Privatização das empresas elétricas piora serviços

Em entrevista ao Inverta, o Diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Energia do Rio de Janeiro e outros (Sintergia), Urbano Vale, afirmou que depois das privatizações as falhas no sistema elétrico nacional começaram a surgir. Dados sobre as privatizações

Privatização das empresas elétricas piora serviços

Por: Júlio César F. Lobo


Em entrevista ao Inverta, o Diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Energia do Rio de Janeiro e outros (Sintergia), Urbano Vale, afirmou que depois das privatizações as falhas no sistema elétrico nacional começaram a surgir.

“A Light, por exemplo, que foi privatizada em 1996, tinha 11.860 empregados fixos e esse número caiu para 5200 funcionários, além do que a maior parte dos serviços foram terceirizados, com quase 6 mil trabalhadores neste vínculo com a empresa. Depois da privatização, começaram os “apagões”. Os investimentos dos novos concessionários não foram suficientes para impedir as falhas na distribuição dos serviços de iluminação”, afirmou Urbano.

A privatização do setor elétrico fere a soberania e a segurança nacional, na opinião do Diretor do Sintergia, já que se alguns grupos internacionais comprarem as empresas transmissoras e geradoras de energia e o país entrar em algum atrito comercial, como recentemente aconteceu entre Brasil e Canadá, em represália os novos concessionários podem criar um grande “apagão” que paralisaria mais da metade do país.

“Eu não acredito que o governo FHC consiga privatizar as empresas geradoras de energia até o final do seu mandato, pois a sociedade está tomando consciência de que é mentira a afirmação de que os recursos com a venda das estatais brasileiras seriam usados para investimentos sociais. Esses recursos, que são fruto do trabalho de várias gerações de brasileiros, estão sendo gastos no pagamento dos juros das dívidas externa e interna e para manter a estabilidade artificial do real;” desabafou o sindicalista.

Ele disse que a terceirização da mão-de-obra traz o problema da falta de qualificação, já que para se aprender a fazer um serviço é necessário tempo e os trabalhadores terceirizados estão entrando sem qualificação para exercerem funções que na maioria das vezes oferecem risco até de vida. “A terceirização é um fato em todos os setores privatizados. Por isso têm acontecido vários acidentes e falhas nos serviços prestados ao consumidor, que sempre é o mais prejudicado nesta história toda”; alertou o Diretor do Sintergia.


Racionamento - povo paga por sede de lucros das multis

“O possível racionamento de energia é uma prova de que os investimentos não foram feitos nos setores de manutenção e infra-estrutura. Essa falta de investimentos vem acontecendo desde a década de 80, quando estava sendo gestado o projeto neoliberal, que já provou ser ineficiente nos setores essenciais da economia nacional. Os nossos governantes pensaram logo que com as dificuldades do estado de gerir a coisa pública, essa iniciativa poderia ser exercida pelos investimentos privados; mas os investidores, em sua maioria estrangeiros, não investiriam a longo prazo, mas sim para ter o maior lucro no menor tempo possível e com financiamentos estatais, como do BNDES que financia as empresas estrangeiras nas privatizações das estatais brasileiras”; explicou Urbano Vale.

Sobre o racionamento de energia elétrica, que poderá acontecer, segundo o Ilumina (ONG ligada à área de energia), é culpa da falta de investimentos, principalmente na área de transmissão de energia, uma vez que as regiões norte e sul do país estão com excesso de energia, enquanto o maior problema é das outras três regiões.

A falta de linhas de transmissão para as regiões sudeste, centro-oeste e nordeste faz com que a energia armazenada não possa ser transpostada para as localidades carentes. A solução da utilização das termoelétricas para gerar energia, além de ser mais cara, é também bem mais poluente.

Segundo os dados da Ilumina, as privatizações no Brasil foram feitas de forma contrária, ou seja, privatizaram primeiro as distribuidoras de energia em cerca de 80% do total e não foram feitos investimentos de infra-estrutura nas geradoras que ainda são estatais. Com a venda das distribuidoras, foi natural o crescimento da demanda por energia elétrica e como não aconteceram investimentos no setor de geração e transmissão, está faltando energia e será necessário um racionamento daqui a algum tempo.


Aumentos exorbitantes e ganhos recordes

Outro fator observado pelos estudos da Ilumina é o aumento exorbitante das tarifas para o consumidor, já que a maioria das empresas dolarizou suas tarifas. De 1990 até 2000, o aumento das tarifas médias de energia elétrica, que no início estava em torno de R$ 54/MHW, cresceu mais de 140%.

Os setores que mais foram penalizados com aumento foram os serviços residenciais e do comércio que pagaram um certo subsídio ao setor industrial. Outro fato que mostra que não está havendo fiscalização da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) é que a tarifa média de fornecimento para o consumidor é hoje de duas vezes e meia a tarifa média de suprimento que as distribuidoras pagam às geradoras, o que na verdade mostra um recorde de margem de lucro.