19 de abril: Indígenas contra o Plano Colômbia em defesa da Amazônia

Entrevista com o cacique Kurubo, Kashalpinia Runaique Manaime

19 de abril: Indígenas contra o Plano Colômbia em defesa da Amazônia

Por: Osmarina Portal



Entrevista com o cacique Kurubo, Kashalpinia Runaique Manaime


O Plano Colômbia colocou em evidência a discussão do antigo interesse dos imperialistas de colocar os tentáculos na Amazônia, região de incontáveis recursos naturais, de riquezas biológicos e minerais, que os monópolios estrangeiros estão ávidos para explorar. Hoje a palavra-de-ordem de todo povo latino-americano, principalmente os povos oprimidos que vivem em uma parte da Amazônia, é defender a Amazônia.

Neste número, em defesa da Amazônia e dos direitos dos povos originários, entrevistamos o cacique Kashalpinia Runaique Manaime, cujo nome significa selva floresta da tribo Kurubo, que nos falou de forma sensível de vários assuntos: da defesa da Amazônia, política, extermínio e luta.



Índios isolados e sem assistência

“Minha tribo está isolada, não tem demarcação de terra (lágrimas), não tem escola e educação, não tem saúde, não tem nenhuma assistência. Estamos em Brasília nesse dia do índio pedindo no Congresso porque no Amazonas a população Kurubo está totalmente isolada. Minha população mora na floresta e estamos pedindo que ela seja respeitada. Não respeitam a floresta, não respeitam meu povo indígena que mora no Amazonas. Eu não tenho certidão de nascimento. Não somos reconhecidos pelo Governo Federal, pela FUNAI [Fundação Nacional do Índio], por nenhuma entidade, estamos pedindo também à Comissão dos Direitos Humanos para que possa ajudar meu povo indígena em nossos direitos, nós também somos humanos que vivemos na floresta”.


Defendamos os índios e a Amazônia

“A minha tribo fica na divisa do Rio Javari, entre Peru, Colômbia e Brasil. A Tribo está buscando sobrevivência. Nós estamos no terceiro milênio e quero dizer aos deputados que toquem neste tema dos índios isolados, que não têm direito a nada, morando em caverna, no barro, no chão, não tem contato com branco, tem cultura antropófaga. É esta cultura muito antiga que está protegendo a Amazônia dos madeireiros.

Eu fui na embaixada do Oriente Médio, Israel, Irã, Ásia, África pedir apoio para que nos ajudem a proteger a floresta. Nós índios estamos guardando a Amazônia para o futuro. Por isso eu peço aos jornalistas que, por meio de divulgação, me apoiem, com assinaturas, Internet para defender a Amazônia.

Minha tribo tem 600 índios, que por falta de proteção do governo, está entrando em extinção; a FUNAI não deve ser extinta não para que proteja as tribos indígenas e o Amazonas, patrimônio da humanidade.”


O Plano Colômbia

“Minha tribo fica na divisa da fronteira com países onde os Estados Unidos querem colocar tropas militares.

As Nações Unidas têm que propor um projeto de lei para proteger a Amazônia. E assim nós índios também vamos ser protegidos. A Amazônia também é patrimônio do Brasil. Isso falo também para o comandante general do Exército que lutou na 2º Guerra Mundial para defender o Brasil. Então ele não deve “soltar” o patrimônio do Brasil - A Amazônia - ele tem que continuar defendendo junto com os índios”


A proposta de desenvolvimento sustentável

“A posição da população indígena é que não concordamos com países da Europa. Por exemplo, agora (5/4/01) o presidente da França está no Palácio Itamarati, ele veio para negociar a Amazônia para que a Amazônia passe para as mãos das multinacionais. Isso prejudica a população da região.


Não queremos que nação estrangeira tome a Amazônia

Eu falei ao comandante geral do Exército para não permitir a entrega do Amazonas a países da Europa ou aos Estados Unidos. O presidente não concorda com a população indígena, com COIAB, não concorda tão pouco com o comandante do Exército. Porque o patrimônio da Amazônia pertence à nação brasileira. Por isso o comandante geral da Exército falou que está disposto a defender a Amazônia. Nós índios também vamos defender com sangue a nação Brasil, o patrimônio Amazonas pertence ao Brasil e não pertence às nações da Europa e nem aos Estados Unidos.”


Ato em frente ao Congresso

No dia 19 de abril, o Estatuto do Índio vai à votação no Congresso. As várias tribos estão pedindo o apoio da população para conseguir a aprovação do projeto: “Pedimos ao nossos irmãos que façam abaixo-assinado, ponham na Internet e estejam mobilizados a partir das 8 horas em frente ao Congresso. Não queremos que mexam em nosso estatuto, queremos a demarcação de nossas terras, reconhecimento das minorias indígenas, pela defesa da Amazônia, patrimônio do índio, do povo brasileiro e da humanidade. Ianques, tirem as garras da Amazônia!