Trabalhadores pagam a crise do Real: Quase 50 milhões sem carteira de trabalho

TRABALHO INFORMAL: Segundo as últimas estatísticas, o grau de informalidade da economia brasileira chega a 60% da PEA (População Economicamente Ativa), que atualmente está em cerca de 70 milhões de trabalhadores. Os dados mais recentes mostram que o crescimento do setor informal é de 0,8% ao ano, ou seja, algo em torno de 600 mil pessoas perdem a carteira assinada e entram para esse mercado todo ano.

Trabalhadores pagam a crise do Real:

Quase 50 milhões sem carteira de trabalho

Por: Julio Cesar F. Lobo



Segundo as últimas estatísticas, o grau de informalidade da economia brasileira chega a 60% da PEA (População Economicamente Ativa), que atualmente está em cerca de 70 milhões de trabalhadores. Os dados mais recentes mostram que o crescimento do setor informal é de 0,8% ao ano, ou seja, algo em torno de 600 mil pessoas perdem a carteira assinada e entram para esse mercado todo ano.

Em 1999, a taxa de informalidade estava em torno de 42,5% nas regiões metropolitanas do país, sendo que a maior variação da informalidade de 1996 para 1999 aconteceu nas regiões da capital metropolitana que subiu de 32,5% para 35,4%.

Desde a implantação do Plano Real, a participação dos empregados sem carteira assinada no total da ocupação nas regiões metropolitanas brasileiras subiu de 24,08% em 1995 para 28,11% em agosto de 2000. O estudo do IBGE mostra que em 1995 a diferença dos rendimentos dos trabalhadores com ou sem carteira assinada nas regiões metropolitanas era de 25,94% e em julho de 2000 a diferença era de 19,16%.

Se compararmos a diferença dos rendimentos entre os trabalhadores com carteira assinada e os que trabalham por conta própria, veremos que durante o Plano Real, ou seja, de 1995 a 2000, o diferencial aumentou de 10,61% para 20,36%, ou seja, os que trabalham por conta própria perderam mais. A renda real média dos trabalhadores também caiu neste período: em 1995 foi de R$ 724,59, comparando-se com os últimos dados de 2000, que foi de R$ 710,58. Em 1995, o salário mínimo real estava em R$ 124,43 e os últimos dados de 2000 mostram que o salário mínimo real estava em R$146,39.

Entretanto, os trabalhadores perderam, pois o aumento real do salário mínimo foi de cerca de R$ 4,00 ao ano durante o Plano Real, ou seja, bem menor que a inflação do período de cinco anos, que foi de quase 70%.

Sobre o salário mínimo, uma pesquisa feita pelo economista da Unicamp, Márcio Pochmann, procurou fazer uma análise da variação e do poder de compra do salário mínimo desde a sua implantação por Getúlio Vargas. O estudo de Pochmann mostrou que o poder de compra do salário mínimo nunca foi tão pequeno e que hoje vale cerca de 26% de quando foi implantado há mais de 50 anos. Com o projeto do Presidente da República FHC de acabar com a era Vargas, talvez seja uma das idéias de FHC tentar diminuir o poder aquisitivo do salário mínimo para que ele assim não chegue ao seu objetivo de dar alguma remuneração e poder de compra aos trabalhadores.

O aumento para R$ 180 foi mais um cala-boca para os setores que pediam um mínimo de US$ 100 em meados do ano passado por pura demagogia.

O índice de desemprego pesquisado pelo DIEESE entre 2000 e 2001 em todo o Brasil é o seguinte: 20% em Brasília, entre os períodos de março de 2000 e de 2001, Belo Horizonte o desemprego chega 17,5% em 2001, em Porto Alegre a taxa de desemprego chega a 14,7% em 2001, no Recife o desemprego estava em fevereiro de 2001 em 19,6%, em Salvador os índices do Dieese mostram uma taxa de desemprego em torno de 25% e em São Paulo o índice de desemprego está em torno de 17%.

Segundo o DIEESE, as negociações salariais em 2000 foram bem melhores do que do ano de 1999, já que 67% dos reajustes praticados no ano foram iguais ou superiores ao INPC de 2000. Em relação ao Plano Real, somente em 1995, os reajustes salariais foram superiores ao INPC do ano, em 1996 cerca de 60% das categorias profissionais conquistaram reajustes iguais ou superiores ao INPC.

Em 1997, por exemplo, foram 55% das categorias profissionais que conseguiram reajustes iguais ou superiores ao INPC. Em 1998, o índice de reajustes acima ou igual ao INPC chegou a 65% das categorias. E o pior ano do Plano Real foi o de 1999, quando apenas 50% das categorias profissionais conseguiram um reajuste superior ou igual ao INPC do IBGE.

Os dados atuais sobre desemprego no Brasil estão em torno de 7,6%, mas, segundo o instituto, com a projeção de que o crescimento econômico do país seja de 4% em 2000 a tendência é de uma pequena queda no indicador de desemprego do IBGE, mesmo assim o Brasil ocupa a quarta ocupação em matéria de desemprego no mundo.