Only You (Somente você)

A peça provoca nossos sentimentos mais íntimos e vasculha nosso passado de lutas, de espera, de atitudes mais verdadeiras, uma esperança para quem quer reviver apesar de tudo.

Only You (Somente você)

Por: RN

“Há de haver no mundo certa quantidade de decoro, como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros que têm em si o decoro de muitos homens. Estes são os que se rebelam com força terrível contra os que roubam aos povos sua liberdade, que é roubar-lhes seu decoro. Nesses homens vão milhares de homens, vai um povo inteiro, vai a dignidade humana...”
(José Martí)”.

 
RIO DE JANEIRO - A princípio o espectador tem a sensação de tratar-se de uma história simples: romântica como a canção...
Autor insatisfeito com seu trabalho, numa noite de festa, após um pileque, encontra uma garota e entrega-se, revelando alguns segredos de sua vida profissional, convidando-a para trabalhar com ele em peça que seria escrita em um ano, e não cumpre o prometido, gerando desentendimentos, mas a autora não perdoa o próprio autor e provoca uma ressaca no porre de uma vida inteira, e o passado vem à tona carregado de amarguras, com o peso dos anos de chumbo, anos onde a ditadura fez estragos, ditou regras e vítimas. “Todos nós”, porque estamos lá de alguma forma dançando aquele “Only You”, texto que Consuelo de Castro nos oferece, sacralizado no teatro, apesar do pesadelo nos perseguir a todo momento, porque vivemos uma economia instável (ler “Horror Econômico”, de Vivianne Forrester e “Crise na Ásia”, de Aluísio P. Beviláqua), amor instável (desesperançoso), e a vontade louca de sair por aí “sem lenço, sem documento”, como na canção de Caetano.
A peça provoca nossos sentimentos mais íntimos e vasculha nosso passado de lutas, de espera, de atitudes mais verdadeiras, uma esperança para quem quer reviver apesar de tudo.
Os atores, Celso Frateschi e Rose Abdallah, apresentam trabalho impecável, envolvendo-nos na história do começo ao fim, no belo jogo proposto pela autora e direção/José Renato, oscilando entre a realidade e a ficção, em clima de suspense, pois tudo é velado por trás da lembrança que nos trai e que é colocada em cheque, desnudando-se.
Vale ainda ressaltar o belo cenário de J. C Serrone, a luz de Guilherme Bonfanti, a trilha sonora de Tunika e os figurinos de Clô Orosco que envolve todo esse trabalho mágico, não percam.

De quinta a sábado, às 21h - domingo, às 19h, no Teatro Bela Vista.