e sua saída eleitoral burguesa!
Que a Globo responda pela segurança e vida de seus funcionários!
Rio de Janeiro, 18 de junho de 2002
P.I. Bvilla Pelo OC do PCML