Por que Shakeaspere está tão em moda?

Uma avalanche de adaptações das peças do dramaturgo inglês William Shakeaspere estão sendo apresentadas e representadas no circuito Rio-São Paulo. É uma verdadeira febre, que vão desde os clássicos eternizados, como Hamlet, Rei Lear, até comédias como “A megera domada”, e “Sonhos de uma noite de verão".

Por que Shakeaspere está tão em  moda?

Por: Mercedes Baobá



Uma avalanche de adaptações das peças do dramaturgo inglês William Shakeaspere estão sendo apresentadas e representadas no circuito Rio-São Paulo. É uma verdadeira febre, que vão desde os clássicos eternizados, como Hamlet, Rei Lear, até comédias como “A megera domada”, e “Sonhos de uma noite de verão".

As peças de Shakeaspere fizeram muito sucesso na Europa do século XVII, em plena decadência do período medieval, de passagem para um novo sistema econômico que brotava com toda a força e colocava por terra todos os valores da classe dominante, a Nobreza feudal - como honra, honestidade, fidelidade e submissão, tão cultuados na Idade Média, nas tragédias e dramas de Shakeaspere se diluem nas artimanhas, intrigas e traições na ânsia pelo poder. As personagens de Shakeaspere sofrem dilemas irreconciliáveis de ora negar regras rígidas instituídas e ao mesmo tempo abominar a infração dessas regras. Neste aspecto, o conteúdo das tragédias é moralizante: os que atentam contra elas sofrem a devida punição: a morte e quase sempre ninguém se salva.

O que tem a ver esse momento da Europa medieval com o Brasil do sec. XXI? Resguardando-se as devidas dimensões temporais geográficas e históricas, a semelhança que se nota é que vive-se hoje um período de transformações e questionamentos de valores, quando todo um sistema econômico que brotou, cresceu e prosperou, começa a dar sinais de declínio, o capitalismo - e com ele o questionamento de seus valores. A classe média brasileira e no mundo, que ostenta e perpetua os valores da burguesia e deu suporte a seu conjunto de propostas está diante do dilema de não ter saída para ela no mundo da globalização - o engodo de o país chegar ao primeiro mundo com o neoliberalismo penalizou bem mais a classe média. Seu caminho é o mesmo da classe operária, o empobrecimento contínuo. Rejeita os valores burgueses, mas não aceita os valores do novo sistema que está brotando, o Socialismo. Eis porque o dilema shakeaspereano vem de encontro a essa época. Que a solução para esse conflito não seja a morte passiva, pois ela é certa. Mas a ação conseqüente ao lado da classe que traz em si o futuro e o novo homem.