Exploração e concentração de riqueza
A classe operária foi jogada ao fundo do poço. Fomos reduzidos a nada, piores ou medianamente vestidos de acordo com a ordem do patrão. A degradação moral, brutalização, miséria e escravatura estão relacionadas diretamente à extrema acumulação de riqueza pela classe burguesa em seu conjunto. Em 2 anos de governo Lula, a riqueza acumulada no país, medida pelo PIB (Produto Interno Bruto), cresceu cerca de 5,7% e nos 8 anos do governo FHC um crescimento de pouco mais de 27%; totalizando um crescimento de riqueza em torno de 34% nos últimos 10 anos. Qual foi a nossa fatia do bolo?
De acordo com o Censo de 2000, dos 160 milhões de brasileiros apenas 1 milhão de famílias eram riquíssimas, com rendimentos individuais acima de 22 mil reais, 100 vezes o salário mínimo de então. Os 10% mais ricos abocanhavam, em 2001, três quartos de toda a riqueza nacional, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esta concentração de riqueza, segundo o ex-diretor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, Marcio Pochmann, é “superior ao verificado em fins do século XIX”. Em outras palavras, aqueles que produzem toda a riqueza social da República burguesa do Brasil são mais explorados e estão mais pobres que os escravos nos tempos da Monarquia escravista!
Apesar do aumento quantitativo da massa operária nos últimos 10 anos representar um incremento de 23% e da economia do país crescer em 34%, o arrocho salarial e desemprego fizeram a participação da massa salarial despencar para menos de um terço (31,1%) do total da renda nacional. Antes da ditadura militar, quando o movimento grevista estava em ascensão, os salários representavam mais da metade (55,5%) dos rendimentos. Hoje, com o sindicalismo amarelo, 32% da população trabalhadora (22 milhões de proletários) estão recebendo até 1 Salário Mínimo e outros 30% (21 milhões), entre 1 e 2 Salários Mínimos, segundo o PNAD do ano 1 do governo Lula. A taxa de desemprego em São Paulo está na casa dos 17,1%; são mais de 1,7 milhões de desempregados procurando um lugar no mercado de trabalho na capital.
O que que o governo Lula vem fazendo para reverter este trágico espetáculo de arrocho salarial? Nada, absolutamente nada. Ao contrário, suas reformas a la política neoliberal de FHC vêm agravando a concentração de riquezas no país às custas de mais espoliação da classe operária, classe de onde originou e se afastou no ritmo em que foi subindo nas paradas da burguesia. As perdas salariais desde aquela pesquisa do PNAD em 2001 alcançaram a casa dos 21%, sendo que um terço disso (8%) foi no governo Lula. Mas, não é só isso, a carga tributária para a manutenção da máquina burocrático-militar burguesa aumentou 22% nos últimos 4 anos, sendo 14% só com o trio parada dura Lula/ Palocci/FMI.
Mesmo com o evidente aumento da miséria e privação em meio a superabundância de mercadorias e riquezas, governo, sindicalistas e jornalistas estão divulgando aos quatro cantos que houve ganho real nos salários na maioria das bases sindicais e particularmente sobre o salário mínimo. O espetáculo dos aumentos salariais se baseia numa recente pesquisa divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio- Econômicos), onde a maioria dos 658 acordos coletivos do ano passado acompanhados pelo instituto tiveram ganhos reais de até 4%. Mas o próprio Dieese afirma em sua pesquisa que “o painel de informações utilizado não permite extrapolações para além do conjunto exposto neste trabalho (a sua pesquisa), dado que não se trata de amostra estatística”, uma vez que a grande maioria dos dissídios, particularmente dos trabalhadores das médias e pequenas empresas, não são “enxergados”. Segundo o Dieese, o novo salário mínimo de R$ 300,00 não representa a metade daquele de 1940. Além disso, se a massa salarial cresceu 2,15% no ano passado, como afirmam alguns, o Imposto de Renda Retido na Fonte cresceu 12%, devido a não atualização da tabela do Leão naquele ano. O ganho saiu pela culatra.
Os trabalhadores submetidos à economia informal correspondem a cerca de 60% do mercado capitalista de trabalho, mas estes estão fora de qualquer estatística e registro oficial. Não se sabe o grau de rotatividade destes trabalhadores no mercado de trabalho, tampouco se sabe quantos são acidentados ou mortos durante a sua longa jornada. Mas, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, no ano 2 do governo Lula, mais de um terço da força de trabalho com carteira assinada foi obrigada a mudar de emprego por força da ditadura do patrão, deteriorando a sua condição de trabalho e salário. Nos dois anos do governo Lula, segundo ainda o MTE, metade de toda a força de trabalho teve que mudar de emprego por causa da rotatividade imposta pelo capital. A pressão e a intensificação do ritmo do trabalho sobre os trabalhadores com carteira assinada podem ser medidos, em certo sentido, pelo número de acidentes no trabalho oficial: no 1° ano do governo Lula (ainda não foram totalizados os números de 2004), foram registrados 390.180 acidentes, sendo 2.582 fatais, praticamente o mesmo massacre do último ano do governo neoliberal de FHC, que foi recorde.
Trabalhamos como nunca, seguramos o rojão, mas não conseguimos mais alimentar nossos filhos. O novo sindicalismo amarelo, cheio de pelegos e carreiristas alimentados pela traição, abandonou a luta por aumentos salariais e melhores condições de trabalho para negociar o nosso sangue no balcão de negociações do patrão. O governo de traição de Lula, com seus picaretas, se colocou de joelhos e implementa reformas que servem às oligarquias dominantes, como secularmente vem fazendo os burocratas deste país. É chegada a hora de abraçarmos a causa maior pela nossa emancipação: a Revolução Socialista, única forma de derrubarmos a secular estrutura de opressão e exploração em nosso país.
José Tafarel