Racionamento de energia pode ser diversionismo

Com a privatização da maioria das empresas de distribuição de energia elétrica e a falta de investimentos em infra-estrutura do sistema elétrico, o programa de racionamento pode ser uma manobra diversionista do governo federal para encobrir a crise geral que a economia do país está vivendo.

Racionamento de energia pode ser diversionismo

Por: Júlio César de Freixo Lobo


Com a privatização da maioria das empresas de distribuição de energia elétrica e a falta de investimentos em infra-estrutura do sistema elétrico, o programa de racionamento pode ser uma manobra diversionista do governo federal para encobrir a crise geral que a economia do país está vivendo.

O crescimento econômico do Brasil em 2001 deve ser bem menor do que as nossas autoridades econômicas estão prevendo, e pode chegar no máximo a 3%. A alta do dólar comercial é uma das causas do aumento astronômico das tarifas das empresas distribuidoras privatizadas e isso faz com que as parcerias com os nossos vizinhos do Mercosul sejam tumultuadas e desgastantes.

O próprio Ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, afirmou que a desvalorização do real é mais um problema para a não integração mais completa do Mercosul. Cavallo disse ainda que a crise de energia no Brasil aconteceu por uma falta de previsão do governo brasileiro, que não fez uma legislação preventiva para que a regulação do mercado de energia elétrica fosse respeitada.

Na verdade, o projeto neoliberal faz com que a mão invisível da concorrência da economia privada no mercado se torne um punho de ferro que esmaga a pequena e média empresa, já que o mercado é dominado pelos monopólios ou oligopólios que ditam preços, demandas e ofertas de produtos.

O discurso de que a globalização e o neoliberalismo seriam a solução para o processo inflacionário no Brasil é uma meia verdade, uma vez que a inflação caiu, mas o preço que a sociedade brasileira pagou para a estabilidade monetária foi o aumento do desemprego, das dívidas interna e externa e a perda de soberania em vários setores estratégicos da economia do país. No setor elétrico, por exemplo, a maioria das empresas distribuidoras de energia atualmente está nas mãos do capital estrangeiro, que dominam um setor vital para o desenvolvimento do país.

O exemplo dos EUA, que mantêm suas hidrelétricas nas mãos do Estado, e que mesmo assim está sofrendo com a falta de energia elétrica, principalmente no estado da Califórnia, é uma demonstração de que no mundo atual os custos de produção de uma empresa ou economia tem que levar em consideração a sua fonte de energia, que pode ser renovável ou não.

A desculpa da falta de chuvas, que levou os reservatórios das hidrelétricas brasileiras ao mais baixo nível dos últimos anos, não pode ser levada a sério, uma vez que há vários anos o governo federal estabelece o horário de verão para economizar energia elétrica.

Este problema de falta de energia é mais uma forma de se pensar um novo modelo de desenvolvimento que priorize os recursos renováveis para que no futuro próximo não exista mais colapsos, com a necessidade de racionamento e apagões.

Com o potencial hidrelétrico que o Brasil tem, somente a falta de investimentos em infra-estrutura e nas linhas de transmissão de energia pode ser a explicação para o caos no sistema hidrelétrico nacional cuja finalidade é fazer marketing negativo contra a empresa pública nacional, as centrais elétricas, que estão engessadas em seus investimentos devido ao acordo do Brasil com o FMI.

Os concessionários das empresas distribuidoras de energia e também das geradoras não estão cumprindo os planos de metas de investimentos que estão estipulados nos contratos assinados com o governo. Agora o governo federal decide não mais privatizar Furnas Centrais Elétricas, já que a empresa tem um programa de investimentos de mais de R$ 7 bilhões, mas com o acordo do Brasil com o FMI a empresa tinha que ser vendida para pagar a dívida externa do país, mas com a crise do setor energético o governo deverá tirar Furnas do CND (Conselho Nacional de Desestatização ) que tinha em seu cronograma a venda da empresa ainda no governo FHC.