Os comunistas revolucionários e as eleições burguesas
As eleições burguesas aos poucos vão tomando conta da cena política nacional. Em todos os municípios, as campanhas para prefeitos e vereadores estão nas ruas e nos muros das cidades; a atmosfera eleitoral é crescente. Os candidatos dos partidos burgueses, como sempre, estão a pedir votos e a prometer emprego, segurança, moradia, escola, saúde - o posto médico, a bica d'água, o esgoto sanitário, a coleta de lixo, o asfalto etc, para os que durante todo este tempo foram abandonados e tratados como lixo... Os candidatos dos partidos de oposição, embora discursem sobre o abandono das populações, dos bairros, favelas e outros ambientes proletários, e culpem o governo, acabam também por oferecerem um mundo de mentiras para as massas, ao afirmarem que eleitos mudarão a situação; os que ousam falar a verdade - que nada poderão fazer a não ser denunciar ou redistribuir os recursos do município invertendo a ordem de prioridades - acabam por não se elegerem. Assim, as massas participam das eleições, em sua imensa maioria, não porque acreditam numa mudança política geral, mas porque poderão negociar seu voto e de seus familiares (numa relação de troca) por algum benefício particular e concreto. Os que votam por ideologia conscientemente (esquerda, direita, religião), acreditando em uma mudança geral, são cada vez mais escassos.
É importante insistir neste problema porque se tratando de um fenômeno político regular, sobre a democracia burguesa, que mobiliza a massa de milhões de trabalhadores e a opinião pública nacional, não se pode deixar de participar e de levar nossas idéias a um número muito maior de pessoas. E esta participação é tão mais necessária quanto mais se constata o papel estratégico das eleições burguesas no sistema de domínio político da burguesia sobre o proletariado, e quanto mais se comprova que a maioria do povo está sob o domínio das idéias da classe burguesa, do papel e importância do processo eleitoral (expresso na mercantilização do voto) para o sistema. Ora, aqui o fato da massa não acreditar em mudança através do processo eleitoral em nada muda o papel e a importância objetiva que ela desempenha na legitimidade e legalidade do sistema, pois ao final de cada processo eleitoral, os votos recebidos por um candidato o qualificam ou não para uma função parlamentar ou executiva definida, constitucionalmente, e qualificado (eleito) concentrará os poderes atinentes às suas funções constitucionais. Assim, o sistema de poder (domínio) se revitaliza a cada processo eleitoral, dando legitimidade e legalidade para o domínio e a exploração capitalista sobre os trabalhadores.
É importante alertar aos trabalhadores que no processo eleitoral burguês, cada voto que se dá a um candidato, independente da idéia que fazemos da importância do voto, transfere nosso poder de decidir sobre qualquer problema a nível municipal, estadual ou nacional, para aquela pessoa em quem se votou. É assim que um vereador, deputado, senador e prefeito, governador ou presidente da República passa a concentrar poder de decisão e se toma uma autoridade legal e legitimamente constituída. Se alguém não acredita nas eleições e por isso dá seu voto em troca de uma banana ou de um cheque sem fundo, essa pessoa, independente do que pensa, além de entregar seu poder de decisão a outrem, contribuiu também para constituir uma autoridade política no âmbito municipal, estadual ou nacional, parlamentar ou executiva, a qual terá que se submeter após o processo eleitoral, pois, do ponto de vista constitucional burguês, quem recebeu voto recebe poder. Na legislação eleitoral burguesa, o princípio eletivo do sistema representativo (democracia burguesa) é o voto individual que constitui os senhores todos poderosos como ACM, FHC, MT e etc. Portanto, nossa primeira tarefa no processo eleitoral é travar a luta ideológica e desmistificar este complexo sistema de domínio de classe. E isto significa dizer: participar do processo eleitoral e explicar de forma simples esta teia complexa e ardilosa da classe dominante para submeter a classe operária e as massas trabalhadoras à sua exploração e poder.
Neste aspecto, o primeiro passo é definir a tática eleitoral e planejar a atuação. Aqui não se pode ter dúvida, a vacilação política em tais processos cobra sempre um preço muito alto aos revolucionários. Naturalmente, estamos falando da idéia que volta e meia surge, como se fosse a quinta essência revolucionária, do boicote às eleições burguesas. Nela está sempre a tentativa de copiar a tática bolchevique adotada pelos revolucionários russos durante o processo da revolução democrático-burguesa de 1905. Ali a posição defendida por Lênin, de boicote à eleição para Duma, era a forma de neutralizar a manobra tática da autocracia tsarista - de criação da Duma de Estado -para esvaziar o processo revolucionário, isolar os bolcheviques e sufocar a revolução, após a derrota da insurreição de dezembro. O boicote defendido pelos bolcheviques era a tentativa de manter o espírito revolucionário das massas, a correlação de forças e acumular para uma nova tentativa insurrecional. E foi graças a esta tática do boicote dos bolcheviques que o proletariado desfigurou o sistema autocrático, conquistou liberdades democráticas, e se levantou contra a autocracia a cada tentativa de retira-lhe esta conquista. Mas, o que foi verdadeiro para aquele momento não foi verdadeiro para as eleições seguintes da Duma, pois nesta outra conjuntura a luta revolucionária estava em baixa e o espaço eleitoral da Duma se convertia em mais uma frente de atuação revolucionária.
