Temporais e enchentes assolam estado do RJ
Os temporais que caem anos após anos no Rio de janeiro são impiedosos, alagando e arrastando tudo o que encontra pela frente. Foi assim em 2020, 21, 22, 23, 24, 25 … e continuará, se não forem revistas as atitudes em relação à natureza dos seres humanos, sua forma de habitar o planeta e produzir os elementos necessários à sua existência.
O temporal, que caiu em diversos municípios da Baixada Fluminense-RJ, em 29 de Janeiro de 2025, e também no município do Rio de Janeiro, foi implacável e deixou diversos bairros imersos. A cidade de Nova Iguaçu praticamente parou, o bairro de Comendador Soares, por onde corta o Rio Botas, mais uma vez, sentiu os danos da chuva, o trânsito e o comércio pararam por horas.
Moradores de diversas comunidades, como a de Canaã, Santa Eugênia, do centro da cidade lamentaram: “Não aguentamos mais essa situação, todo ano perdemos aquilo que levamos anos para conseguir: geladeira, televisão, cama, colchão, sofá, etc. E às vezes perdemos até nossos entes queridos”, declarou Nete, moradora há anos no bairro Canaã. Os comerciantes locais também reclamaram do prejuízo.
No bairro Kennedy, também em Nova Iguaçu-RJ, os moradores também atravessam os mesmos problemas causados pelas enchentes e desabafam: “é insuportável essa situação, pois além de tirar toda a lama e perdermos nossos móveis, corremos o risco de pegar doenças como a leptospirose. Todo ano, nas enchentes, o poder público aparece dizendo que vai resolver o problema, mas são apenas promessas, estamos cansados”, denunciou a Sra Alves, moradora do bairro.
Como se não bastassem os problemas sociais, a carestia, o desemprego, a violência, etc, a população carente paga também o preço da violência da natureza contra os desmandos da espécie humana, que se verifica no descaso do poder público, pela falta de saneamento básico, esgoto adequado, a dragagem dos rios, as alterações climáticas; ocupação indevida em torno dos rios, realizada devido a falta de politicas públicas de moradias dignas para a população, além da falta de educação ambiental e da corrupção inerente ao capitalismo, e que atinge várias esferas.
A cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, e a Baixada Fluminense, na região metropolitana, são as áreas do estado com maiores riscos de alagamentos provocados por temporais segundo alerta o professor Paulo Canedo, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) à imprensa. Petrópolis tem um histórico de tragédias causadas pela chuva, como a que deixou mais de 230 mortos em fevereiro de 2022 e que em 2011, matou mais de 900 pessoas, com 99 pessoas desaparecidas até hoje.
Três rios correm para o centro da cidade, alerta o professor Canedo: “dos três, somente um corre, mais ou menos, dentro da sua calha normal, é o rio que aguenta um extravasamento, o Piabanha. Os rios Quitandinha e Palatinato não aguentam, extravasam com facilidade, mesmo com chuvas não muito grandes”, explica o especialista em gestão de recursos hídricos. Ele ressalta que o Palatinato recebeu um desvio que funciona como uma proteção contra transbordamentos, no entanto, ainda não de forma totalmente adequada: “está protegido com alguma dificuldade porque a proteção não está completa”, lamenta. O Quitandinha é considerado o pior de todos, de acordo com Canedo, pois transborda com facilidade em quase toda a extensão. Ele passa por uma das principais áreas do município. Os três rios chegam no mesmo ponto.
O professor também aponta a Baixada Fluminense como preocupante, uma vez que a região possui os rios Iguaçu e Sarapuí como principais causadores de enchentes. Uma das características geográficas da região é ter enormes áreas de alagamentos, atingindo diversos bairros.
Paulo Canedo é um dos autores do Projeto Iguaçu, elaborado entres os anos de 2005 e 2006 pela Coppe-RJ em cooperação com o governo fluminense, para solucionar o problema das enchentes na região.
Ele explica que a estrutura de proteção contra cheias, formada por diques e bombas, mitigaram o problema por anos, mas deixaram de receber manutenção a partir de 2015.
“Criou-se uma infraestrutura de proteção que era efetiva, protegia a região. Parou de proteger porque não teve manutenção”. Canedo explica que a região tem a presença de diques, que formam pôlderes (uma porção de terrenos baixos, planos e alagáveis), que sofrem uma influência do mar muito grande. Assim, “mesmo que não tenha chuva forte, ele tende a inundar, porque a água do mar volta. Para que isso seja evitado, constrói-se um dique que impeça a água do mar de invadir regiões onde tenha gente morando”, explica Canedo.
O pesquisador acrescenta que o mesmo dique que impede a água de subir, também impede a água da chuva que vem pelo continente seguir para o mar. “Esse dique deve ter comportas que só permitem fluxo em um sentido, descem a água. Essas comportas precisam de limpeza, manutenção”. Ele lembra que na chuva do começo deste ano, esse sistema não funcionou para evitar inundações.
Outra apreensão levantada pelo pesquisador da Coppe é a que envolve o rio Acari, que nasce em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro e segue até o limite com Duque de Caxias, já na Baixada, onde deságua no rio Meriti, que chega à Baía de Guanabara: “vem passando por regiões pobres e com ocupação desordenada. É um rio com margens muito habitadas, precisando de obras grandes. Está com certa dificuldade na foz, são assoreamentos que precisam ser corrigidos. Precisa de uma limpeza forte do leito do rio”.
O professor estima que a extensão da área necessitada de dragagem chega a 3 quilômetros. Apesar de o problema principal ser no fim do rio, Canedo faz uma analogia para explicar que as consequências são percebidas ainda na zona oeste carioca: “Se o ralo está entupido, que é a saída do rio, a água em cima não desce”.
As autoridades meteorológicas recomendam que a população fique atenta aos comunicados oficiais e evite transitar por áreas de risco durante as chuvas intensas.
Em relação à crise climática, o cientista político, Aluisio Bevilaqua, autor de Alterações Climáticas e Globalização Neoliberal em sua obra aborda como é alarmante para a parte consciente da humanidade os dados sobre as alterações no clima do planeta, como “o aquecimento global, o derretimento das calotas polares e geleiras, o aumento do nível do mar e a expansão dos oceanos, o comprometimento de mananciais de água, a ameaça ao fluxo das correntes marinhas, exacerbação dos fenômenos climáticos e geológicos (tufões, ciclones, erupções vulcânicas, desertificações)”. Dr Bevilaqua acrescenta que esses fenômenos representem “a extinção das espécies de vida animal e vegetal, em síntese, a vida no planeta”, o que leva a comunidade científica a identificar a Crise Ambiental como um resultado “da ação humana sobre o meio ambiente, e não como mudança natural”, enfatiza o autor que também alerta sobre a necessidade reverter as alterações climáticas, ao mudar de sistema, o principal fator das crises climáticas e da crise ambiental, do modo de produção capitalista para um novo modo de produção, o socialista.
Osmarina Portal
Fonte: Agência Brasil, G1, Portal c3 e Alterações Climáticas e Globalização Neoliberal.
