Cordel: a resistência do povo

Cordel: a resistência do povo

Cordel: a resistência do povo

Por: Anerê Paladino



Segundo Delei, cantor de forró, “cordel é uma manifestação popular do povo de nossa festa, do Nordeste". A gente tem notícia do cordel, já na época do governador Tomé de Souza:



“O cumpadre Tumé de Souza

Guvernador da Bahia, casô

com dona Sofia, butou na frente

e atrás, passou por uma budega, tumou

uma caiéba, cumeu o .... Nóbrega

e os tempos não vortam mais”.



O cordel ficou conhecido como aquele folhetim vendido nas feiras, onde tem gente reunida, pendurado nos barbantes, nas cordinhas, mas não é só isto não, é literatura oral. É literatura oral que passa de geração em geração, como eu estou passando agora para o jornal, para vocês. Vou deixar aqui meu contato com vocês:



“Meu telefone é .....

Se mi ligar mei dia

que é a hora de tá em casa

para cumer feijão, arroz,

macaxeira, tapioca, rapadura, farinha;

e dois copo d’água para enxer o buxo”.


Se a gente observar os versos do cordel, escritos no século XVI, perceberá que Manuel da Nóbrega, padre Jesuíta e Tomé de Souza, governador Geral, heróis inventados pela classe dominante, e que constam ainda em vários livros didáticos atuais, eram alvos da crítica do povo.

Os poetas cordelistas podem escrever os vários aspectos. Podem ter como tema a crítica política, as injustiças sociais, ou o sentimento. É o caso, por exemplo, do poeta popular João Gomes, de Itaboraí, que tem versos sob variados temas, mas escolhemos de um que revela seus sentimentos pela neta quando menina:


“Chou, Chou pavão lá de riba desse muro,

para ver se essa menina drome um sono seguro.

Chou, Chou pavão lá de riba do teiado,

para ver se essa menina drome um sono sussegado”.



Os intelectuais eruditos pertencentes à classe dominante não consideram as manifestações culturais do povo como cultura e não valorizam a poesia de cordel. Poetas como Patativa do Assaré, Azulão e tantos outros, não reconhecidos no restante do país, constam dos currículos escolares, não são ensinados às novas gerações, embora conhecidos internacionalmente.


É como diz o amigo do INVERTA, o poeta matuto, Geraldo do Norte, que faz suas críticas por exemplo às injustiças sociais:



“Eu nasci num pé de serra,

e pra quem nasce em minha Terra

Não existe outra saída

ou vira escravo da fome,

ou sai e vem ganhar nome

... Já cumi hóstia em jejum,

um punhado assim bem bom,

Esperando o bispo chegar

mas ele não veio do céu,

veio da casa do coronel,

onde tinha ido almoçar”.


“E por falar em comer, eu agora vou dizer

o que a fome faz.

Ela não escolhe nome,

uns morrem porque não comem,

outros por comer demais”.



Mesmo com a globalização neoliberal que quer implantar uma única ordem econômica, um único modelo cultural, há os que resistem em manter as tradições e a cultura popular.