Peru: Impactos do Plano Colômbia

A zona de conflito tem uma área de 3,5 milhões de Km2 da região andino-amazônica, com 100 milhões de habitantes. É indispensável converter as vítimas da violência que o Plano Colômbia irradia, em sujeitos de suas próprias propostas, como parte fundamental da solução.

Peru: Impactos do Plano Colômbia

Por: Hugo Cabieses
Economista peruano, pesquisador do CEPES e assessor da CONAPA-Peru


Os impactos do “Plano Colômbia” podem se encontrar em vários marcos: geográfico, segurança, econômico, ecológico e sócio-político. O debate até agora não tem envolvido majoritariamente importantes atores da sociedade civil, como os agricultores, as populações envolvidas nas plantações de cocaína, de maconha e de ópio. Os que estão enterrando os mortos não tem voz nestes debates. Portanto, é indispensável converter as vítimas da violência que o Plano Colômbia irradia, em sujeitos de suas próprias propostas, como parte fundamental da solução.

Na geografia, a zona de conflito tem uma área de 3,5 milhões de Km2 da região andino-amazônica, com 100 milhões de habitantes em um teatro de operações que vai da Amazônia, Orinoquia, selvas do Choco e Golfo do Darién nos países fronteiriços com a Colômbia. Mas no Peru, este teatro já está em Iquitos e os vales do Alto Huallaga e o Apurímacene. Se trata do pulmão do mundo, da maior reserva de água doce do planeta com riqueza biológica e berço de cultura autóctones com conhecimentos secretos que a humanidade não deveria destruir.

Em aspectos de segurança, o Plano Colômbia busca aumentar a presença militar dos EUA na região andina com o objetivo de controlar as convulsões sociais que vêm com a aplicação das políticas neoliberais. Cerca de 73% dos recursos dos EUA são para fins militares e de segurança com treinamento 12.500 homens, 500 assessores, 80 helicópteros Huey e Black Hawk, US$ 60 milhões para radares e um sofisticado equipamento tecno-lógico militar para fazer a guerra. Para o Peru se destinaram nada menos que US$ 30 milhões para estes fins, os mesmos que têm sido incrementados até US$ 100 milhões, segundo a recente iniciativa Andina de Bush e Colin Powel.

No econômico, o Plano é um esforço externo mais significativo dos EUA em sua luta antidrogas: US$ 1.300 milhões, US$ 748 milhões para assuntos militares e também US$ 272 milhões para o “desenvolvimento alternativo”; promover o respeito dos Direitos Humanos e fortalecer a justiça. O Peru se “beneficiará” com US$ 150 milhões para desenvolvimento alternativo. Não obstante se produz uma escalada militar regional, as economias dos países se verão seriamente afetadas: diminuição do crescimento econômico, incremento do déficit fiscal, pressões inflacionárias, baixos investimentos e empregos, diminuição da demanda, recessão da economia, déficit da balança comercial, fuga de capitais, aumento do endividamento externo e etc. Para o Peru os efeitos serão particularmente graves.

Em relação ao lado ecológico, a aplicação do Plano acentuará a ineficaz política de fumigação química e a “guerra biológica”, com o uso do fungo Fusarium Oxysporum cujo efeito será devastador, como tem afirmado os profissionais sérios. A erradicação imposta, segunda a experiência dos países andinos, tem levado à dispersão e à interiorização dos cultivos até as zonas afastadas com a seguinte ampliação da fronteira agrícola nos bosques e instalações de cultivos nas cabeceiras dos rios com efeitos devastadores em épocas de chuvas.

No lado social, sobre os mortos e feridos em Putumayo e outras zonas, se estima que no sul da Colômbia provocará nada menos do que 30 desabrigados até a fronteira do Equador e eventualmente no Peru. Os conflitos sociais da região se agravarão pela fragilidade social geral e pela dramática crise humanitária que atravessa a população desabrigada (mais de 1 milhão de pessoas na Colômbia desde 1995) e massacrada (mais de 18 mil mortos só no ano 2000): a segunda maior tragédia do mundo recente depois de Kosovo. No Peru os efeitos sociais do Plano Colômbia podem expressar-se em uma maior miséria em consequência do desvio de recursos públicos até atividades de segurança e o efeito que terá sobre o tecido social dos indígenas e colonos, não somente nas fronteiras, mas também nos vales do Huallaga e Apurimac-Ene.

Neste contexto os atores do conflito até agora são: a) as Forças Armadas de todos os países; Governo, guerrilha e paramilitares; b) As forças políticas que aumentam os incêndios por razões de Segurança Nacional; c) As ONGs que apóiam a eliminação e ou a humanização do conflito; e, d) Os intelectuais e cientistas que se pronunciam a favor ou contra os aspectos mais daninhos como a “guerra biológica”. As vítimas do conflito, os verdadeiros atores que se encontram todos os dias entre vários fogos, os homens e mulheres organizados em seus municípios, vales e casas não têm voz e voto na hora de tomar decisões, são tratados como objetos e vítimas.

Neste contexto, os governos e as sociedades civis dos países andinos, deveriam rechaçar os aspectos militares do Plano Colômbia, que fazem parte da estratégia dos setores militaristas dos EUA. Deve-se “desmilitarizar, desnarcotizar e andinizar” o Plano. É dizer, civilizar e pacificar a proposta, desarticular com respeito à exclusiva luta contra o tráfico de drogas e construí-la com uma proposta para os países andinos afetados pelo flagelo das políticas neoliberais.