Unidos os proletários fazem ouvir sua voz ao mundo

Artigo de Antonio Cícero, Doutorando "O 1º de maio talvez seja a data de caráter internacionalista mais acentuado na história do movimento operário. Em torno dela, importantes manifestações têm ocorrido desde que foi incorporada ao movimento mundial dos trabalhadores em 1890. Durante a guerra fria se tornaram célebres os desfiles militares realizados na União Soviética para demonstrar a capacidade militar do Estado socialista frente às ameaças do imperialismo, ainda hoje o 1º de maio em Cuba constitui-se num momento de exaltação dos valores patrióticos e socialistas frente às agressões americanas. No Brasil, as manifestações do primeiro de maio, a partir de 1978, no ABC paulista sinalizavam o avanço da luta contra a ditadura militar......"

Unidos os proletários fazem ouvir sua voz ao mundo

Por: Antonio Cícero
Doutorando em História 

"Acordemos do sono como leões.
Que o nosso número nos torne invencíveis.
Sacudam vossos grilhões,
Como o orvalho que vos molhou no sono.
Nós somos muitos, eles são poucos "

Eleanor Marx,
Londres, maio de 1890


    O 1º de maio talvez seja a data de caráter internacionalista mais acentuado na história do movimento operário. Em torno dela, importantes manifestações têm ocorrido desde que foi incorporada ao movimento mundial dos trabalhadores em 1890. Durante a guerra fria se tornaram célebres os desfiles militares realizados na União Soviética para demonstrar a capacidade militar do Estado socialista frente às ameaças do imperialismo, ainda hoje o 1º de maio em Cuba constitui-se num momento de exaltação dos valores patrióticos e socialistas frente às agressões americanas. No Brasil, as manifestações do primeiro de maio, a partir de 1978, no ABC paulista sinalizavam o avanço da luta contra a ditadura militar.

A sua constituição como data internacional dos trabalhadores está associada a dois momentos da história do movimento operário: a luta pela redução da jornada de trabalho e a organização mundial dos trabalhadores.

No II Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores – AIT (fundada em 1864), realizado em 1866, foi aprovada a luta pela jornadas de 8 horas “como primeiro passo para a emancipação do proletariado”, conforme defendeu o representante de Marx neste congresso.

O início da década seguinte é marcado pelo episódio da Comuna de Paris de 1871, quando os operários, frente à traição da burguesia francesa, que prefere se aliar aos invasores prussianos, proclamam um Estado proletário. Os membros da Comuna se dividiam em uma maioria de blanquistas (seguidores de Auguste Blanqui, defensor da tomada do poder pelo proletariado por meio de conspirações organizados por pequenos grupos) e uma minoria de filiados à AIT, ligados às idéias de cooperativismo, federalismo e descentralização, defendidas por Proudhon. Após resistir por 70 dias, a Comuna é derrotada, mas plantara a semente do governo dos trabalhadores: pela primeira vez tremulara a bandeira vermelha, símbolo internacional da classe operária, escolhida como bandeira da Comuna. Nas cores da bandeira francesa, o azul representa a nobreza, o branco, o clero e o vermelho, o povo. A nova bandeira significava a autonomia da classe operária, não mais atrelada às alianças com a burguesia, que tendia a se compor com as antigas classes dominantes sempre que os interesses da propriedade privada dos meios de produção estivessem em jogo, como se viu em 1848. A violenta repressão que se segue à Comuna: mais de 30 mil comunardos mortos e milhares exilados, obriga a AIT a se transferir para os Estados Unidos em 1872.

O movimento operário nos Estados Unidos, desde a década de 1860, vinha se organizando e enfrentando a tirania dos patrões e do Estado capitalista. Neste período, as duas principais organizações são os Cavaleiros do Trabalho, fundada em 1869 e ligada ao sistema pré-fordismo, portanto, admitindo todo tipo de profissional, mesmo o não-qualificado, e a Federação Americana do Trabalho (AFL), fundada em 1881, que procurava enfrentar os novos rumos tomados pelo capitalismo americano organizando sindicatos por profissões, já que o fordismo exigia organização da produção segundo procedimentos rígidos, dispensando o trabalhador especializado.

Na base do movimento operário americano, formas de lutas avançadas começavam a se constituir. Em 1884, num congresso da AFL é aprovada uma greve geral nacional pela jornada de 8 horas. Os líderes defendiam que, a partir de 1º de maio de 1886, os operários abandonassem as fábricas após o cumprimento do período determinado.

Os acontecimentos ligados à greve de 1886 [ver artigo Luto-luta: o Primeiro de Maio no Rio de Janeiro (1890-1940), nesta edição] levam à II Internacional, fundada em 1889 a aprovar no seu congresso a organização de uma grande manifestação internacional, considerando manifestação similar já aprovada pela AFL.

Os militantes socialistas se empenharam na Europa e na América para fazer do 1º de maio de 1890 um marco na luta de classes internacional. Engels estava na Inglaterra e escreveu no prefácio a mais uma edição do Manifesto do Partido Comunista, lançada neste dia: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!

Somente poucas vozes responderam quando, há mais de quarenta e um anos, lançamos este grito, às vésperas da primeira revolução parisiense na qual o proletariado avançou com reivindicações próprias. Todavia, a 28 de setembro de 1864, os proletários da maior parte dos países da Europa ocidental se uniram na Associação Internacional dos Trabalhadores, de gloriosa memória. A Internacional, é verdade, não viveu mais de nove anos. Contudo, a melhor prova de que a eterna união que ela lançou entre os proletários de todos os países está ainda viva e mais forte que nunca é a jornada de hoje. Neste momento enquanto escrevo estas linhas, o proletariado europeu e americano desfila suas forças, pela primeira vez mobilizados como um só exército, com uma só bandeira e por um só objetivo imediato – a conquista da lei da jornada de oito horas. Reivindicação já proclamada no Congresso Internacional em Genebra, em 1866, e depois pela Segunda vez, no congresso operário de Paris, em 1889. O espetáculo deste dia demonstrará claramente aos capitalistas aos proprietários de terra de todos os países que os proletários de todos os países do mundo estão realmente unidos.” (Citado por José Luiz del Roio, A história de um dia: 1º de maio, pp. 38-39).

A luta pela redução da jornada de trabalho, como primeiro passo, e a derrubada do capitalismo como objetivo maior, estas duas bandeiras têm feito das manifestações do 1º de maio momento privilegiado na luta da classe operária internacional. Associando-se a aspectos da cultura e das condições de luta dos diferentes povos, o 1º de maio preserva o internacionalismo e o socialismo, como sua razão de ser. Em maio de 1890, a classe operária se reergueu para novas batalhas que levaram a vitórias como a revolução bolchevique de 1917 e a derrota do nazismo na II Guerra. Saindo da crise que representou a desagregação da União Soviética, com a afirmação do neoliberalismo, o proletariado busca na sua trajetória de lutas inspiração para as batalhas que estão sendo travadas nestes novos tempos.