Minas 40 graus: a terra torra e a água seca

Está por se encerrar o período das chuvas e verificou-se que elas não foram suficientes para recompor os reservatórios, estando eles, hoje, em níveis altamente críticos e deixando atônitos os responsáveis pelos recursos hídricos do Estado. O período de seca anterior, seguido de um período de pouca chuva, deixa o presente em suspense e o futuro ameaçado.

Minas 40 graus: a terra torra e a água seca

Por: Sucursal MG

 

 

Literalmente, está quente o clima em Minas Gerais. Estamos vindo de uma estiagem prolongada. Em julho do ano passado, já estávamos vivendo 4 meses consecutivos de seca. Em setembro, os termômetros chegaram a marcar a temperatura de 40ºC, no Triângulo Mineiro. Nas regiões do Rio Doce, Jequitinhonha e Noroeste, a disponibilidade de água nos reservatórios era crítica e comprometia o fornecimento de água para consumo próprio e, inclusive, para agricultura irrigada. Na região Norte, a cidade de Montes Claros (280 mil habitantes) já fazia racionamento de água, no mês de outubro.

Está por se encerrar o período das chuvas e verificou-se que elas não foram suficientes para recompor os reservatórios, estando eles, hoje, em níveis altamente críticos e deixando atônitos os responsáveis pelos recursos hídricos do Estado. O período de seca anterior, seguido de um período de pouca chuva, deixa o presente em suspense e o futuro ameaçado.

 

A seca

O fenômeno da seca sempre esteve associado ao Nordeste brasileiro, porém, nunca se falou tanto nele como agora, aqui em Minas.

Trata-se da região do Vale do Jequitinhonha. Ali, o rio Jequitinhonha tem sofrido toda sorte de agressão pela ação dos garimpos e as conseqüências são miséria e dor para a população que dele depende. Sem apoio e sem perspectivas. Recentemente, a Secretaria de Estado de Educação divulgou os resultados do SIMAVE (Sistema Mineiro de Avaliação). Os resultados revelaram a crueldade do nosso sistema: os alunos do Vale do Jequi-tinhonha, Mucuri, Norte e Noroeste do Estado tiveram a pior média.

 

Abastecimento de água

 

A Copasa (companhia estatal responsável pela captação, tratamento e distribuição) já encomendou um estudo técnico para avaliação de seus mananciais, pois as atuais condições climáticas são altamente desfavoráveis e há necessidade de uma administração segura para garantir o fornecimento de água pelo resto do ano. Mas outro problema que a empresa já cogita enfrentar é o racionamento de energia elétrica. Para produzir os 67 milhões de metros cúbicos de água tratada por mês, ela se torna a 2ª maior consumidora de energia elétrica no Estado.

Segundo a Copasa, a região que inspira maior atenção é a de Montes Claros, onde a sua barragem está com 20 cm abaixo do nível normal, mesmo no período das chuvas. Já a região da Grande Belo Horizonte, onde estão concentrados 40% dos consumidores de água da estatal, só corre o risco de racionamento, se houver racionamento de energia elétrica, de vez que seus reservatórios se encontram em boas condições.

 

 

Os conflitos pela água

Em se tratando de líquido tão precioso e escasso, os conflitos pela sua posse já começam a despontar com maior intensidade. Um deles está localizado no Norte do Estado. Estamos falando do rio Riachão, que se encontra em estado crítico, com pouca água, e do qual dependem dois grupos de pessoas: um pequeno grupo formado por seis grandes produtores e um grande grupo formado por 2.500 famílias de pequenos produtores. Qual a causa da discussão? É que os grandes produtores usam grandes irrigantes e instalaram, em 1991, pivôs na cabeceira do rio. Com isto, sugam toda água disponível e não sobra para correr e chegar aos pequenos produtores que estão vivendo uma situação de extrema penúria.

A exploração das águas minerais, também, têm sido objeto de discórdia. No sul de Minas, mais precisamente, na cidade de São Lourenço, a exploração e comercializa-ção indiscriminadas põem em risco os aqüíferos da cidade. A empresa exploradora desta atividade é subsidiária da Nestlé e ela retira uma média de 250 mil litros/dia do Parque das Águas.

Recentemente ambienta-listas, ecologistas, o povo e turistas fizeram uma manifestação na cidade, denunciando que já há uma diminuição na vazão das águas e que um dia poderá vir a secar as fontes de água gasosa e inviabilizar a principal atividade econômica da cidade: o turismo.

 

 

O grande lago de Furnas

Como não poderia deixar de ser, é grave, também, a situação do Lago de Furnas, formado pela bacia hidrográ-fica do Rio Grande. Seu nível d’água está 12 metros abaixo do que seria normal e poderá descer ainda mais com o término do período das chuvas. O quadro não é nada animador: o limite mínimo que o nível de suas águas poderá chegar é 750 metros acima do nível do mar; hoje, este nível está há 755 metros. Se este nível chegar a 750 metros, será necessário o desligamento das turbinas da Usina de Furnas, responsável por 43% de toda energia consumida no País.

Há uma catástrofe anunciada no Lago de Furnas. É que, ao seu redor, estão localizados 34 municípios. Estes municípios vivem, basicamente, do turismo, da pesca e da agricultura irrigada pelas suas águas. Com a diminuição de seu volume de água, uma crise social é esperada e de solução inviável a médio prazo. Por isso, todos os municípios estão lutando em duas frentes: contra a privatização de Furnas Centrais Elétricas (por entenderem que privatizada será pior) e pelo controle do nível das águas (só retirar do lago a vazão que ele pode repor).