Vimos, pois, que não há termos de comparação entre a realidade brasileira e o momento de ápice de revolução na Rússia em que se deu a defesa de Lênin do boicote às eleições burguesas. Aliás, agora mesmo assistimos no Peru a esquerda reformista e a oposição burguesa defender o boicote eleitoral a Fujimori num momento de baixa da ação revolucionária direta e não se pode confundir isso com proposta revolucionária. Na Venezuela assistimos a um processo inverso. Lá participar das eleições e votar em Hugo Chaves foi um ato revolucionário. Como se vê participar ou não do processo eleitoral é uma questão tática diante de uma situação concreta da correlação de forças. Neste sentido, a questão que se impõe aos comunistas revolucionários brasileiros não é discutir se devem ou não participar das eleições, mas, sobretudo, a qualidade dessa participação: se nós devemos ou não participar com candidatos próprios; qual o eixo da campanha de agitação e propaganda; e como devemos nos organizar Já afirmamos acima que, a primeira questão que deve nortear nossa participação nesta campanha eleitoral é desmistificar a idéia da redução do voto a um ato meramente mercantilista. Nossa atuação, portanto, é por mais paradoxal que pareça politizar as eleições burguesas. É nosso dever mostrar às massas qual o real significado do voto dentro do sistema de domínio da burguesia (o sistema democrático burguês). Explicar às amplas massas as limitações da atuação revolucionária no parlamento e no governo para que se possa mudar, radicalmente, sua situação de penúria, miséria e exploração. E que o mais que se pode fazer é usar o mandato parlamentar para apoiar as verdadeiras lutas da classe operária; ajudar a educação das massas para o exercício direto do poder revolucionário; usar a tribuna para denunciar as atrocidades contra os trabalhadores e para propagandear as idéias da revolução socialista; e fornecer infra-estrutura ao movimento revolucionário.
Portanto, devemos reiterar a todos que nossa participação nessas eleições é para mostrar ao povo que somente a revolução poderá mudar radicalmente a situação de miséria e exploração. E, nesse sentido, a campanha deve servir de instrumento para organizar comitês de luta contra o neoliberalismo, ou seja, contra a política econômica do governo e das oligarquias burguesas que comandam o país. Portanto, mais que um comitê de campanha para cabalarem de votos devemos lutar para constituir comitês de luta contra o neoliberalismo em que trabalhadores e cidadãos se concentrem, discutam suas idéias e, organizadamente, desenvolvam a propaganda e a agitação em favor de nosso programa revolucionário e de nossos candidatos. Lutar pela eleição de nossos candidatos é lutar para constituir uma infra-estrutura legal e legítima para os comitês de luta contra o neoliberalismo. Este processo, além de fortalecer as idéias revolucionárias, fortalecerá também uma base revolucionária de massas cujo objetivo é lutar pelo poder político de fato da sociedade. Aqui é necessário ter claro que o nosso programa revolucionário - Contra a fome, o desemprego, e falta de moradia - se apoia no programa mínimo formulado por LUIZ CARLOS PRESTES e se constitui no eixo de sustentação dos Comitês e das candidaturas. Portanto, nossos princípios para apoiar ou indicar candidatos são: a) compromisso com o nosso programa contra o neoliberalismo; b) compromisso material e político com os Comitês de Luta; e c) apoio ao Congresso Contra o neoliberalismo. Naturalmente não se fará a revolução no processo eleitoral, mas podemos utilizá-lo a favor da classe operária.
Camaradas, já não há mais tempo para debates estéreis, as eleições estão aí e nossa tarefa agora é dirigir o trabalho e a organização para atuar na mesma. Sendo assim devemos:
a) Avançar na definição dos candidatos em todos os estados e municípios em que isso seja possível.
b) Organizar os Comitê de Luta Contra o Neoliberalismo nos mais variados locais de trabalho eleitoral.
c) Preparar e iniciar a propaganda revolucionária tendo por eixo a politização das eleições e o programa revolucionário!
Todo nosso pesar e solidariedade aos revolucionários de Friburgo, que como nós todos do Partido Comunista Marxista-Leninista perdemos a presença inestimável do Camarada de luta e combatente militante Ney Costa; igualmente, este pesar se estende aos camaradas de São Paulo, em função de nosso camarada e militante; Hugo Maia. Mas nesta perpétua vira-gem das gerações, dialética irrefutável da vida nà história, continuaremos construindo o futuro socialista da humanidade, formando os novos quadros nos ensinamentos desses heróis imorredouros do proletariado em nossas fileiras. Que aqui se registre todo nosso orgulho de contar com camaradas da estatura histórica de Delci Silveira - herói da Guerra Civil Espanhola, revolucionário brasileiro e membro do Partido Comunista Marxista-Leninista! Viva a Revolução Brasileira!
(inverta - Jornal Pra Verdade!)