Rio vítima do cinismo da ONU

Registro aqui a minha perplexidade ao ler uma notícia divulgada aos quatros ventos em todos os jornais do Rio sobre o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por Otaviano C. Oliveira.

Rio vítima do cinismo da ONU

Por: Otaviano C. Oliveira

Registro aqui a minha perplexidade ao ler uma notícia divulgada aos quatros ventos em todos os jornais do Rio sobre o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) feito em parceria entre a poderosa ONU, o IPEA e a Prefeitura quando enumera 161 bairros do município e faz comparações com países da Europa (bairros mais ricos) e outros da África e América Central (os mais pobres), chegando a afirmar que existe 1 século de diferença entre o primeiro e o último do ranking.

É muito grande e oportuna ousadia dos donos do capital, da grande mídia burguesa e complacente. São índices que deveriam causar repúdio e náuseas em qualquer um acessível a tal informação, mas ao contrário, o fato se transforma em corriqueiro, sensacionalista e alvo de piadas, que é a verdadeira intenção desses. Mais uma jogada da classe dominante internacional.

Mas, o que haveria por trás de tal fato e ato?

Por que ser o Rio escolhido para tal pesquisa de nível internacional?

Por que a exposição humilhante dos bairros que “seguram a lanterna”?

Como devem estar se sentindo e pensando os humanos da Lagoa em relação aos de Santa Cruz e vice-versa?

Quem é que não sabia dessas defasagens? Só a ONU, o IPEA e a prefeitura?

Sabemos que a lógica suja do capitalismo é essa. Foram nestas condições que o sistema nasceu e cresceu, ou seja, com estes antagonismos: rico e pobre, patrão e operário, polícia e ladrão, etc. Então para a ONU , uma das representantes do sistema, desenvolvimento humano é o mesmo que financeiro: injeta dinheiro para as classes ricas e extrai dignidade das camadas de pouco ou nenhum poder aquisitivo. E hoje divulga soberana, assumida e sensacionalmente tal matéria, tal informação.

Cinicamente a ONU conclui que é a prefeitura quem “administra mal seus recursos” e que em relação aos problemas sociais “...muitas vezes a questão é a falta de organização e articulação das famílias e comunidades”. Quer dizer, o Estado que devia tratar do bem-estar social, pois cobra todos os impostos possíveis e mais alguns, diz que todos devemos nos virar, pois somos os culpados das injustiças sociais. Se o Estado não tem recursos, por que admite a onda neoliberal? Porque, respondo, seus administradores são burgueses, neoliberais e levam vantagem com as desvantagens de uns.

Interessante e contraditório é que o mesmo sistema que impediu os partidos comunistas de se manifestarem, que desarticulou os movimentos sindicais, que torturou, matou e exilou pessoas que tentaram um modo alternativo de vida, que massacra os sem-terra e os sem-teto, repentinamente vem dizendo que as comunidades e famílias devem se articular.

Pois saibam eles que mesmo com a miséria material que nos impõe, nós estamos nos organizando sim, nosso índice de humanidade é alto, nossa estima está valorizada e que será do fim da fila, do final da lista deles que se erguerão grandes movimentos que vão desfazer a ironia e a prepotência dos que se acham donos do mundo.

Fim para o neoliberalismo!